Quando se fala em punk rock brasileiro, é impossível não citar Garotos Podres e seu álbum de estreia, Mais Podres do que Nunca, lançado em 1985. Gravado de forma improvisada em apenas 12 horas, o disco rapidamente se tornou um marco do punk nacional, não apenas pela sonoridade crua, mas principalmente pelas letras afiadas e carregadas de crítica social.
O álbum surgiu em um momento crítico da história brasileira, ainda nos últimos anos da ditadura militar, quando a censura imperava sobre a cultura. Isso não impediu a banda de lançar faixas provocadoras como “Johnny”, “Vou Fazer Cocô” e “Papai Noel Velho Batuta”, muitas das quais tiveram seus títulos alterados para driblar a fiscalização do governo. Essa ousadia tornou o disco um símbolo de resistência, humor ácido e contestação social, características essenciais do punk.
Mais Podres do que Nunca é direto e visceral: músicas curtas, batidas aceleradas e riffs agressivos compõem um punk cru e sem firulas, que consegue ser divertido e politicamente afiado ao mesmo tempo. Letras como “Não Devemos Temer” e “Anarkia Oi!” são hinos de contestação, enquanto faixas como “Eu Não Sei o Que Quero” e “Maldita Preguiça” revelam uma reflexão sarcástica sobre alienação e apatia social. Mesmo canções aparentemente irreverentes, como “Vou Fazer Cocô”, carregam uma crítica velada à ordem estabelecida, reforçando a postura provocadora da banda.
O legado de Mais Podres do que Nunca é inegável: além de vender cerca de 50 mil cópias em suas primeiras tiragens, um feito impressionante para um disco independente na época, o álbum influenciou gerações de músicos e consolidou o Garotos Podres como referência do punk brasileiro. Suas faixas ainda soam atuais, mantendo a energia crua e a rebeldia que definiu uma era. Mais Podres do que Nunca é uma cápsula do tempo, que captura o espírito contestador do Brasil dos anos 1980. É obrigatório para qualquer colecionador ou entusiasta do punk, não apenas pela música, mas pelo peso histórico e cultural que carrega.
Um clássico que segue relevante, 40 anos depois de sua gravação, reafirmando que algumas revoluções são atemporais e que o punk brasileiro, de fato, nunca envelhece.


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