A Justiça de Gunny Bill: uma saga sobre passado, culpa e destino na juventude de Tex (2025, Mythos Editora)
Reunindo as edições italianas 77 a 81 da série Tex Willer, a saga que no Brasil recebeu o título A Justiça de Gunny Bill é um dos momentos mais significativos dessa fase que explora a juventude do futuro Ranger. Não se trata apenas de mais uma aventura de perseguições e tiroteios: aqui, o leitor acompanha um mergulho emocional no passado de Tex, em uma história que combina resgate de memórias, dilemas morais e a inevitável colisão entre escolhas feitas na juventude e suas consequências adultas.
A narrativa começa quando Arkansas Joe procura Tex e Kit Carson pedindo ajuda para enfrentar a Quadrilha do Carrasco, responsável pela morte do ex-ranger Gil Sands. Esse gancho inicial funciona como ponto de partida para algo maior. Tex se vê diante de lembranças adormecidas, o que leva à reconstrução de sua relação com dois personagens centrais em sua formação: Gunny Bill, o velho mentor e figura quase paterna, responsável por moldar o caráter e a habilidade do jovem Tex, e Charlie Goode, amigo de juventude que trilhou o caminho oposto, cedendo ao crime.
Essa oposição — Tex como aquele que permanece fiel ao que acredita, Charlie como quem se perde em suas próprias sombras — dá profundidade moral à saga. O leitor percebe que o confronto com a quadrilha não é apenas físico, mas emocional: enfrentar Charlie é confrontar tudo aquilo que Tex poderia ter sido se tivesse seguido outro rumo. A partir daí, a saga evolui em ritmo crescente, distribuindo sua tensão ao longo das cinco edições originais.
Ao articular passado e presente, o roteirista Giorgio Giusfredi constrói uma história que funciona tanto como aventura quanto como estudo de personagem. A saga reafirma Tex como alguém movido não por rancor, mas por um senso visceral de justiça — firme, inegociável e profundamente humano. Ao mesmo tempo, mostra como feridas antigas nunca desaparecem: apenas aguardam seu momento de retorno.
O trabalho gráfico de Fabio Valdambrini colabora decisivamente para o impacto da saga. Seu traço expressivo, com atenção incomum às feições, ao peso emocional nos olhos e às cenas de tensão, traz à superfície a gravidade da história. Momentos que poderiam ser apenas expositivos ganham intensidade dramática.
A Justiça de Gunny Bill é uma das melhores sagas recentes da fase jovem de Tex. Equilibra ação, sentimento, memória e moralidade de forma madura, reafirmando que o mito Tex Willer não se construiu apenas pelas vitórias — mas pelas escolhas difíceis, pelos mestres que deixou para trás e pelos amigos que perdeu ao longo do caminho. A edição da Mythos Editora segue o padrão da série, com formato italiano e papel offset, e a maior edição de Tex Willer publicada pela editora, com 324 páginas, o que dá um ar de “mini omnibus” para o volume.
É uma narrativa sobre quem Tex foi, quem ele poderia ter sido e quem ele escolheu ser.


Que ótima novidade. Irei procurar para comprar.
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