Discografia Comentada: Skid Row

O Skid Row tomou forma em 1986 e, desde então, vendeu cerca de 20 milhões de álbuns em todo o mundo. A popularidade adquirida assegura o quinteto entre os principais nomes do hard rock norte-americano dos anos 1980 e 1990. Músicas como "Youth Gone Wild", "18 And Life", "I Remember You" e "Monkey Business" fizeram bonito em paradas dos quatro cantos do globo e não há um ser vivo que jamais tenha ouvido qualquer uma delas uma vez que seja na vida. Enquanto aguardamos ansiosamente pelo segundo volume de United World Rebellion — previsto para este ano —, que tal um passeio pela discografia oficial do grupo? Aumente o som!



Skid Row (1989) 

Há discos que ajudam a definir toda a estética de um determinado estilo. É adequado situar o bolachão de estreia do Skid Row entre aqueles responsáveis pela identidade do glam metal do final dos anos 1980, quando este foi redescoberto pela mídia por causa do Guns N' Roses. Para conceber tal obra-prima, o quinteto oriundo de Nova Jersey contou com um background e tanto: gerenciamento de Doc McGhee, produção de Michael Wagener (de Under Lock and Key do Dokken e Soldiers Under Command do Stryper) e a garantia de excursionar abrindo para o Bon Jovi após o lançamento do álbum. Musical e esteticamente, Skid Row injeta todos os clichês do rock farofa numa veia onde corre um inegável apelo pop responsável, sobretudo, pela murder ballad "I Remember You". Tem também "Youth Gone Wild", a "My Generation" da juventude hard rocker oitentista. Os mais de 5 milhões de cópias vendidas somente nos EUA asseguraram ao grupo cinco discos de platina, mas não os impediu de pisar fora da própria sombra dois anos mais tarde. (Nota: 9)



Slave to the Grind (1991) 

O famoso ditado popular de que em time que está ganhando não se mexe é uma falácia perigosa, ainda mais dado o contexto no qual o Skid Row estava inserido na virada dos anos 1990. A boa vendagem de seu disco de estreia trouxe fama e fortuna à jato, mas a saturação do glam metal veio tão rápido quanto. O time propriamente dito foi mantido — a banda não trocou nenhum integrante e contou novamente com a produção de Michael Wagener —, mas a estratégia de jogo mudou e muito. Lançado em junho de 1991, Slave to the Grind marca o redirecionamento musical do Skid Row para o lado metálico da força a ponto de tocar as raias do speed metal com sua faixa-título. A desgastada fórmula das hair bands ainda se faz presente, mas com notável peso extra em "Monkey Business", o grande hit do álbum. As letras atingem um patamar mais alto ao se tornarem mais críticas e questionadoras e são vociferadas por um Sebastian Bach no auge de seu talento. A versão censurada inclui "Beggar's Day" no lugar de "Get the Fuck Out". (Nota 10)

 

B-Side Ourselves (1992) 

Tendo comido o pão que o diabo amassou na estrada, o Skid Row optou por uma pausa nas atividades. Nesse ínterim, a Atlantic Records pos na rua o EP B-Side Ourselves, com cinco gravações não originais, cada uma escolhida por um integrante da banda, com o propósito de mostrar ao mundo alguns dos nomes que os influenciaram musicalmente. De Ramones ("Psycho Therapy") a Rush ("What You're Doing") passando por uma belíssima releitura de "Little Wing", do Jimi Hendrix Experience que até videoclipe ganhou. Alguns desses covers já haviam sido previamente lançados como lados B de singles e a arrasadora versão ao vivo de "Delivering the Goods" do Judas Priest com participação especial de Rob Halford veria a luz do dia novamente anos mais tarde no também EP Subhuman Beings on Tour. (Nota: 7)



Subhuman Race (1995) 

Buscando uma sonoridade ainda mais agressiva, o Skid Row pôs fim à parceria com Michael Wagener, optando por Bob Rock, o cara por trás do black album do Metallica. Internamente, a banda estava degringolando, com duas frentes, lideradas uma por Rachel Bolan e outra por Sebastian Bach, praticamente sendo forçadas a botar a mão na massa e chegar a denominadores comuns a contragosto. O clima pesado refletiu nas gravações, definidas pelo baixista como "um pesadelo". Subhuman Race foi parido em março de 1995 trazendo uma claustrofóbica combinação de raiva com frustração e saco cheio. Nas letras, indiretas trocas de gentilezas — repare na despeitada "My Enemy" — e certo, porém maquiado pesar. A produção de Rock é crua e pontiaguda, e tudo parece ter sido captado com o menor número de takes possível, uma prática até então inédita para a banda. A crítica o abraçou, mas a maioria dos fãs não pensa duas vezes antes de defini-lo como o pior álbum do Skid Row com Tião no vocal. (Nota: 8)



Subhuman Beings on Tour (1995) 

O que seria do rock e do metal sem o Japão? Não é de hoje que a Terra do Sol Nascente ocupa o papel de maior mercado consumidor desses gêneros no planeta. Nada mais justo, então, do que presentear o público de lá com lançamentos, a princípio, exclusivos. Subhuman Beings on Tour foi a maneira que o Skid Row encontrou de agradecer aos japoneses pelos anos de fidelidade e investimento. O EP reúne algumas pedradas gravadas durante a turnê de Subhuman Race, que incluiu shows abrindo para o Van Halen. No palco, a banda simplesmente entregava o máximo do que ainda restava de si e estupros sonoros como "Riot Act" e "Beat Yourself Blind" davam carta-branca para que, cada qual no seu mundinho, enlouquecesse pra valer. Esta turnê seria o fim da linha para Sebastian Bach, demitido em 1996. (Nota: 6)



40 Seasons: The Best of Skid Row (1998) 

Como toda coletânea, esta que se propõe a fazer um apanhado das melhores músicas lançadas pelo Skid Row até então bate na trave. Os números justificam a maioria das escolhas por aqui, logo a presença de "The Threat" ao invés de "In a Darkened Room" ou "Wasted Time" merece um grande ponto de interrogação — por mais que a música seja animal. A trinca extraída de Subhuman Race recebeu nova mixagem, com contornos mais bem definidos, visando o ouvinte apenas casual. No fim das contas, são somente três as faixas que justificam o investimento: versão demo de "Frozen" com a esquisita introdução original, a perfeita "Forever" (deixada de fora do disco de estreia aos 45 do segundo tempo) e "Fire in the Hole", um dos muitos registros descartados das sessões de Slave to the Grind. (Nota: 7)



Thickskin (2003) 

O Skid Row adentrou o novo milênio sem sua peça mais fundamental ao meu ver. O escolhido para substituir Sebastian Bach foi Johnny Solinger, do grupo que levava o seu sobrenome. Mudança também na bateria, com Phil Varone, do inexpressivo Saigon Kick, assumindo a vaga deixada por Rob Affuso. Ainda que o nome falasse por si só e a coisa caminhasse mesmo que a passos de tartaruga, muitos foram os fãs que viraram as costas para o Skid Row sem Sebastian Bach. A rejeição latente foi alimento durante as gravações de Thickskin, lançado de maneira independente em agosto de 2003. "Ghost", escrita em parceria com Damon Johnson (Alice Cooper, Thin Lizzy) e primeira música de trabalho, exemplifica o teor alternativo que muito me desagrada. Para quem estava acostumado com o Skid Row que era mais voz do que qualquer outra coisa, pode ser um baque perceber que o centro das atenções agora é a guitarra. (Nota: 4)



Revolutions per Minute (2006) 

Lembram do Michael Wagener? Pois é, ele voltou e nele foram depositadas todas as esperanças de um futuro melhor. Tendo Phil levado o seu Varone para a indústria pornô, Dave Gara (futuro BulletBoys) assumiu a bateria. Se restava alguma dúvida quanto a posição de liderança dentro do grupo, o fato de nove das doze faixas de Revolutions per Minute terem sido escritas por Rachel Bolan não deixa pedra sobre pedra. Em seu segundo trabalho, o novo Skid Row, sob a tutela agora cautelosa do baixista, volta a ter o hard rock como fio condutor, mas acaba errando feio nos fatores carisma e personalidade, o que compromete o seu desempenho ao vivo. A descrença dos fãs na banda sem Bach só aumentou, por mais que a crítica reforçasse o potencial imenso que havia ali. Todos torcemos o nariz sem saber que, sete anos mais tarde, o gigante acordaria. (Nota: 5)



United World Rebellion: Chapter One (2013) 

Foram sete anos sem lançar nada de novo, apenas batendo ponto em festivais e eventos dedicados ao hard rock nos EUA e na Europa. Cada integrante se dedicou a diferentes atividades (para quem não sabe, Dave Sabo empresaria o Duff McKagan's Loaded, por exemplo) e as reuniões de trabalho eram pouco frequentes. Com os rumores a respeito de uma reunião da formação original efervescendo na mídia e ensopando as calcinhas das viúvas de Sebastian Bach, o Skid Row, agora com Rob Hammersmith na bateria, libera o primeiro capítulo da trilogia de EPs intitulada United World Rebellion em abril de 2013 e quem esperava mais do mesmo foi pego totalmente desprevenido. O que temos aqui é o sucessor direto de Subhuman Race; um jorro de canções poderosas do jeito que o Skid Row parecia ter esquecido como se faz com Johnny Solinger rebatendo o repúdio na base do grito e a banda aparentemente motivada a voltar a brilhar na cena. A torcida é para que a reserva de mana não tenha esvaziado e os capítulos seguintes venham com rebeliões ainda maiores. (Nota: 8,5) 


Por Marcelo Vieira


Comentários

  1. Vocês realmente escutaram o Revolutions Per Minute com atenção? O disco é praticamente um Punk Rock dos mais ruins.

    Porém, concordo com todas as notas.

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  2. Nossa cara, esse é aquele tipo de banda que não consigo ouvir um disco inteiro. Mas deve ter sua qualidade pra tanta gente gostar.

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  3. Slave to the Grind é um dos discos mais agressivos e um dos melhores que uma banda de Hard Rock já gravou, só não dá pra escutar perto de parentes ou de amigos que não curtem o mesmo estilo musical que você porque se não é reclamação na certa.

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  4. Apesar de ter ouvido todos e concordo com as notas também eu acho o primeiro disco muito bom dar para ouvir inteiro sem enjoar o slave tô the Grind é Genial e os outros discos são ruins.

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