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A Lua e a Serpente – Almanaque de Magia, de Alan Moore & Steve Moore (2025, Devir)


Alan Moore nunca foi um autor convencional. Reconhecido mundialmente por obras que redefiniram os quadrinhos como Watchmen, Do Inferno e A Liga Extraordinária, Moore é também um praticante confesso de magia há quase três décadas. Com A Lua e a Serpente – Almanaque de Magia, o autor britânico une sua genialidade literária com sua devoção ao ocultismo em uma obra singular, complexa e desafiadora.

Concebido em parceria com seu amigo de longa data, o roteirista e ocultista Steve Moore (falecido em 2014), o livro é mais do que um almanaque: é uma celebração da magia enquanto linguagem, arte, história, experiência e transformação. O título remete à fictícia Ordem da Lua e da Serpente, uma espécie de metáfora viva para o modo como os autores compreendem a prática mágica – como uma forma radical de imaginação e criação.

O conteúdo é tão variado quanto fascinante. Há ensaios que investigam a história da magia em diferentes tradições culturais; há quadrinhos com temas esotéricos ilustrados por artistas como Kevin O’Neill e John Coulthart; há peças teatrais que funcionam como rituais simbólicos; há poemas, parábolas, mapas, diagramas e reflexões sobre tarot, alquimia e cabala. Tudo isso é costurado por um fio narrativo que convida o leitor a mergulhar não apenas no conteúdo, mas no ritual da leitura. O livro exige atenção e entrega. Não é um manual de iniciação, mas uma experiência imersiva que mistura erudição, humor, arte e delírio criativo.

Visualmente, a edição da Devir é impecável: capa dura, sobrecapa, 352 páginas, papel couchê de alta gramatura e um formato grande que valoriza as ilustrações e o design gráfico sofisticado. A tradução cuida tanto dos termos técnicos quanto do tom quase litúrgico dos textos, respeitando o ritmo e o estilo de Moore, que por vezes soa como um profeta psicodélico ou um bardo do caos.

Para quem acompanha apenas o Alan Moore quadrinista, A Lua e a Serpente pode parecer um desvio. Mas a verdade é que este livro aprofunda algo que sempre esteve presente em sua obra: a crença no poder transformador das histórias, nos símbolos como pontes entre mundos e no artista como um canal entre realidade e mito.

A Lua e a Serpente – Almanaque da Magia é uma obra provocativa, rica e inesquecível. Um grimório moderno feito de ideias, narrativas e imagens, que trata a magia não como superstição, mas como arte maior. É leitura obrigatória para quem deseja conhecer a face mais profunda – e talvez mais verdadeira – de Alan Moore.

Prepare-se para um mergulho no invisível. Porque aqui, magia e linguagem são a mesma coisa.


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