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Made in Japan (1972): o Deep Purple no auge absoluto


Existem discos ao vivo que você escuta para sentir a energia de um show, e existem aqueles que parecem capturar um momento irrepetível na história do rock. Made in Japan pertence a essa segunda categoria. Lançado em 1972 e registrado no calor da turnê de Machine Head, o álbum mostra o Deep Purple em sua formação clássica tocando com uma confiança absurda, entregando improvisos que desafiam o óbvio e uma comunicação musical que beira o telepático.

Gravado em três noites no Japão, entre Osaka e Tóquio, o álbum nasceu da insistência da própria banda. O Deep Purple nunca foi muito fã de overdubs em discos ao vivo, e aqui decidiu abraçar o risco: o que você ouve é essencialmente o que aconteceu no palco. E talvez seja justamente essa falta de polimento que torna Made in Japan tão irresistível. Cada faixa tem vida própria. Cada execução parece fluir para onde a música mandar.

A abertura com “Highway Star” já deixa tudo claro: velocidade, precisão e um nível de confiança que só grupos no auge de sua química alcançam. O duelo entre Ritchie Blackmore e Jon Lord é de uma elegância feroz, enquanto Ian Gillan domina tudo com vocais que mesclam potência e dramatização milimétrica. Outro duelo ocorre na versão espetacular de “Strange Kind of Woman”, com os eternos desafetos Gillan e Blackmore provocando um ao outro, porém aqui em favor da música com um resultado absolutamente brilhante. Em “Child in Time”, a banda estica a tensão até o limite, num crescendo emocional que resume bem o espírito setentista do grupo: grandes temas, grandes emoções, grandes performances.


O clássico inevitável, “Smoke on the Water”, aparece aqui menos como obrigação e mais como ponto de encontro entre a banda e a plateia. Mas é em faixas longas como “The Mule” e, principalmente, “Space Truckin’”, que Made in Japan se mostra um monstro. As jams se expandem, se retorcem, mudam de forma, e o ouvinte acompanha tudo como quem presencia um animal selvagem sendo deixado solto em uma arena. Há quem torça o nariz para solos prolongados e viagens instrumentais, mas neste disco eles justificam a fama: são momentos em que o Deep Purple explode fronteiras e transforma o palco em laboratório.

Ao longo das décadas, o álbum ganhou reedições, remasters e boxes luxuosos. Todos têm seu valor, mas nada altera a essência: Made in Japan continua sendo um dos grandes registros ao vivo do rock. Um documento de uma época em que bandas subiam ao palco para testar seus limites e deixavam o público como testemunha privilegiada desse processo.

Para colecionadores, é item obrigatório. Para fãs do Purple, um altar. Para quem quer entender de verdade o impacto do hard rock dos anos 1970, uma aula definitiva, tão urgente e vibrante hoje quanto era em 1972. Uma experiência que continua pulsando como se tivesse sido gravada ontem.


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