Os 10 discos essenciais do heavy metal setentista


A década de 1970 definiu tudo o que sabemos, amamos e curtimos no heavy metal. Foi uma época gloriosa em que as regras não existiam e uma atitude livre permitiu o nascimento de um gênero, que tomou o som pesado de bandas do final dos anos 1960 como Cream e The Who e transformou em algo novo.

Não que alguém tenha chamado isso de “metal" na época. Era heavy rock, ou hard rock - uma fusão de blues e psicodelia embalada com uma atitude vinda direto da cultura do motocilismo. Os fãs foram atraídos pela devoção às guitarras barulhentas, à imagem machista e a algo muito distante das tendências do pop, da disco music e do punk que dominavam o mainstream no período.

Para ser honesto, não há uma definição real de heavy metal nos anos 1970, porque os caminhos sonoros propostas pelas bandas eram muito abrangentes. Era mais do que música: era uma espécie de religião. Um tempo de verdadeiros pioneiros, acentuada pela ingenuidade e pela inocência. Foi quando os gigantes nasceram. E, vamos encarar a verdade, as grandes bandas de metal daquela época ainda reinam supremas.


Black Sabbath - Black Sabbath (1970)

O disco que resumo não apenas o heavy metal dos anos 1970, mas o irresistível apelo de todo o gênero. A faixa-título é a encarnação de tudo que o metal representa. Meditativa, misteriosa, épica, o mais próximo que uma canção poderia chegar de representar o heavy metal com o seu clima sombrio, distorção retorcida e o blues sendo filtrado através da ótica britânica, em um trabalho realizado por músicos com origem na classe trabalhadora. O fato é que quase não se sente a produção do disco, realçando a qualidade atemporal de faixas como “The Wizard” e “N.I.B.”. De uma simplicidade genial, o álbum é um monumento à inovação gerada pela falta de recursos.


Deep Purple - Machine Head (1972)

Tem “Highway Star”, “Space Trickin’” e, claro, “Smoke on the Water”, indiscutivelmente o mais conhecido riff de guitarra da história. O melhor momento da MK II do Deep Purple permanece um testamento à maneira com que o metal é capaz de unir uma atmosfera evocativa, musicalidade incrível e vocais arrasadores. Sua mistura voraz de momentos virtuosos e força de vontade tem inspirado inúmeras bandas nos últimos 40 anos. Cada canção teve até a última gota de inspiração arrancada, e ouvi-lo não deixa dúvidas de que estamos presenciando uma das maiores bandas de todos os tempos no auge de seus poderes.


Kiss - Alive! (1975)

O Kiss se tornou um fenômeno cultural com este álbum duplo. A banda colocou as cartas na mesa, e as coisas funcionaram. De maneira brilhante, pra falar a verdade. Entregando um show ao vivo sempre impressionante, o grupo uniu de maneira inteligente os maiores hinos dos três discos de estúdio anteriores, em versões cheias de energia. É um trabalho totalmente arrebatador, que levou gerações de crianças à frente de seus espelhos, pintados com as maquiagens de suas mães e cerrando os punhos enquanto cantavam “Rock and Roll All Nite” e “Strutter" a plenos pulmões. Quantos destes pequenos não chegaram ao próprio estrelato anos mais tarde?


Ted Nugent - Ted Nugent (1975)

Se soa muito alto, é você que está muito velho!”, declarou Nugent sobre sua estreia solo, que destruiu os tímpanos de todo mundo quando chegou às lojas - e que ainda soa incrível quatro décadas depois. Após dar início à sua carreira com o The Amboy Dukes, Ted Nugent deixou para trás qualquer tipo de sutileza e tocou o mais alto que conseguiu. Este é um disco cheio de momentos clássicos, de “Stranglehold" a “Stormtoopin'" e “Motor City Madhouse”. Nugent foi o mais louco FDP a empunhar uma Gibson Byrdland salivando raiva!


Judas Priest - Sad Wings of Destiny (1976)

Foi com este disco que o Judas Priest encontrou sua identidade e se transformou em uma das pedras fundamentais do heavy metal. Depois de tropeçar em suas ideias na estreia Rocka Rolla, a banda mudou as coisas aqui. As guitarras gêmeas de Glenn Tipton e K.K. Downing definiram um novo caminho para o gênero, quanto a voz de Rob Halford decolou e conquistou corações e mentes. “Victim of Changes”, “The Ripper”, “Dreamer Deceiver”, “Tyrant" e “Genocide" ainda fazem marmanjos sentirem arrepios na espinha. O disco não foi apenas um marco para a banda, mas também para todo o gênero, tornando-se um modelo que muitos iriam seguir nos anos que viriam.


Rush - 2112 (1976)

Um álbum conceitual baseado nos escritos do obscuro autor de direita Ayn Rand e interpretado por três canadenses, um dos quais - o baterista Neil Peart - exibia um vistoso bigode. Sim, temos aqui uma bela receita para um prog metal brilhante! Não apenas o disco que apresentou o Rush para um público muito mais amplo, 2112 exibiu tamanha confiança, bravura e técnica que permanece quase intocável como o pináculo do metal conceitual. Alguns interpretaram o trabalho como se o Rush tivesse opiniões conservadoras e de direita, mas os fãs entenderam: 2112 era uma senhora obra de arte.


Rainbow - Rising (1976)

Magos, arco-íris, mulheres místicas. Tudo isso está no disco que colocou o Rainbow no mapa. O histrionismo da guitarra de Ritchie Blackmore encontrou o companheiro ideal na voz de Ronnie James Dio, um homem vindo direto de um mundo medieval habitado por castelos, reis e rainhas. Se “Stargazer" era a tour de force, então “Tarot Woman”, “Starstuck" e “Run With the Wolf” também apresentavam belos golpes de fantasia. Apesar das pretensões de seu lirismo e de suas aspirações musicais, o disco foi feito com tamanha convicção que qualquer fã de metal reconhece a sua força, mesmo atualmente.


Van Halen - Van Halen (1978)

No fim da década o metal necessitava de algo novo, e obteve a resposta com o Van Halen. Eddie reinventou a figura do herói da guitarra com sua técnica, fazendo nascer uma geração de imitadores. David Lee Roth trouxe humor e non-sense para a mistura, e cada faixa deste disco de estreia soa como uma obra-prima. O Van Halen ganhou o direito de liderar uma nova era no metal, com um álbum que era totalmente diferente de tudo que havia sido feito antes. O Kiss pode ter se auto-proclamado “a banda mais quente do mundo”, mas em 1978 esses quatro garotos eram a banda mais legal do planeta.

Scorpions - Lovedrive (1979)

Revigorando completamente a sua música e o seu estilo, a desde sempre maior banda de metal da Alemanha encontrou seu nicho com este notável disco. Você podia quase sentir as doses cavalares de testosterona que foram despejadas em músicas como “Another Piece of Meat”, “Loving You Sunday Morning” e “Can't Get Enough”. Apesar de algumas canções descaradamente mais descontraídas como “Holiday" e “Coast to Coast”, o Scorpions construiu uma reputação duradoura com Lovedrive. Eles definiram vários clichês do heavy metal, e nós amamos isso.


Motörhead - Overkill (1979)

O Motörhead era o primo assimétrico do Hawkwind - mais sujos, mais desagradáveis e mais rock and roll que os antigos empregadores de Lemmy Kilmister. Overkill convenceu o público de metal cético que o trio era essencial. Muito distante da adversidade mais manufaturada e uniforme da maioria dos seus pares, o Motörhead apenas aumentou o volume e deixou tudo rolar. Foi com o pé no fundo e em alta velocidade, em todos os sentidos, transformando Lemmy, “Fast" Eddie Clarke e “Philthy Animal” Taylor em ícones para os iconoclastas. “No Class”, “Damage Case”, “Metropolis" e a imortal faixa-título são clássicos imunes ao tempo.

Por Malcolm Dome, da TeamRock
Tradução de Ricardo Seelig

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