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Iron Maiden em Senjutsu (2021): um épico moderno para fãs pacientes


Lançado em 3 de setembro de 2021, Senjutsu é o 17º e mais recente álbum do Iron Maiden e chegou seis anos após The Book of Souls (2015), marcando o maior hiato entre discos na carreira da banda. Gravado em Paris com o produtor Kevin Shirley, o álbum reafirma o momento atual da Donzela: uma fase em que o grupo já não busca mais hits ou relevância em listas de vendas, mas sim explorar sua própria mitologia sonora com liberdade criativa total.

O álbum foi gravado em 2019, mas só viu a luz do dia em plena pandemia de COVID-19, quando o mundo ainda estava isolado. O Maiden conseguiu manter segredo absoluto sobre sua produção, surpreendendo os fãs com um lançamento inesperado, antecipado pelo single “The Writing on the Wall” e seu videoclipe em animação, repleto de referências à cultura japonesa e à própria história da banda.

Musicalmente, Senjutsu se encaixa na fase mais épica e progressiva do Iron Maiden. São mais de 80 minutos de música, distribuídos em dois CDs, onde Steve Harris assume de vez o papel de maestro de longas suítes, enquanto Adrian Smith, Dave Murray e Janick Gers mantêm a tríade de guitarras sempre presente. A sonoridade é marcada por andamentos cadenciados, atmosferas densas e composições que pedem paciência do ouvinte. Bruce Dickinson entrega a excelência habitual nos vocais, e o trabalho acabou se tornando o último com o baterista Nicko McBrain, que deixou o sexteto no final de 2024 por problemas de saúde.


Entre os destaques, a faixa-título abre o disco com peso e dramaticidade, evocando um clima de guerra feudal. “Stratego” resgata o lado mais direto da banda, enquanto “The Writing on the Wall” surpreende com influências de folk e country rock na introdução. Mas é no segundo CD que o álbum revela sua face mais ambiciosa: “Death of the Celts”, “The Parchment” e “Hell on Earth”, todas assinadas por Steve Harris, formam uma trilogia de composições longas, melancólicas e grandiosas, dignas de encerrar a obra com imponência.

Apesar de dividir opiniões — há quem considere Senjutsu longo demais e com poucas músicas realmente memoráveis —, o álbum reforça a identidade atual do Iron Maiden: uma banda de veteranos que não tem pressa em agradar, mas que aposta em construir narrativas musicais extensas, quase cinematográficas. O disco se conecta menos à ideia de clássicos imediatos e mais ao testemunho de uma fase madura e contemplativa, em que a Donzela de Ferro olha para sua história e continua ampliando os limites de sua própria música.

Senjutsu não é um disco fácil. Mas, para quem se permite embarcar em suas longas viagens sonoras, revela-se um trabalho corajoso, desafiador e digno de uma banda que, mesmo após mais de quatro décadas de estrada, ainda se recusa a viver apenas de passado.

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