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Helloween reafirma seu legado e surpreende com um álbum sólido e inspirado em Giants & Monsters (2025)


Vamos ser sinceros: a reunião do Helloween, anunciada em 2016, tem muito mais impacto e importância enquanto show ao vivo e celebração do legado de uma das maiores bandas de metal da história do que propriamente relevância artística. Isso ficou claro no álbum autointitulado de 2021. Embora não tenha decepcionado, também não foi a oitava maravilha do mundo. E, convenhamos, ninguém espera que o Helloween, em pleno 2025, revolucione o gênero como quando inventou o power metal com Kai Hansen e Michael Kiske, se reinvente como fez com Andi Deris nos anos 1990, ou experimente como em Better Than Raw (1998) e The Dark Ride (2000). Esse tempo já passou, e os próprios fãs não querem novidades – ninguém vai a um show do septeto esperando músicas inéditas, sejamos francos.

Mas aí veio Giants & Monsters, lançado no final de agosto, e a sensação é de surpresa. Talvez o impacto venha justamente da expectativa baixa em torno do segundo álbum de inéditas após a reunião, mas o fato é que o disco soa mais conciso, inspirado e direto do que o antecessor. Se em Helloween (2021) a banda parecia preocupada em agradar a todos os lados da equação, aqui o clima é outro: mais despretensioso, quase como se estivessem tocando apenas para se divertir. E isso faz toda a diferença.

As influências clássicas estão lá: melodias épicas, guitarras gêmeas em alta velocidade, refrões grudentos e aquele equilíbrio entre a grandiosidade do metal tradicional e a pegada quase pop que sempre marcou o Helloween. Mas há também uma pegada mais heavy, mais direta, que remete aos melhores momentos da fase Deris.

“Giants & Monsters” abre o álbum com a grandiloquência típica, soando como uma continuação natural da fase clássica. “Savior of the World” entrega power metal na melhor tradição da banda, enquanto “A Little is a Little Too Much” flerta com o pop e traz um dos refrãos mais marcantes do disco, reforçando uma das principais características desta fase: a alternância entre as vozes de Andi Deris e Michael Kiske — e, em alguns momentos, de Kai Hansen. Já “We Can Be Gods” aposta em uma sonoridade mais contemporânea, mostrando um Helloween atualíssimo em uma das melhores faixas do trabalho.

A contemplativa “Into the Sun” funciona quase como um diálogo com o próprio legado da banda, que tem plena consciência da sua importância para milhões de fãs ao redor do mundo. Não à toa, foi nela que o grupo parece ter apostado suas maiores fichas: a edição nacional em CD, lançada pela Valhall Music, inclui nada menos que três versões alternativas da canção entre as quatro faixas bônus.


O restante do disco mantém a solidez do tracklist. “Universe (Gravity for Hearts)” é outro destaque, com riffs selvagens que remetem aos tempos de Walls of Jericho (1985), mas equilibrados por linhas vocais cheias de melodia — uma canção que deve agradar em cheio quem busca a sonoridade mais clássica do Helloween. Já “Hand of God” é dominada por Andi Deris, que confirma sua posição como o grande maestro desta formação e o maior destaque individual do álbum. O encerramento com “Majestic” é outro ponto alto: uma verdadeira jornada pelas qualidades que definem a banda — primazia instrumental, vocais inspirados, guitarras faiscantes e um clima épico irresistível. Vale ainda mencionar “Out of Control”, faixa bônus que poderia, sem nenhum demérito, figurar no tracklist principal.

O impacto de Giants & Monsters está menos em trazer algo novo e mais em reafirmar que o Helloween ainda tem gás criativo, mesmo depois de quatro décadas de estrada. É um disco que não reinventa a roda, mas que mostra uma banda confortável em sua própria pele, tocando com energia e convicção. Para os fãs, é um presente: mais um punhado de músicas fortes para se somar a um repertório já gigantesco.

No fim das contas, Giants & Monsters cumpre exatamente o papel que um álbum do Helloween em 2025 precisa cumprir: não é uma nova revolução, mas também está longe de ser apenas um passatempo. É o som de uma banda veterana que sabe quem é, sabe o que representa, e que segue escrevendo sua história sem precisar provar mais nada a ninguém.


Comentários

  1. Ouvi uma vez e s primeira impressão foi contrária. Por enquanto gosto mais do anterior. Esse me decepcionou a princípio. Às vezes me parece sem inspiração. Um ponto que observei é que não temos composições assinadas pelo Kirske. E o Deris, apesar de ser um fantástico vocal e compositor, tem uma veia pop. Nenhum problema, mas parece que dessa vez sobressaiu mais. Mas como disse, foi apenas uma audição.

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