John Fogerty: review do show no Rio de Janeiro, dia 06/05/2011!


Vitor Bemvindo

Confesso que meu contato com a carreira de John Fogerty pós-Creedence Clearwater Revival era praticamente nulo até o ano passado, quando tive contato com o DVD The Long Road Home: In Concert, de 2006. Ao assistir aquele vídeo fiquei muito surpreso por ver um Fogerty em forma e tocando guitarra com um estilo bem diferente ao que o consagrou no Creedence. O show da última sexta, no Rio de Janeiro (Citibank Hall), reforçou a ideia de que ele não é um artista que parou no tempo.

O leitor mais crítico deverá pensar: “Como assim? O cara vive dos sucessos feitos no final dos anos 60 e início dos 70 e não parou no tempo?”. Respondo essa indagação dizendo que, mesmo tendo um repertório baseado nos grandes clássicos da banda que o consagrou, Fogerty atualizou a roupagem das canções, dando mais vigor àquelas músicas que muitos conhecem desde a infância.

Prova disso é a formação da banda que vem acompanhando o artista: além do próprio John Fogerty no vocal e na guitarra, o grupo conta com outras duas guitarras (Hunter Perrin e James Intveld), teclado (Andrew Morrison, que também se arrisca no violão em algumas partes do show), baixo (Dave Santos) e bateria (a cargo do ótimo Kenny Aronoff). Ou seja, um grupo bem mais encorpado que a formação clássica do Creedence, que contava com apenas duas guitarras, baixo e bateria. Só isso já ajudaria mudar bastante os arranjos das faixas, mas como vocês notarão a partir dessa resenha, Fogerty não se contentou com isso.

Desde a primeira canção da noite – a clássica “Hey Tonight”, do Creedence – pode-se notar que o que aconteceria naquele show não seria a mera execução fiel das canções. O peso que a banda com três guitarras trouxe para a faixa fez com que fãs de hard rock, como eu, começassem a abrir sorrisos surpresos.

O início do show foi matador! É simplesmente impossível ficar indiferente a uma sequência de grandes canções do Creedence como “Hey Tonight”, “Green River”, “Who’ll Stop the Rain”, “Susie Q”, “Lookin’ Out My Back Door”, “Lodi” e “Born on the Bayou”. A plateia, composta na sua maioria por senhores com mais de 50 anos, voltou aos gloriosos finais dos anos 60 e se divertiou como se estivesse acompanhando a apresentação do próprio Creedence no Woodstock, obviamente que com um pouco menos de entusiasmo e menos aditivos ilícitos (embora se pudesse sentir o cheiro de algumas ervas não convencionais no ambiente).

A plateia começou a demonstrar que não acompanharia o ritmo do anfitrião da festa quando o mesmo resolveu tocar uma música um pouco menos conhecida da sua banda original. Em “Ramble Tamble” (de Cosmo’s Factory, 1970), boa parte dos presentes se sentou e Fogerty, ao contrário, mostrou que não estava ali para brincadeiras. Ele começou a demonstrar o seu variado repertório de técnicas para tocar guitarra, o que surpreendeu a muitos dos presentes, já que nos tempos de Creedence, apesar da competência, nunca foi um guitarrista virtuoso. Definitivamente, Fogerty demonstrava que não havia parado no tempo.


Para que a plateia voltasse a entrar em sua sintonia, a banda trouxe mais dois clássicos, “Midnight Special” e “Cottom Fields”. A partir daí, Fogerty começou a intercalar músicas da sua carreira solo com sons do Creedence. Aliás, deve-se destacar a habilidade do artista em compor o set list. Ele não deixou de trazer composições mais recentes como “Hot Rod Heart” (de Blue Moon Swamp, 1997) e “Don’t You Wish It Was True” (de Revival, 2007), nunca deixando a plateia ficar alheia ao espetáculo, trazendo logo em seguida clássicos como “Have You Ever Seen the Rain?”.

Uma das surpresas da noite ficou pelo cover de “Oh, Pretty Woman”, composição de Roy Orbison. O peso com que a banda tocou a canção fez com que a música lembrasse mais a versão do Van Halen do que a gravação original.

Seguiram-se mais algumas canções do Creedence - “Up Around the Bend”, “Keep on Chooglin’” e “Down on the Corner” -, mais uma vez intercaladas com faixas solo. Desta vez, Fogerty trouxe três composições do seu álbum mais bem-sucedido dos anos 80, Centerfield: “Rock and Roll Girls”, a faixa-título, e “The Old Man Down the Road”. Particularmente, considerei essa parte do show o ponto fraco. Esse disco traz os exageros das produções daquela década e, especialmente, “Centerfield” é uma canção indigna da carreira do artista.

O primeiro set foi encerrado com mais dois grandes clássicos do Creedence: “Bad Moon Rising” e “Fortunate Son”. O público delirou e Fogerty se retirou com os seus companheiros com gritos que pediam a sua volta. O pedido não demorou a ser atendido, e eles retornaram ao palco para executar a canção mais popular da carreira-solo do artista: “Rock All Over the World”, do álbum John Fogerty, de 1975. Para encerrar uma noite inesquecível de rock, mais um clássico: “Proud Mary”, do segundo disco do Creedence, Bayou Country, de 1969.

Acredito que todos que deixaram o Citibank Hall na noite de 6 de maio de 2011 saíram com o sentimento de que presenciaram um grande show. Talvez muitos tenham se surpreendido com a forma e o vigor de John Fogerty no palco. A voz do artista parece ter sido preservada em formol, e sua forma de tocar parece em grande evolução. Garanto que foi impossível não se satisfazer ao ver grandes clássicos do Creedence com uma roupagem moderna e revigorada.


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