Shigurui – Frenesi da Morte Vol.1: honra, obsessão e carnificina em um dos mangás mais brutais já publicados (Takayuki Yamaguchi, Norio Nanjo, 2025, Pipoca & Nanquim)
Entre os mangás mais brutais e, ao mesmo tempo, sofisticados já publicados, Shigurui: Frenesi da Morte ocupa um lugar especial. Adaptado por Takayuki Yamaguchi a partir do clássico livro Duelos no Castelo de Suruga, de Norio Nanjo, o mangá foi publicado entre 2003 e 2010. A trama parte do primeiro capítulo do livro e de seus protagonistas, mas Yamaguchi expande a mitologia ao imaginar como os dois espadachins se conheceram e o que os levou ao duelo narrado na obra original.
Ambientada no Japão feudal do século XVII, a história mergulha no cruel governo de Tokugawa Tadanaga, um período em que a rígida disciplina da espada se misturava à brutalidade de uma sociedade obcecada por honra, poder e espetáculos sangrentos.
O primeiro volume já deixa claro que não há concessões: este não é um mangá de samurai idealizados, mas sim de corpos dilacerados, violência gráfica e uma abordagem quase clínica do impacto da lâmina sobre carne e ossos. Logo de início somos lançados em um torneio promovido pelo senhor local, onde guerreiros lutam até a morte em busca de prestígio. Entre eles estão Fujiki Gennosuke, um espadachim com apenas um braço, e Irako Seigen, cego, mas dono de uma técnica devastadora. O contraste entre suas deficiências físicas e a habilidade absurda no combate dá o tom da narrativa – a sobrevivência aqui não depende apenas da força, mas da obsessão e da capacidade de ir além do limite humano.
Visualmente, o trabalho de Takayuki Yamaguchi é um espetáculo à parte. O traço é detalhista até a exaustão, com músculos, expressões e mutilações retratados com um hiper-realismo quase incômodo. Mas, ao contrário de ser gratuito, o excesso faz parte da proposta: cada corte, cada ferimento, cada gota de sangue reforça a atmosfera de horror e honra degenerada que permeia a história. A influência do clássico Lobo Solitário é clara, mas Yamaguchi leva a brutalidade a um extremo raramente visto, criando algo que transita entre o épico histórico e o terror corporal. Outro ponto que salta aos olhos é o ritmo narrativo: Shigurui é cadenciado, cheio de pausas e silêncios que aumentam a tensão antes da explosão de violência.O impacto do primeiro volume é imediato: ou você se afasta horrorizado, ou se vê completamente capturado pelo mundo implacável de Nanjo e Yamaguchi. Não há meio-termo. Shigurui não é para todos, mas para quem encara a jornada, a experiência é única – uma descida sem retorno ao lado mais sombrio do bushidô, o famoso “caminho do guerreiro” do código dos samurais, onde honra e loucura caminham juntas.
Shigurui: Frenesi da Morte será a série de mangás mais longa publicada pela Pipoca & Nanquim, com dez volumes e periodicidade bimestral. A primeira edição tem 324 páginas em papel pólen bold, sobrecapa e marcador de páginas, e a tradução foi assinada por Camilla Midori.
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