Mike Portnoy não gravava um álbum com o Dream Theater havia 16 anos, desde Black Clouds & Silver Linings (2009). Co-fundador da banda ao lado de John Petrucci e John Myung, Portnoy deixou o quinteto de forma surpreendente em setembro de 2010. Desde então, formou e integrou diversas bandas e projetos (Adrenaline Mob, Flying Colors, The Winery Dogs, Sons of Apollo), explorou novas sonoridades e expandiu ainda mais sua já lendária reputação, consolidando-se como um dos maiores bateristas da história do rock.
O Dream Theater, por sua vez, encontrou em Mike Mangini um substituto à altura. O músico, que já havia tocado e gravado com bandas e músicos como Annihilator, Extreme, Steve Vai e inúmeros outros, viu no Dream Theater o veículo ideal para sua técnica exuberante. Durante mais de uma década no grupo, gravou cinco álbuns que mantiveram a banda relevante e deram uma projeção individual inédita ao seu nome.
Agora, Parasomnia marca um novo capítulo para o Dream Theater. Lançado em 7 de fevereiro de 2025, o disco celebra o retorno de Mike Portnoy à banda. Conceitual, o álbum explora os diferentes tipos de parassonias — comportamentos indesejados que ocorrem durante o sono e variam em gravidade — abordando desde o terror noturno (episódios de pânico e agitação durante o sono) até a paralisia do sono (estado em que a pessoa não consegue se mover ou falar durante a transição entre o sono e a vigília, frequentemente resultando em uma experiência assustadora e traumática).
Com oito faixas e mais de 70 minutos de duração, Parasomnia traz o Dream Theater fazendo o que sempre fez de melhor: metal progressivo refinado e altamente técnico, com performances instrumentais intrincadas e primorosas. James LaBrie, frequentemente apontado como o elo mais fraco do grupo, há tempos superou os problemas vocais que afetaram suas performances nas décadas de 1990 e 2000. Aqui, ele canta magnificamente bem — como já vem fazendo há anos, vale destacar. A produção, assinada por John Petrucci e mixada por Andy Sneap, entrega timbres pesados e uma sonoridade cristalina e imponente.
A impactante capa, que traduz com perfeição o conceito do álbum, foi criada por Hugh Syme, renomado designer canadense que já trabalhou com o Dream Theater nos álbuns Octavarium (2005), Black Clouds & Silver Linings (2009), Distance Over Time (2019) e A View from the Top of the World (2021). A arte também estabelece uma conexão sutil com a capa do clássico Images and Words (1992), como se a menina retratada no segundo álbum da banda tivesse crescido e se transformado na jovem mulher que ilustra Parasomnia.
Como todo álbum do Dream Theater, Parasomnia é complexo e ambicioso — características inerentes ao metal progressivo. Sua assimilação demanda algumas audições, um processo essencial para captar sua proposta e nuances. Diferente do impacto imediato de clássicos como Images and Words (1992), Awake (1994), Metropolis Pt. 2: Scenes From a Memory (1999) e Train of Thought (2003), o novo álbum se aproxima mais da abordagem de Falling Into Infinity (1997), Six Degrees of Inner Turbulence (2002) e Dream Theater (2013), que exigem um tempo maior para serem absorvidos por completo. As composições são densas e refletem a atmosfera sombria do tema central.
Paradoxalmente, a música que mais impressiona de imediato em Parasomnia é justamente a mais longa do disco. Com quase 20 minutos de duração, "The Shadow Man Incident" é uma composição excepcional, repleta de mudanças de andamento e com a banda em seu ápice técnico. Mike Portnoy brilha intensamente, com viradas espetaculares e ritmos complexos, enquanto John Petrucci entrega solos brilhantes e um dos riffs mais pesados do álbum.
"Night Terror" segue uma linha mais melódica, mas ainda remete ao passado da banda em certos momentos. Já "A Broken Man" destaca uma das melhores interpretações de James LaBrie, com um baixo técnico e preciso de John Myung. "Dead Asleep" traz um riff cativante e uma letra que fala sobre um homem que matou a esposa acidentalmente durante o sono. Tanto lírica quanto musicalmente, trata-se de uma das composições mais fortes do disco. "Midnight Messiah" se sobressai como a faixa mais pesada do disco, com elementos que remetem a Judas Priest e Metallica e, em um bem-vindo fan service, referências a duas músicas de Metropolis Pt. 2: Scenes From a Memory: "Strange Déjà Vu" e "Home". A balada "Bend the Clock" também merece menção, trazendo belas melodias na tradição das grandes canções do estilo que a banda gravou ao longo dos anos.
Vencida a barreira inicial e as expectativas altíssimas com o retorno de Portnoy, Parasomnia revela-se um trabalho coeso e poderoso. Embora dialogue com os últimos álbuns gravados com o baterista, como Systematic Chaos (2007) e Black Clouds & Silver Linings (2009), o disco soa mais equilibrado, incorporando elementos da fase contemporânea do Dream Theater, explorados em Dream Theater (2013) e Distance Over Time (2019). No geral, é um dos álbuns mais pesados da carreira da banda, ficando atrás apenas de Train of Thought (2003) nesse quesito. A exuberância e criatividade percussiva de Portnoy contrastam com a precisão técnica de Mangini e conduzem a banda em uma direção que deve agradar aos fãs da sonoridade clássica do grupo. Como de costume, John Petrucci brilha, enquanto Jordan Rudess soa um tanto discreto nas composições. Outro destaque são os vocais de James LaBrie, que entrega uma de suas melhores performances.
Parasomnia faz jus ao legado do Dream Theater e reafirma a posição da banda como o maior e mais importante nome da história do prog metal, trazendo de volta um dos grandes responsáveis por esse status: o lendário Mike Portnoy.
A edição nacional foi lançada pela Valhall Music em duas versões: digipack e slipcase em formato box, ambas acompanhadas de um encarte de 24 páginas repleto de letras e ilustrações que intensificam ainda mais a imersão na proposta do disco.
Acorde — e não perca um dos grandes álbuns de 2025.
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