Depois do refinamento quase barroco de A Night at the Opera (1975) e A Day at the Races (1976), o Queen decidiu pisar no freio da grandiosidade e apostar em algo mais direto, sujo e visceral. O resultado foi News of the World (1977), um disco que equilibra o poder do rock de arena com um pé firme no som cru e despretensioso que dominava a época — afinal, o punk explodia nas ruas de Londres e o Queen, mesmo sendo visto como o oposto daquela estética, não ficou indiferente ao clima.
O álbum abre com dois hinos incontornáveis: “We Will Rock You” e “We Are the Champions”. Um é pura percussão tribal e poder coletivo, o outro é um épico de superação com a marca inconfundível de Freddie Mercury. Juntas, essas músicas se tornaram parte permanente da cultura pop — tocadas em estádios, comerciais e filmes, são talvez o exemplo mais claro da habilidade do Queen de transformar teatralidade em comunhão.
Mas News of the World vai muito além desses clássicos. “Sheer Heart Attack”, escrita por Roger Taylor, é quase punk em sua velocidade e agressividade. “All Dead, All Dead”, de Brian May, mostra o lado melancólico do guitarrista, enquanto “Spread Your Wings”, de John Deacon, é uma das baladas mais sinceras e inspiradoras do catálogo da banda. Já “It’s Late”, um dos pontos altos do disco, traz uma estrutura em três atos e solos incendiários de May, antecipando a pegada mais hard rock que o Queen abraçaria nos anos seguintes.
O álbum é um retrato de uma banda madura o bastante para brincar com suas próprias fórmulas. A produção é mais enxuta, com menos camadas de vozes e arranjos mais secos. O Queen não abandonou a ambição, mas a canalizou de outra forma — em atitude e energia, não em pompa.
News of the World vendeu milhões de cópias e consolidou o Queen como uma das maiores bandas do planeta. Ao mesmo tempo em que reafirma a força do grupo como criador de hinos atemporais, mostra sua capacidade de se adaptar sem perder identidade. É o Queen olhando para o mundo real, e devolvendo em alto e bom som um dos discos mais equilibrados e poderosos de toda a sua discografia.
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