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Mostrando postagens de outubro, 2025

A tragédia inevitável: por que Lulu (2011) é um desafio sonoro e audacioso de Lou Reed e do Metallica

Na história da música moderna, poucas colaborações soaram tão improváveis, tão arriscadas e, no final, tão visceralmente rejeitadas quanto a união entre uma das maiores e mais influentes bandas da história do metal, o Metallica, e o padrinho do art rock e da vanguarda, Lou Reed. Lulu (2011) não é um disco. É um acontecimento. É uma peça de teatro em áudio, uma ópera vanguardista, uma catarse. E é, inegavelmente, um dos trabalhos mais divisivos e incompreendidos da história recente do rock. O álbum nasceu de um encontro no Rock and Roll Hall of Fame em 2009. A admiração mútua levou a dupla a um projeto. Lou Reed, em um movimento característico de sua veia mais teatral e experimental (que remonta a Metal Machine Music , lançado em 1975, ou à narrativa de Berlin , que saiu em 1973), propôs ao Metallica musicar as letras que ele havia escrito para uma encenação da peça expressionista alemã "Lulu", de Frank Wedekind. A influência central, portanto, não é musical, mas literária ...

O divisor de águas: por que Meddle (1971) é o verdadeiro início do Pink Floyd gigante

Há um consenso geral de que o grande salto do Pink Floyd para o Olimpo do rock aconteceu com o clássico The Dark Side of the Moon em 1973. No entanto, para os colecionadores e puristas que entendem a importância da transição criativa, é em Meddle (1971) que a banda britânica finalmente encontra a bússola que a guiaria à excelência. Lançado após o ambicioso, mas disperso, Atom Heart Mother (1970), Meddle é a prova de que o quarteto havia superado a sombra psicodélica de Syd Barrett e estava pronto para criar uma nova forma de rock progressivo, coesa e cinematográfica. Meddle nasceu de um método de trabalho inovador e quase anárquico: os membros se reuniam e criavam fragmentos musicais, muitas vezes sem que um soubesse o que o outro estava fazendo, com o objetivo de costurar esses riffs e ideias em composições finalizadas. O resultado, paradoxalmente, foi uma coesão inédita. As influências aqui são menos de outras bandas e mais da própria busca por um som atmosférico e técnico que f...

Bob Marley em Rebel Music (1986): a trilha sonora da resistência

Quando Rebel Music chegou às lojas em 1986, Bob Marley já havia deixado este mundo há cinco anos. Sua morte em 1981 não interrompeu o fluxo constante de lançamentos póstumos — coletâneas, gravações ao vivo e registros raros que mantinham viva a presença do maior ícone do reggae. Essa compilação, lançada pela Island Records, teve uma proposta diferente das coletâneas tradicionais: não era apenas um “grestest hits”, mas um recorte temático, centrado na vertente mais militante e política da obra de Marley. O título não é gratuito. Rebel Music reúne faixas que expressam a alma contestadora do artista, sua espiritualidade rastafári e sua visão crítica sobre o mundo. Em vez de apostar nos hits mais óbvios, a seleção privilegia o lado combativo de Marley — canções que falam de resistência, consciência e transformação social. Entre elas estão “Get Up, Stand Up”, “So Much Trouble in the World”, “Them Belly Full (But We Hungry)” e a faixa que dá nome ao disco, “Rebel Music (3 O’Clock Roadblo...

Faroeste, balas e ética: o cinema em quadrinhos de O Procurador (2022, Pipoca & Nanquim)

O Procurador é mais uma prova de como o faroeste continua sendo um terreno fértil para grandes histórias em quadrinhos — especialmente quando cai nas mãos de criadores que conhecem profundamente o gênero. Escrito por Gianfranco Manfredi — roteirista italiano com longa trajetória na Bonelli e criador de uma das melhores séries da editora italiana, a clássica Mágico Vento — e ilustrado por Pedro Mauro — um dos artistas brasileiros mais experientes e versáteis em atividade, autor da elogiadíssima Trilogia Gatilho —, o álbum publicado pela Pipoca & Nanquim em 2022 é uma aula de narrativa clássica. Vale mencionar que o título faz parte do selo Originais Pipoca & Nanquim e saiu primeiramente no Brasil, e só depois ganhou edições na Itália e na Espanha. A HQ nasce de uma tradição que vem desde Tex e Ken Parker, mas dialoga também com o western moderno do cinema, de ícones como Clint Eastwood e Kevin Costner. Manfredi, que já havia demonstrado domínio absoluto da ambientação e dos ...

Pesquisa sobre o perfil do colecionador de rock e metal brasileiro

Se você ainda compra CDs e LPs e mantém viva a paixão pelo rock e pelo metal, esta pesquisa é para você! O objetivo é entender melhor os hábitos, preferências e motivações dos colecionadores brasileiros que continuam valorizando a mídia física, ajudando a construir um retrato real de quem mantém o colecionismo vivo no país. Sua participação é fundamental para fortalecer essa cultura e gerar informações que podem inspirar novos conteúdos, análises e debates sobre o universo da música pesada e do colecionismo. Para participar, acesse este link https://forms.gle/VT8e72aWN2CFEui89 Tempo estimado de resposta: entre 5 e 8 minutos. Obrigado por contribuir e por continuar girando o som no formato físico!

O show definitivo do Rush: por que Exit … Stage Left (1981) é um marco entre os álbuns ao vivo

Poucas bandas souberam traduzir com tanta precisão sua potência ao vivo quanto o Rush. Exit … Stage Left , lançado em outubro de 1981, é a consolidação de uma das fases mais brilhantes da história do trio canadense. Gravado durante as turnês de Permanent Waves (1980) e Moving Pictures (1981), o álbum captura o Rush no auge técnico e criativo, combinando virtuosismo instrumental, profundidade conceitual e uma coesão sonora que poucos grupos de rock progressivo conseguiram atingir ao vivo. A década de 1980 começava a abrir novas possibilidades sonoras, e o Rush surfava essa transição com maestria. Os sintetizadores ganhavam espaço, mas sem sufocar o peso e a complexidade das guitarras de Alex Lifeson, o groove inconfundível de Geddy Lee e a precisão quase matemática da bateria de Neil Peart. Exit … Stage Left reflete esse equilíbrio: é o ponto em que o Rush deixa para trás o progressivo setentista mais rebuscado e abraça uma sonoridade moderna, dinâmica e acessível, mas sem jamais p...

Origem: a HQ que revelou o passado trágico e definiu Wolverine (2003, Panini)

Durante décadas, o passado de Wolverine foi um dos maiores mistérios da Marvel. Fragmentos, memórias falsas e boatos formavam um quebra-cabeça que nem o próprio Logan conseguia montar. Quando Origem chegou às bancas em 2001, o impacto foi imediato: pela primeira vez, os leitores conheceriam quem era, de fato, o homem por trás das garras de adamantium. E o resultado foi uma história ao mesmo tempo reveladora e profundamente melancólica — uma tragédia envolta em beleza e dor. Escrita por Paul Jenkins , com a participação de Bill Jemas e Joe Quesada na concepção, e ilustrada magistralmente por Andy Kubert e Richard Isanove , Origem narra a infância de James Howlett, um garoto franzino e sensível que cresce em uma mansão rural no Canadá do século XIX. É lá que ele descobre sua verdadeira natureza mutante após um acontecimento traumático que redefine completamente sua vida. O garoto se torna um fugitivo, tentando entender quem é e o que há de monstruoso dentro dele — um tema que ress...

A era espacial do ZZ Top: o som futurista de Afterburner (1985)

O meio da década de 1980 foi um período de transformação profunda para o ZZ Top. Depois de brilhar durante os anos 1970 com seu blues texano pesado e cheio de groove, o trio formado por Billy Gibbons, Dusty Hill e Frank Beard percebeu que o mundo da música havia mudado. A explosão da MTV, o avanço da tecnologia e o domínio dos sintetizadores empurravam até os roqueiros mais durões para o território digital. Eliminator (1983) foi a resposta perfeita a esse novo cenário — uma fusão irresistível entre boogie, hard rock e pop eletrônico — e Afterburner (1985) chegou dois anos depois como sua sequência natural. Mas enquanto Eliminator ainda mantinha os pés no chão poeirento do Texas, Afterburner mira o espaço sideral. O próprio conceito visual do álbum — com a famosa hot rod vermelha transformada em nave espacial — já indicava essa guinada futurista. O som segue o mesmo caminho: guitarras ainda afiadas, mas agora mergulhadas em camadas de teclados, programações eletrônicas e batidas p...

Rhapsody e o poder da fantasia: como Legendary Tales (1997) reinventou o power metal

Quando o Rhapsody lançou Legendary Tales em 1997, o metal europeu vivia um momento de transição. O power metal começava a ressurgir com força, impulsionado por bandas como Gamma Ray, Blind Guardian e Stratovarius, que traziam de volta o senso de melodia, técnica e fantasia depois da aridez do thrash e do grunge. Mas o Rhapsody foi além: criou um universo próprio, misturando metal, música clássica e trilhas sonoras épicas em uma combinação que soava completamente nova. A mente por trás dessa revolução era o guitarrista e compositor Luca Turilli, ao lado do tecladista Alex Staropoli. Juntos, eles cunharam o termo “Hollywood Metal” para descrever sua proposta — uma forma de metal sinfônico que soava como se John Williams e Yngwie Malmsteen tivessem decidido compor juntos. O resultado é um disco que não apenas redefiniu o gênero, mas estabeleceu uma estética que influenciaria dezenas de bandas nos anos seguintes. Gravado na Alemanha sob produção de Sascha Paeth e Miro (nomes fundament...

Ninfeias Negras: Monet, mistério e morte em quadrinhos (2025, QS Comics)

Ninfeias Negras , publicada no Brasil pela QS Comics, é a adaptação em graphic novel do romance homônimo de Michel Bussi, realizada pelo roteirista Fred Duval e pelo artista Didier Cassegrain. A obra transporta o leitor diretamente para Giverny, na França, cenário icônico dos jardins de Claude Monet, e mistura arte, mistério e obsessão em uma narrativa visualmente deslumbrante. A história gira em torno de um assassinato que se entrelaça com o mundo da pintura impressionista, criando uma atmosfera de suspense intrigante. Duval consegue transpor a tensão e os enigmas do romance original para os quadrinhos, mantendo o ritmo e o suspense, enquanto Cassegrain dá vida a Giverny com traços precisos e cores exuberantes, que remetem às pinceladas e à paleta de Monet. Cada página é um convite à imersão, combinando investigação criminal com o lirismo dos jardins e das flores que deram origem ao título da obra. A arte é um dos grandes destaques da edição. Didier Cassegrain não apenas reproduz ...

News of the World (1977): o disco que trouxe o Queen de volta ao chão

Depois do refinamento quase barroco de A Night at the Opera (1975) e A Day at the Races (1976), o Queen decidiu pisar no freio da grandiosidade e apostar em algo mais direto, sujo e visceral. O resultado foi News of the World (1977), um disco que equilibra o poder do rock de arena com um pé firme no som cru e despretensioso que dominava a época — afinal, o punk explodia nas ruas de Londres e o Queen, mesmo sendo visto como o oposto daquela estética, não ficou indiferente ao clima. O álbum abre com dois hinos incontornáveis: “We Will Rock You” e “We Are the Champions”. Um é pura percussão tribal e poder coletivo, o outro é um épico de superação com a marca inconfundível de Freddie Mercury. Juntas, essas músicas se tornaram parte permanente da cultura pop — tocadas em estádios, comerciais e filmes, são talvez o exemplo mais claro da habilidade do Queen de transformar teatralidade em comunhão. Mas News of the World vai muito além desses clássicos. “Sheer Heart Attack”, escrita por...

Dream Theater em Metropolis Pt. 2: Scenes From a Memory (1999): quando o prog metal alcançou a perfeição

Metropolis Pt. 2: Scenes From a Memory é o disco que consolidou o Dream Theater como o principal nome do metal progressivo. Depois da ótima recepção de Images and Words (1992) e do sucesso relativo de Awake (1994), a banda entrou em uma fase turbulenta com Falling Into Infinity (1997), um álbum pressionado pela gravadora e marcado por tensões internas. O quinteto sentia que havia se distanciado da essência criativa que o consagrou, e a resposta veio em forma de um épico conceitual que redefiniu sua trajetória. O disco marca também a estreia do tecladista Jordan Rudess, que se juntou a John Petrucci, Mike Portnoy, John Myung e James LaBrie e completou a formação clássica do grupo. Com ele, o Dream Theater encontrou o equilíbrio entre virtuosismo e emoção, criando uma obra cinematográfica, coesa e tecnicamente impecável. A história de Scenes From a Memory dá continuidade à canção “Metropolis Pt. 1: The Miracle and the Sleeper”, presente em Images and Words , e narra a jornada de...

Effigy of the Forgotten (1991): Suffocation e o nascimento do brutal death metal

Effigy of the Forgotten (1991) , estreia do Suffocation , é um daqueles discos que redefiniram as fronteiras do metal extremo. Gravado no Morrisound Studios , em Tampa, sob a produção de Scott Burns — o mesmo responsável por clássicos do Death, Obituary e Sepultura —, o álbum colocou a banda de Nova York na linha de frente de uma nova vertente que, nos anos seguintes, seria conhecida como brutal death metal . Na época, o death metal vivia um momento de expansão criativa. Bandas como Morbid Angel e Death exploravam complexidade técnica e ambição filosófica, enquanto o Cannibal Corpse mergulhava na brutalidade gore. O Suffocation, porém, trouxe algo diferente: um peso abissal aliado a uma precisão quase cirúrgica , com estruturas que misturavam velocidade absurda, passagens quebradas e riffs sincopados. Era a brutalidade elevada à arte. O vocalista Frank Mullen entrega uma das performances mais influentes do gênero. Seu timbre, mais profundo e uniforme que o dos contemporâneos, aju...

Tartarugas Ninja: o segundo volume da Coleção IDW aprofunda a mitologia, expande o universo e é diversão garantida (2025, Pipoca & Nanquim)

O segundo volume da Coleção IDW das Tartarugas Ninja , publicado no Brasil pela Pipoca & Nanquim, consolida a fase moderna das personagens com um equilíbrio entre nostalgia e reinvenção. Reunindo as edições #13 a #20 da série principal iniciada em 2011 e diversas minisséries paralelas — Casey Jones , April O’Neil , Fugitoide , Krang , Baxter Stockman e A História Secreta do Clã do Pé — a edição amplia o universo iniciado no volume anterior e aprofunda as relações e conflitos que sustentam essa nova mitologia das Tartarugas. O material é resultado direto da parceria entre Kevin Eastman (co-criador original), Tom Waltz e uma equipe de artistas que inclui nomes como Andy Kuhn, Ben Bates e o brasileiro Mateus Santolouco, que assume a arte e o roteiro (ao lado de Erik Burnham) de A História Secreta do Clã do Pé — arco de quatro partes que é o grande destaque deste volume. Essa história, que revisita a origem do Clã do Pé com uma atmosfera de épico samurai, combina roteiro sólido c...

Como As Quatro Estações (1989) transformou a Legião Urbana em uma lenda do rock brasileiro

Lançado em 1989, As Quatro Estações representa um ponto de maturidade da Legião Urbana. Depois do sucesso avassalador de Dois (1986) e Que País É Este (1987), Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá entregaram um álbum que combina introspecção, crítica social e melodias inesquecíveis, consolidando a banda como um marco do rock brasileiro. É também o primeiro álbum sem o baixista Renato Rocha — uma mudança na formação que influenciou a dinâmica sonora e a forma como os arranjos foram pensados em estúdio. Na época, o Brasil caminhava para a consolidação da democracia pós-ditadura militar, e o rock nacional vivia um período de expansão, com bandas como Titãs, Paralamas do Sucesso e Barão Vermelho dominando as rádios. Dentro desse cenário, a Legião buscava equilibrar engajamento social com temas pessoais e universais, sem perder a sinceridade que marcava a obra de Renato Russo. As Quatro Estações transita entre o rock mais cru e faixas acústicas de forte apelo emocional. Infl...

Batman - Terra Um: a reinvenção mais humana do Cavaleiro das Trevas (2023, Panini)

Entre as inúmeras reinterpretações do Batman, Terra Um é uma das mais poderosas — e, paradoxalmente, uma das mais subestimadas. Escrita por Geoff Johns e ilustrada por Gary Frank , a trilogia apresenta um Bruce Wayne no início da carreira, errático, vulnerável e inexperiente , ainda tateando nas sombras de Gotham City para cumprir a promessa feita após presenciar o assassinato dos pais. Johns propõe uma abordagem mais humana e realista , afastando o mito do herói infalível e aproximando o personagem de um mundo reconhecivelmente imperfeito. Aqui, Gotham não é apenas o palco da tragédia, mas um organismo doente corrompido em suas fundações . Os personagens que orbitam Bruce não são arquétipos heroicos, mas pessoas marcadas por suas próprias falhas e limites. O grande acerto de Johns está em subverter expectativas . Alfred surge como um ex-militar inglês endurecido pela vida, mais mentor pragmático do que figura paterna acolhedora. Harvey Dent ganha uma irmã gêmea, que aprofunda s...

O curioso caso dos gibitubers que não leem - ou como a leitura ficou em segundo plano na era do colecionismo

É cada vez mais comum algo que deveria ser incomum: o fenômeno dos gibitubers que não leem. Ao invés de análises sobre quadrinhos, o que domina o YouTube são vídeos de unboxing, estantes imaculadas e takes cuidadosamente montados para exibir coleções. A leitura, que deveria ser o ponto de partida de qualquer conversa sobre HQs, virou quase um detalhe — quando não um obstáculo. A cena dos gibitubers cresceu muito nos últimos anos, impulsionada pelo aumento do número de editoras, pela onda de relançamentos em formato de luxo e pelo desejo de pertencimento que acompanha o ato de colecionar. Não há problema algum nisso: colecionar é uma paixão legítima, e faz parte da cultura dos quadrinhos há décadas. O problema surge quando a estética substitui o conteúdo. Quando o que era para ser uma troca de ideias sobre roteiros, arte e narrativa visual vira apenas uma vitrine digital. Muitos canais parecem seguir a lógica do algoritmo mais do que a lógica da leitura. É mais rentável abrir caixas...

Aurora Consurgens (2006): a despedida da formação que mudou a história do Angra

Aurora Consurgens (2006) marcou o fim de um ciclo na história do Angra. Foi o último disco gravado com a formação que reuniu Edu Falaschi, Kiko Loureiro, Rafael Bittencourt, Felipe Andreoli e Aquiles Priester — um quinteto que redefiniu o metal brasileiro nos anos 2000 e levou o nome da banda a um novo patamar de popularidade e reconhecimento internacional. Se Rebirth (2001) simbolizou o renascimento após a saída de Andre Matos, e Temple of Shadows (2004) consolidou uma identidade mais madura e progressiva, Aurora Consurgens trouxe um Angra mais sombrio, direto e introspectivo. O álbum foi inspirado em escritos medievais atribuídos a Santo Tomás de Aquino e mergulha em temas ligados à psicologia humana — depressão, loucura, ira, luxúria — refletindo conflitos internos e o peso da mente no mundo moderno. A sonoridade acompanha esse clima: o virtuosismo continua presente, mas em vez de soar épico e iluminado como antes, aqui o Angra explora texturas mais densas, com riffs pesados, ...

Burnin’ Sky (1977): o disco subestimado do Bad Company que merece ser redescoberto

Burnin’ Sky (1977) marcou o início de uma nova fase na trajetória do Bad Company, uma das bandas mais emblemáticas surgidas no conceito de “supergrupo” britânico dos anos 1970. Depois de três álbuns de sucesso consecutivo ( Bad Company , Straight Shooter e Run with the Pack ), o grupo formado por Paul Rodgers, Mick Ralphs, Simon Kirke e Boz Burrell chegou ao quarto disco em meio a um certo cansaço criativo. Ainda assim, o disco mantém a elegância e o estilo característico da banda: um rock britânico com alma americana, feito de riffs robustos, grooves de blues e a voz poderosa e cheia de nuances de Rodgers. Gravado no Château d’Hérouville, na França — o mesmo estúdio usado por Elton John, David Bowie e Fleetwood Mac —, Burnin’ Sky nasceu em uma época em que o rock começava a se fragmentar. O punk já tomava as ruas do Reino Unido e o hard rock clássico mostrava sinais de desgaste. O Bad Company, porém, se manteve fiel à sua identidade, entregando um disco de rock direto, com aquele...