Rock or Bust chegou às lojas em 2014 carregando um peso que nenhum outro álbum do AC/DC havia enfrentado: era o primeiro trabalho sem Malcolm Young. A notícia de que o guitarrista estava deixando a banda por problemas de saúde já havia chocado os fãs, e a confirmação de que ele não voltaria mais ao grupo criava um clima de despedida não verbalizada – ele faleceria em novembro de 2017. Ainda assim, o AC/DC fez aqui aquilo que sempre guiou sua existência: seguiu em frente.
Produzido por Brendan O’Brien, Rock or Bust tem aproximadamente 35 minutos de duração e 11 faixas que soam exatamente como você espera que o AC/DC soe. Nada de reinvenções, nada de experimentos, nada de crises existenciais. É a banda sendo a banda — talvez até mais teimosa do que o normal em afirmar sua identidade justamente no momento em que perdeu um dos seus pilares.
A faixa-título, “Rock or Bust”, abre tudo com aquela confiança típica dos australianos, seguida por “Play Ball”, que parece surgida para ser cantada em estádios e arenas. “Dogs of War”, “Baptism by Fire” e “Got Some Rock & Roll Thunder” mantêm a roda girando com riffs simples, diretos e absolutamente familiares. Brian Johnson soa firme, enquanto Angus Young continua entregando solos enxutos, certeiros e totalmente plugados na estética eterna do AC/DC.
Stevie Young, sobrinho de Malcolm e Angus, assume a guitarra base com um respeito quase reverencial. Ele não tenta copiar Malcolm — ele é alguém moldado pela mesma escola, pelo mesmo DNA musical, e isso transparece em cada virada de mão direita. O resultado é um disco que preserva o espírito da banda mesmo sem uma de suas metades criativas mais importantes.
O álbum estreou alto nas paradas, vendeu milhões e manteve o AC/DC como uma das últimas grandes instituições do rock ainda capaz de mobilizar o mundo com um lançamento. Mas, dentro do próprio repertório do grupo, Rock or Bust é um disco menor — competente, sólido, sem grandes destaques individuais, porém carregado de significado.
É o AC/DC provando que poderia continuar existindo mesmo quando a vida muda as regras do jogo. Rock or Bust não tenta superar a ausência de Malcolm, e isso talvez seja o que há de mais honesto aqui. Ao invés de buscar caminhos alternativos, a banda opta por permanecer fiel àquilo que sempre foi. E, nesse gesto, reafirma pela milésima vez que poucas coisas são tão reconfortantes no rock quanto ouvir o AC/DC soar como AC/DC.
É um álbum que não reescreve a história da banda, mas ajuda a preservar sua identidade, e, dentro da proposta, cumpre seu papel com peso, coerência e coração. A herança de Malcolm Young está em cada faixa, em cada riff, em cada silêncio entre as notas. Rock or Bust é o AC/DC seguindo adiante, mas carregando consigo tudo aquilo que o tornou imortal.
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