Fleshgod Apocalypse: crítica de Labyrinth (2013)


Formado em Roma no ano de 2007, o Fleshgod Apocalypse rapidamente encontrou o seu devido espaço entre as toneladas de bandas de metal extremo que surgem a cada dia, boa parte graças à inteligente fórmula que tem como proposta unir o mais extremo death metal com um cuidadoso trabalho de arranjos orquestrais. Com turnês ao lado de nomes como Behemoth, Origin, Whitechapel e Decapitated, os italianos vem desenvolvendo a sua música singular a passos largos, como pode ser visto em Oracles, de 2009, e Agony, de 2011.


O novo trabalho, intitulado Labyrinth, produzido mais uma vez por Stefano Morabito e lançado pela Nuclear Blast, é uma obra conceitual que não se limita a contar o conhecido mito do minotauro no labirinto, mas utiliza-o como base para uma temática contemporânea e introspectiva, tanto lírica quanto musicalmente.


Seguindo a mesma linha de contrastantes elementos, “Kingborn” introduz ao álbum com uma violência não apenas construída graças ao absurdo trabalho da bateria e das guitarras, mas em como os arranjos orquestrais e operísticos estão bem mais a frente, agregando importantes detalhes a cada segundo. Um pouco diferenciada, “Minotaur (Wrath of Poseidon)” vem em seguida em ritmos menos acelerados, aonde os papeis se alternam, com a orquestra ditando o andamento da faixa, enquanto “Elegy” é o mais absoluto caos, como um campo de batalha aonde todos os instrumentos parecem estar travando uma guerra cacofonia de diversos momentos um tanto quanto desagradáveis, mas de excelentes resultados, em que cada pausa de tranquilidade é apenas um suspense antes de mais uma sucessão apocalíptica.


“Towards the Sun”, por outro lado, insere pequenos experimentos no que diz respeito à progressão e desenvolvimento da música, por caminhos tortuosos de um elevado sentimento épico que se mantém em “Warpledge”, com seus ritmos catastróficos que parecem um híbrido entre o Therion e a escola polonesa de death metal. E por falar no dinâmico leque de influências do Fleshgod Apocalypse, o lado mais melódico e ligeiramente próximo da sonoridade típica do power metal se revelam bem evidentes em “Pathfinder”, principalmente com as vozes limpas de apoio.


Descontroladamente, “The Fall of Asterion” amontoa passagens que se intercalam entre riffs do mais puro death metal com obscuras atmosferas daquele symphonic black metal tipicamente do final da década de noventa e arranjos neoclássicos. Como um momento de calmaria, os dedilhados acústicos de “Prologue” antecipam a miscelânea de passagens cadenciadas em “Epilogue”, faixa ascendente aonde a orquestra cria uma camada sonora extremamente representativa e coerente com o sentimento de superação da letra.


A mais longa faixa em um disco dos italianos, a epopeia “Under Black Sails” resgata ao longo de mais de sete minutos a raiz mais ligada ao technical death metal, as características mais presentes no seu primeiro álbum mescladas a insanidade sinfônica que eles atingiram aqui, elevando a complexidade de compreensão em mais alguns degraus. Como o soturno desfecho de uma tragédia grega, a peça instrumental que dá nome ao trabalho é como o despertar de um pesadelo que invariavelmente deixa marcas profundas na mente.


Até porque Labyrinth é definitivamente uma jornada, aonde o nível de imersão proporcionado por cada uma das faixas, bem como suas estruturas, torna a experiência exageradamente esquisita e excessivamente complexa, a princípio, tamanha a quantidade de elementos e pequenos detalhes (mas importantes) com os quais o Fleshgod Apocalypse golpeia incessantemente o ouvinte.


E exatamente como estar dentro de um labirinto, aonde o caminho escolhido toma rumos inesperados e você simplesmente não sabe (e teme) o que pode estar após cada mudança ou virada, o novo trabalho dos italianos extrapola o conceito metafórico sobre a exploração de si próprio para a forma como organiza as suas composições e como o caos é personificado em um álbum que se mostra extremamente interessante quando a sua proposta é entendida.


Grandes mudanças em relação ao disco anterior, Agony, que efetivamente colocou a banda entre os nomes singulares da geração mais recente da música extrema? De fato, não. Mas é perceptível como o Fleshgod Apocalypse amadureceu a sua fórmula de maneira notável, agregando de forma mais importante as influências já presentes em seus discos e enfatizando os seus elementos diferenciais, os personagens principais em Labyrinth.


Talvez sejam necessárias algumas tentativas de audição, mas eventualmente o caminho pode ser encontrado.


Nota 8,5


Faixas:
01. Kingborn
02. Minotaur (Wrath of Poseidon)
03. Elegy
04. Towards the Sun
05. Warpledge
06. Pathfinder
07. The Fall of Asterion
08. Prologue
09. Epilogue
10. Under Black Sails
11. Labyrinth


Por Rodrigo Carvalho, do Progcast

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