Pular para o conteúdo principal

O aguardado novo álbum do Guns N’ Roses já está sendo revelado — e ninguém percebeu


O novo álbum do Guns N’ Roses já começou a ser revelado, e quase ninguém percebeu. Sem anúncio oficial, sem título e sem aquele frisson típico que acompanha qualquer movimento da banda, o grupo vem entregando seu próximo capítulo de maneira fragmentada, quase silenciosa, através de singles lançados desde 2021. Quando vistos de forma isolada, parecem apenas sobras reformuladas de Chinese Democracy (2008). Mas quando analisados em conjunto, formam o esqueleto de um disco que está surgindo aos poucos, faixa a faixa, diante dos olhos do público.

A história começa em 2021, quando o Guns reapareceu com “Absurd”. A música, uma versão reconstruída de “Silkworms”, faixa que a banda chegou a tocar ao vivo algumas vezes em 2001, causou estranhamento justamente por romper qualquer expectativa: era suja, agressiva, quase industrial. Não parecia um retorno triunfal, mas sim um choque controlado, um aviso de que nada viria fácil. Ali já havia um sinal: a banda estava disposta a desconstruir seu próprio passado em vez de simplesmente revisitá-lo.

No ano seguinte, “Hard Skool” mudou completamente a percepção. De imediato, soou familiar: riffs afiados, entrosamento nítido entre Duff e Slash, e aquele espírito mais direto que marcou a fase clássica. Enquanto “Absurd” soou como uma provocação, “Hard Skool” parecia um aceno. Foi a primeira vez em muito tempo que fãs e críticos concordaram que aquilo soava como Guns N’ Roses. E foi também quando o quebra-cabeça começou a ganhar contornos mais claros.


Em 2023, a banda expandiu esse caminho com “Perhaps”. Uma faixa guiada por piano, com estrutura melódica que remete à era Use Your Illusion (1991) e um clima dramático que funciona como uma ponte entre os anos 1990 e o presente. É uma música que confirma que o Guns não está tentando copiar o passado — está reinterpretando seus próprios códigos, com a maturidade que só décadas de estrada permitem. E isso ficou ainda mais evidente com “The General”, lançada no mesmo ano. Trata-se da canção mais densa desse ciclo: lenta, pesada na atmosfera, introspectiva, quase terapêutica. É o tipo de música que Axl Rose provavelmente jamais teria lançado em 1991, e justamente por isso ela soa tão contemporânea.

Com o anúncio das inéditas “Atlas” e “Nothin’”, previstas para dezembro de 2025, a percepção se torna inevitável: não estamos diante de lançamentos soltos, mas de um processo de revelação gradual. Sem estardalhaço, sem campanha agressiva, o Guns está construindo um álbum de maneira serializada, como capítulos de um livro publicado em partes.

E o que esse conjunto de músicas diz sobre o disco que está por vir? Diz que será um trabalho que une passado e presente, equilibrando a energia crua da fase clássica, o melodrama dos anos 1990 e a densidade emocional de Chinese Democracy. Diz que a banda encontrou um ponto de equilíbrio, um espaço onde não precisa soar como Appetite for Destruction (1987) nem se esconder atrás da grandiosidade de Use Your Illusion. Um terreno onde Axl, Slash e Duff parecem finalmente falar a mesma língua estética e musical.


Se Appetite era urgência, Illusion era ambição e Chinese Democracy era isolamento criativo, o novo material soa como síntese. “Hard Skool” traz o ataque direto das guitarras, “Perhaps” recupera o romantismo dramático dos anos 1990, “Absurd” mantém o espírito experimental dos anos 2000 e “The General” amarra tudo com maturidade e introspecção. Cada faixa é uma peça de um quebra-cabeça que só agora começa a ser compreendido.

Quando o anúncio oficial finalmente vier, a sensação geral será de que “o álbum já estava aí o tempo todo”. E estava mesmo. O Guns N’ Roses decidiu revelar seu novo trabalho de forma lenta, cuidadosa e quase clandestina. Quem prestar atenção enxerga claramente a narrativa sendo montada, e percebe que, pela primeira vez em muitos anos, a banda está contando uma história musical coerente, capítulo por capítulo. O público só precisa conectar os pontos.

Comentários

  1. Ouvindo novamente as faixas, em sequência e com um álbum em mente, tive uma nova e agradável percepção.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.