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Mostrando postagens de outubro, 2025

A fase mais obscura do Iron Maiden tem nome: The X Factor (1995)

Poucos discos na trajetória do Iron Maiden são tão controversos quanto The X Factor . Lançado em outubro de 1995, ele marcou a estreia de Blaze Bayley nos vocais, após a saída de Bruce Dickinson, e veio em um momento turbulento para a banda. O heavy metal vivia à margem da cena musical, com o grunge ainda dominante, o britpop explodindo na Inglaterra e o metal alternativo chamando atenção no mundo. O Iron Maiden, que vinha de discos grandiosos como Seventh Son of a Seventh Son (1988) e Fear of the Dark (1992), escolheu um caminho mais sombrio e introspectivo para seu novo capítulo. Steve Harris foi a mente por trás dessa mudança. Lidando com problemas pessoais sérios — incluindo o divórcio —, o baixista canalizou suas angústias em letras carregadas de melancolia, temas existenciais e climas sufocantes. Isso se reflete não apenas na música, mais arrastada e sombria, mas também na capa assinada por Hugh Syme (conhecido pelos trabalhos com o Rush), que trouxe um Eddie realista, preso ...

Restless and Wild (1982): a obra-prima do Accept que moldou o metal germânico

Em 1982 o Accept já tinha três discos no currículo – Accept (1979), I’m a Rebel (1980) e Breaker (1981) -, mas ainda não havia encontrado a fórmula que o levaria a ser uma das bandas mais importantes da história do heavy metal. Restless and Wild , lançado em outubro daquele ano, é o ponto de virada. Aqui o grupo alemão finalmente cristalizou sua identidade: riffs afiados, vocais rasgados de Udo Dirkschneider e uma sonoridade agressiva que apontava para o futuro. O contexto da época ajuda a entender o impacto. O heavy metal britânico vivia a era de ouro da NWOBHM, com Iron Maiden, Judas Priest e Saxon puxando a cena. A Alemanha tinha uma cena incipiente, ainda tentando se firmar com nomes como Scorpions e Grave Digger. O Accept chegou para preencher essa lacuna, entregando um som que misturava o peso inglês com uma urgência quase punk. A abertura com “Fast as a Shark” é considerada por muitos o primeiro registro do speed metal – aquele ataque inicial, após a introdução com um vinil to...

Thorgal: o clássico que definiu o quadrinho europeu finalmente chega em edição definitiva no Brasil (2025, Pipoca & Nanquim)

Jean Van Hamme e Grzegorz Rosiński são dois nomes que mudaram para sempre o quadrinho europeu. E Thorgal é a prova mais concreta disso. Nascida no final dos anos 1970 nas páginas da revista Tintin , a série sempre chamou atenção por sua mistura única: vikings, mitologia nórdica, fantasia épica e uma boa dose de ficção científica. Um caldeirão ousado que poderia soar estranho no papel, mas que, nas mãos da dupla belga-polonesa virou um clássico incontornável do quadrinho franco-belga. A Pipoca & Nanquim acaba de lançar o primeiro volume da série clássica , reunindo os oito primeiros álbuns: A Feiticeira Traída , A Ilha dos Mares Gelados , Os Três Anciões do Reino de Aran , A Galé Negra , Além das Sombras , A Queda de Brek Zarith , O Filho das Estrelas e Alinoë, publicados originalmente entre 1977 e 1984.  É uma edição de 420 páginas em formato 20,5 x 27,2 cm, capa dura, papel couché colorido e recheado de extras que contextualizam a obra e sua importância. E o que temos aq...

Entre o apocalipse e a filosofia: Finita entrega sua obra mais ousada em Children of the Abyss (2025)

A Finita chega ao segundo álbum dez anos após a estreia, Voices From Sanatorium (2015), com a convicção de quem sabe o que quer. Children of the Abyss é o trabalho mais ambicioso da banda gaúcha até aqui, e coloca de vez seu nome entre os projetos mais interessantes do metal brasileiro contemporâneo. Vale mencionar que, neste intervalo de uma década, a banda soltou também os EPs Lie (2018) e Above Chaos (2022), além do ao vivo Live at Metal Sul Festival (2020). Com quinze anos de estrada, a Finita vem de Santa Maria e construiu sua identidade explorando o lado mais sombrio do metal, mas sem se limitar a um único rótulo. Em Children of the Abyss , essa característica se amplia: o disco é um mergulho conceitual que mistura filosofia, religião e literatura em uma narrativa sobre escuridão, apocalipse e o distanciamento dos deuses. O resultado é um álbum que não se contenta em ser apenas música pesada — é uma obra pensada para funcionar como uma experiência completa. A sonoridade ...

No Prayer for the Dying (1990): a ruptura que dividiu os fãs e marcou o fim da fase clássica do Iron Maiden

Quando No Prayer for the Dying chegou às lojas em 1990, o Iron Maiden já havia consolidado seu status de lenda do heavy metal, com clássicos como The Number of the Beast (1982), Powerslave (1984) e Seventh Son of a Seventh Son (1988). No entanto, este álbum marcou um ponto de inflexão na carreira da banda: era hora de simplificar. Depois das elaboradas produções e do metal gradativamente mais progressivo dos anos 1980, Bruce Dickinson e companhia decidiram voltar a um som mais cru, direto e enérgico. O contexto da época não era simples. O heavy metal tradicional começava a sentir a pressão do hard rock mais comercial e do emergente grunge. No Prayer for the Dying surge como uma tentativa de reafirmar a identidade da banda, resgatando riffs mais secos, solos contidos e estruturas mais concisas, em contraste com os épicos trabalhos anteriores. Um dos fatores que mais influenciou a sonoridade do disco foi a saída de Adrian Smith, guitarrista que ajudou a definir a era mais clássica...

Helloween e o nascimento do power metal: a fúria de Walls of Jericho (1985)

No cenário do metal europeu dos anos 1980, a Alemanha começava a ganhar destaque com bandas que iriam definir o power metal como conhecemos hoje. Nesse contexto, o Helloween surgiu como uma força inovadora, e Walls of Jericho (1985), seu álbum de estreia, é um marco que captura a energia bruta e a ousadia da banda em seus primeiros passos. O disco é fortemente influenciado pelo heavy metal britânico — Iron Maiden e Judas Priest são referências claras —, mas o Helloween acrescenta uma velocidade e agressividade que se aproximam do thrash emergente, criando uma fusão única. A técnica de Kai Hansen e Michael Weikath nas guitarras, combinada com a precisão da dupla Markus Grosskopf e Ingo Schwichtenberg  no baixo e na bateria, estabelece um som ao mesmo tempo melódico e caótico, prenunciando o que seria o power metal alemão clássico. Entre os destaques do álbum, “Ride the Sky” acelera com riffs cortantes e vocais que mesclam potência e raiva controlada. “Walls of Jericho”, a faixa-...

Voivod em Killing Technology (1987): quando o thrash metal encontrou o futuro

A cena thrash metal de meados dos anos 1980 estava em plena ebulição. Enquanto Metallica, Slayer, Megadeth e Anthrax consolidavam a fama do estilo nos Estados Unidos, e nomes como Kreator, Destruction e Sodom faziam o mesmo na Alemanha, um quarteto canadense surgia com uma abordagem bem distinta: o Voivod. Vindo de Jonquière, no Quebec, a banda já havia mostrado personalidade nos dois primeiros discos, War and Pain (1984) e Rrröööaaarrr (1986), mas foi em Killing Technology que alcançou um novo patamar criativo. Lançado em 1987, o terceiro álbum do Voivod marca uma virada na sonoridade do grupo. Se antes predominava um thrash sujo e barulhento, aqui aparecem arranjos mais complexos, dissonâncias e uma atmosfera futurista que logo se tornaria a marca registrada da banda. O som ganhou contornos progressivos e experimentais, revelando a influência de nomes como Pink Floyd, King Crimson e Rush, filtrados pelo peso do Motörhead e pela urgência do punk. O resultado é um disco que soa ...

Entre balas perdidas e guitarras cortantes: Vida Amarga (2024), o álbum de estreia do Trágico

O punk brasileiro sempre teve como uma de suas marcas mais fortes a visceralidade. Da fúria do Cólera e Ratos de Porão nos anos 1980 até os muitos coletivos que resistem hoje em selos independentes, a regra é simples: atitude em primeiro lugar. O Trágico, banda formada em São Paulo em 2023 e que conta com Fernando (vocal), Fejones (guitarra), Amanda (baixo) e Déda (bateria), chega com o mesmo espírito combativo e entrega em seu primeiro registro, Vida Amarga (2024), uma declaração de princípios que não faz concessões. Gravado e masterizado em junho de 2024 por Fábio Godoy no 147 Studio Bar e lançado em novembro via Bandcamp e também em CD independente com tiragem limitadíssima de apenas 150 unidades, Vida Amarga é direto como um soco no estômago. São faixas rápidas, ruidosas, com vocais que beiram o grito e guitarras que se apoiam em riffs cortantes. O hardcore punk do grupo é bruto, cru e absolutamente fiel às origens do estilo. Não há polimento: o que se ouve é exatamente a inten...