Rolling Stones na capa da nova Rolling Stone Brasil

Os 50 anos dos Rolling Stones não poderiam passar batidos pela Rolling Stone brasileira. A nova edição da revista traz uma matéria especial sobre esse momento histórico, em um número para guardar com carinho em casa.

Além disso, a edição 71 tem matérias com Alabama Shakes, Elvis Presley, Tom Zé, Green Day, Batman e muito mais.

Abaixo, você lê um trecho da matéria especial sobre os Stones presente na nova RS brasileira, que já está nas bancas de todo o país:

Talvez devêssemos simplesmente falar com o primeiro que aparecesse pela frente e fundar uma banda de rock com essa pessoa. Talvez isso dê sorte, em um lugar mágico como este. Mas falar com quem exatamente? As pessoas que esperam o trem na estação de Dartford ao meio-dia mais parecem artistas solitários. Uma pequena Missy Elliott, um jovem Notorious B.I.G., um indiano muito magro metido em um paletó. Na plataforma 2, o sol ofusca a vista. O trem das 12h30 para Londres, vindo da estação Charing Cross, já está chegando.

A estudante espalhafatosa de óculos de sol e iPod – ela iria querer fazer música à la Katy Perry. O senhor mais velho sentado ali atrás no banco lê um livro de economia – ele deve tocar flauta na orquestra de advogados. Se nesse dia de primavera de 2012, na estação de trem localizada no condado inglês de Kent, houvesse alguém na plataforma com um velho disco de blues debaixo do braço, essa sim seria uma doce e grande sensação, tal como foi há 51 anos.

Exatamente neste lugar, na manhã do dia 17 de outubro de 1961, uma terça-feira, Mick Jagger, 18 anos, esperava o trem, no seu caminho diário até a London School of Economics. Sabe-se lá por que, ele trazia consigo um LP de Chuck Berry e outro de Muddy Waters. Esse foi o motivo para chamar a atenção de Keith Richards, 17 anos, que iria pegar o mesmo trem na plataforma 2, a caminho da escola de artes na cidadezinha de Sidcup. Richards e Jagger conheciam-se superficialmente, mas agora tinham assunto. A conversa durou apenas 15 minutos, que era o trajeto até Sidcup. O importante é que se entenderam. A reação em cadeia começara. A pedra começou a rolar.

“O quê?”, espantam-se os dois funcionários uniformizados da estação de Dartford quando descobrem que no seu local de trabalho praticamente foram fundados os Rolling Stones. “E eles não colocam sequer uma plaquinha comemorativa?”, irrita-se o mais jovem, gorducho, com os dentes da frente tortos. “Um fato tão importante! Isso é típico dos nossos tempos: o que vale é só dinheiro, dinheiro, dinheiro. Não interessam mais as ideias. Se hoje tivéssemos algo como a Revolução Industrial, ela seria cancelada por falta de interesse!”

De fato, o escultor londrino Anthony Hawken há quase dois anos está empenhado em angariar 150 mil libras para colocar uma estátua da dupla Jagger/Richards na frente da estação. De resto, os velhos heróis já são suficientemente festejados atualmente, neste jubileu em 2012. São 50 anos de Rolling Stones, meio século depois do primeiríssimo show da banda, com filme, livro ilustrado e coisas extraoficiais em quantidade três vezes maior vindo pela frente. É que em 12 de julho de 1962, uma quinta-feira – cerca de nove meses após aquele encontro na estação – Jagger e Richards apresentaram-se pela primeira vez com sua própria banda. Foi no Marquee Club, na Oxford Street, em Londres, tocando clássicos do blues e rock and roll, como “Baby What’s Wrong?”, de Jimmy Reed, ou “Down the Road Apiece”, de Don Raye, e abrindo a apresentação de Long John Baldry, patriarca da cena R&B londrina. Como para tanto precisavam de um nome, se intitularam de Rollin’ Stones, sem a letra “g”, inspirando-se em uma canção do herói Muddy Waters. Os aspirantes ao Olimpo do rock eram Jagger (18 anos) nos vocais; Richards (18) e Brian Jones (20) nas guitarras; Dick Taylor (18) no baixo, Ian Stewart (23) no piano. E já começam aí os problemas.

Alguns dizem que naquela noite quem estava na bateria era Mick Avory (futuro membro do The Kinks) – outros dizem ter sido um certo Tony Chapman. Em um carta enviada ao jornal Jazz Newsescrita no dia 2 de julho, Brian Jones escreveu que nas baquetas estaria Earl Phillips, um veterano do blues que tinha tocado com Muddy Waters e Howlin’ Wolf. Claro que Phillips não tocou – era malandragem de Jones para alavancar o interesse no show. Existem poucas fotos dessa apresentação, mas nenhum tipo de gravação. Um set list escrito às pressas pelo pianista Stewart é associado ao show, mas parece demasiado longo, contendo 18 músicas. Ou seja, são pouquíssimos os detalhes a cerca de um evento de tamanha magnitude e importância. Naturalmente, em 12 em julho de 1962, ninguém poderia imaginar que justamente aquela noite viria a ser o marco fundamental para os capítulos definitivos da história do rock.



Comentários