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The Original Fleetwood Mac (1971): uma viagem ao blues cru da era Peter Green


The Original Fleetwood Mac
, lançado em 1971, é um daqueles discos que revelam muito mais do que parecem à primeira vista. Oficialmente, trata-se apenas de uma compilação de sobras de estúdio registradas entre 1967 e 1968, período em que o Fleetwood Mac ainda era uma banda britânica de blues comandada por Peter Green. Mas, na prática, o álbum funciona como uma peça complementar essencial para quem se interessa por aquela fase inicial, um momento curto, intenso e cheio de nuances que ajudou a moldar parte importante do rock britânico do final dos anos 1960.

Aqui não há a concisão de um álbum “pensado” ou a coesão de um material lapidado para ser lançado na época. O que encontramos é justamente o oposto: ensaios, takes alternativos, jams prolongadas e pequenas faíscas de genialidade que não entraram nos discos oficiais. E é isso que faz The Original Fleetwood Mac ser tão interessante. O registro flagra Peter Green, Jeremy Spencer, John McVie e Mick Fleetwood ainda testando ideias, burilando timbres e encontrando um caminho próprio dentro do blues elétrico. Algumas canções contam a participação de Christine Perfect, a futura Christine McVie, ao piano e teclado.

A crueza do material nunca atua contra o álbum. Pelo contrário: reforça a identidade do Fleetwood Mac pré-fama, totalmente distante do refinamento pop que viria na era Lindsey Buckingham e Stevie Nicks. Green aparece espontâneo e preciso, alternando momentos de pura delicadeza com explosões de feeling que o tornaram um dos guitarristas mais respeitados de sua geração. A banda como um todo soa viva, vibrante, às vezes até desordenada, mas sempre real. Entre os destaque estão “Drifting”, “Leaving Town Blues”, “Mean Old Fireman”, a instrumental “Fleetwood Mac”, “Love That Woman” e “First Train Home”, recortes precisos de uma banda que sempre possuiu uma identidade única, independente da fase analisada.


The 
Original Fleetwood Mac ganhou diversas reedições ao longo dos anos, com faixas extras que mudam de edição para edição. As versões de 2000 e 2004, por exemplo, adicionam material complementar que aprofunda ainda mais o panorama dessas sessões. Resultado: cada prensagem conta um pedaço diferente da mesma história, o que transforma o disco em um item particularmente saboroso para quem gosta de explorar versões, diferenças de tracklists e detalhes de discografia. A edição resenhada neste texto foi a lançada pela Castle Classics em 1994.

Não é um álbum indispensável para quem quer apenas a discografia principal do Fleetwood Mac, mas é fundamental para quem deseja compreender a formação do grupo e a amplitude criativa da fase Peter Green. O que está aqui pode ser rústico, por vezes fragmentado, mas também é honesto, vibrante e cheio de momentos em que a banda deixa claro por que se tornou uma das grandes forças do blues britânico.

Para quem acompanha a trajetória do grupo e se interessa por garimpar gravações de época, The Original Fleetwood Mac é muito mais do que uma compilação: é uma janela aberta para o DNA do Fleetwood Mac em seu estado mais puro.


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