Poucos discos na trajetória do Iron Maiden são tão controversos quanto The X Factor. Lançado em outubro de 1995, ele marcou a estreia de Blaze Bayley nos vocais, após a saída de Bruce Dickinson, e veio em um momento turbulento para a banda. O heavy metal vivia à margem da cena musical, com o grunge ainda dominante, o britpop explodindo na Inglaterra e o metal alternativo chamando atenção no mundo. O Iron Maiden, que vinha de discos grandiosos como Seventh Son of a Seventh Son (1988) e Fear of the Dark (1992), escolheu um caminho mais sombrio e introspectivo para seu novo capítulo.
Steve Harris foi a mente por trás dessa mudança. Lidando com problemas pessoais sérios — incluindo o divórcio —, o baixista canalizou suas angústias em letras carregadas de melancolia, temas existenciais e climas sufocantes. Isso se reflete não apenas na música, mais arrastada e sombria, mas também na capa assinada por Hugh Syme (conhecido pelos trabalhos com o Rush), que trouxe um Eddie realista, preso a uma máquina de tortura. O tom era outro: menos épico, mais claustrofóbico.
The X Factor apresenta um Iron Maiden diferente. A banda mantém sua identidade, mas a aposta em composições longas, atmosféricas e menos imediatas afastou parte do público. Blaze, com sua voz grave e limitada em alcance, não tinha a técnica de Bruce Dickinson, mas emprestou uma carga emocional que combinava com as letras. Faixas como “Sign of the Cross”, uma das melhores aberturas da discografia da banda, “Lord of the Flies” e “Man on the Edge” (inspirada no filme Um Dia de Fúria) mostram esse lado mais pesado e moderno. Já “Fortunes of War”, “The Aftermath” e “The Edge of Darkness” mergulham em climas quase cinematográficos, pedindo paciência do ouvinte para serem assimiladas.
A crítica recebeu o álbum com desconfiança, e muitos fãs não aceitaram Blaze Bayley como frontman. A turnê mundial enfrentou problemas, com o vocalista tendo dificuldades para reproduzir os clássicos gravados por Bruce ao vivo. Ainda assim, o disco foi Top 10 no Reino Unido e trouxe uma ousadia que, vista com distanciamento, merece ser revisitada.
The X Factor é um álbum injustiçado, que envelheceu melhor do que parecia em sua época. Ele mostra um Iron Maiden disposto a se reinventar em meio a mudanças e crises, e que escolheu a coragem de experimentar em vez de se repetir. Hoje, ao revisitar o disco, percebe-se um trabalho atmosférico, sombrio e profundamente pessoal — diferente de tudo que a banda já havia feito e faria depois.
Não é exagero dizer que The X Factor é o ponto mais obscuro da discografia do Iron Maiden. E, justamente por isso, ocupa um lugar único: é o registro de uma banda gigante encarando a incerteza e deixando que a música refletisse esse momento.
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