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Speak of the Devil (1982): quando Ozzy precisou voltar atrás para seguir adiante


Speak of the Devil
sempre ocupou um lugar curioso na discografia de Ozzy Osbourne. Lançado em 1982, poucos meses após a morte de Randy Rhoads, o álbum não representa um novo passo criativo, nem aponta um rumo estético para a carreira solo do vocalista. Pelo contrário: é um mergulho completo no passado, um registro ao vivo inteiramente composto por músicas do Black Sabbath, a banda que projetou Ozzy ao mundo. O resultado é um disco que combina contexto turbulento, necessidade contratual e um artista que ainda tentava reencontrar o próprio eixo.

Gravado em duas noites, entre 26 e 27 de setembro de 1982 no The Ritz em Nova York, Speak of the Devil nasceu como resposta a uma exigência da gravadora: entregar um álbum duplo com repertório do Black Sabbath. Nesse cenário, Ozzy decidiu revisitar clássicos como “Iron Man”, “War Pigs”, “Children of the Grave” e “Paranoid”, agora acompanhado pela banda que segurou sua carreira após o trauma da perda de Rhoads – o guitarrista Brad Gillis, o baixista Rudy Sarzo e o baterista Tommy Aldridge.

É justamente esse contexto que molda a recepção do disco até hoje. Para muitos, Speak of the Devil é uma peça essencial para entender a fase mais instável da trajetória solo de Ozzy, um documento histórico que captura a força da sua persona no palco, mesmo quando tudo ao redor parecia desmoronar. Para outros, é uma obra que existe principalmente por obrigação, sem a mesma chama criativa que marcou Blizzard of Ozz (1980) e Diary of a Madman (1981).


Musicalmente, o álbum entrega aquilo que promete: versões diretas, agressivas e cruas de um repertório gigante. As execuções são energéticas, com uma pegada mais veloz e menos densa do que as gravações originais do Sabbath. Há quem veja isso como um ponto positivo — uma chance de ouvir esses clássicos com uma roupagem mais oitentista, mais rápida e mais alinhada à estética solo de Ozzy. Outros apontam que, apesar do vigor, nada substitui o peso e a atmosfera das versões clássicas da banda original.

O som do álbum também divide opiniões. A produção tem aquela cara de “ao vivo sem polimento”, algo que flutua entre a autenticidade e a falta de acabamento. Em tempos de lives altamente trabalhados, Speak of the Devil soa como um instantâneo bruto: não tenta emular a grandiosidade do Black Sabbath, mas sim capturar a força do show de Ozzy naquele exato momento.

Speak of the Devil não é o ao vivo definitivo de Ozzy e tampouco supera Live Evil (1983), o clássico álbum duplo que o Black Sabbath gravou com Dio nos vocais, como documento daquele repertório. Ainda assim, Speak of the Devil permanece como um registro sincero — às vezes duro, às vezes urgente — de um artista tentando honrar seu passado enquanto lutava para consolidar seu futuro como ícone solo.

Para colecionadores, fãs de Ozzy e apreciadores da história do metal, o álbum cumpre uma função importante: mostrar que mesmo um lançamento nascido de pressões externas pode capturar uma verdade artística. Em 1982, essa verdade era clara: Ozzy continuava de pé. E isso, por si só, já era um acontecimento.


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