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Nightwish com Anette Olzon: a fase mais criativa da banda


O Nightwish construiu sua reputação como um dos maiores nomes do metal sinfônico graças a sua capacidade de unir peso, melodias épicas e grandiosidade orquestral. Durante boa parte de sua carreira, os holofotes recaíram sobre a fase com Tarja Turunen, a soprano original, ou sobre a atual etapa ao lado de Floor Jansen. Porém, há um recorte específico na discografia que merece atenção especial: os dois discos gravados com a sueca Anette Olzon — Dark Passion Play (2007) e Imaginaerum (2011). Longe de serem apenas capítulos de transição, esses álbuns podem ser considerados os melhores trabalhos já lançados pelo grupo.

Após a conturbada saída de Tarja em 2005, o Nightwish estava sob intensa pressão: precisavam provar que eram maiores do que uma vocalista icônica. Dark Passion Play nasceu desse contexto, carregado de emoção e urgência. O álbum abre com a monumental “The Poet and the Pendulum”, uma das composições mais ambiciosas de Tuomas Holopainen, que traduz em música a dor e a superação da ruptura.

Anette Olzon, com sua voz mais pop, calorosa e acessível, trouxe ao Nightwish uma nova identidade. Longe do peso operístico de Tarja, sua interpretação permitiu maior versatilidade às canções — indo da delicadeza em “Eva”, ao vigor em “Amaranth” e ao drama em “Bye Bye Beautiful”. O contraste entre sua suavidade e a intensidade instrumental da banda resultou em um frescor criativo que revitalizou o Nightwish.

Musicalmente, Dark Passion Play é uma explosão cinematográfica, com orquestrações grandiosas gravadas em Abbey Road, refrãos cativantes e um equilíbrio entre acessibilidade e complexidade raramente repetido.

Se Dark Passion Play foi a reinvenção, Imaginaerum consolidou a nova fase. Mais do que um álbum, trata-se de uma obra multimídia — acompanhada por um filme — que expande o universo da banda para além da música. Aqui, Tuomas abraça completamente a ideia de criar uma trilha sonora de fantasia, unindo metal, música clássica, folk e até jazz. O resultado é um disco que soa como um parque de diversões musical, onde cada faixa leva o ouvinte a um cenário distinto. 

Anette se mostra ainda mais confortável, entregando performances emocionais e variadas: doce em “Turn Loose the Mermaids”, etérea em “Scaretale” e grandiosa em “Storytime”, um dos maiores hits da banda. Sua interpretação lúdica dá vida às letras e reforça o caráter de fábula que permeia o álbum.

Tanto Dark Passion Play quanto Imaginaerum se destacam pela coerência artística, apresentando conceitos sólidos e narrativas bem amarradas, algo que nem sempre se encontra na discografia do Nightwish. A presença de Anette Olzon foi fundamental para isso: sua voz, mais versátil e livre do molde operístico, abriu espaço para uma maior diversidade estilística, permitindo que a banda transitasse de baladas intimistas a experimentações ousadas sem perder consistência.


Essa fase também alcançou um equilíbrio notável entre peso e melodia, unindo a força do metal a refrãos memoráveis e a arranjos orquestrais cinematográficos que ampliaram o alcance do grupo sem comprometer sua identidade. A inovação ficou ainda mais evidente em Imaginaerum, que expandiu fronteiras criativas ao transformar-se em um projeto conceitual que ultrapassa a música.

Por fim, o impacto emocional dessas obras é inegável: a combinação de letras confessionais, orquestrações grandiosas e a interpretação calorosa de Anette resultou em canções que conectam emoção e espetáculo de uma forma única dentro da trajetória da banda.

Embora o debate entre fãs sobre a melhor vocalista do Nightwish continue, a verdade é que a fase com Anette Olzon entregou os discos mais ousados e completos da carreira da banda. Dark Passion Play e Imaginaerum não apenas provaram que o Nightwish podia sobreviver à saída de sua vocalista original, mas também mostraram o potencial do grupo em se reinventar e alcançar novos horizontes.

Esses dois álbuns permanecem como registros únicos, onde emoção, inovação e grandiosidade se encontram — e por isso podem ser considerados o auge criativo do Nightwish.


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