Minha Coleção: conheça André Ribeiro e sua infinita paixão pelos Rolling Stones


André, você participou da Collectors Room há sete anos, em junho de 2010. O que mudou de lá pra cá na sua coleção?

Cara, para falar bem a verdade, muita coisa. Evidentemente ela cresceu bastante, a ponto de eu perder o controle e hoje não ter mais nem ideia de quantidade de CDs, LPs, DVDs e afins. Nesses anos todos, de 2010 para cá, eu mudei de apartamento, e no novo endereço eu criei o Stones Shrine, que é um quarto onde tenho todas as minhas coisas.

O mais importante, eu acho, foi eu ter a noção que existem muitos colecionadores no Brasil com coleções muito grandes ou se não tão grandes numericamente, em comparação a muitos gringos, em importância de itens, como o Márcio Sell, o Nelio Rodrigues, o Pedro de Freitas Branco, o Fred Cesquim. Enfim, há bastante gente.

Acho que o principal é que me dei conta que esses caras são de fato colecionadores. Eles são especialistas em determinadas coisas e colecionam aquilo. Tipo, o Márcio coleciona LPs oficiais dos Stones. Tem uns 500 ou mais. Eu sou um fã fanático, que por ser fã há 35 anos acumulei muitas coisas dos Stones, mas sem um método de colecionador de fato. No meu Stones Shrine tem um pouco de tudo ainda. De posters, pinturas a CDs, LPs, livros, de tudo.

Quantos discos você tem em sua coleção?  

Eu perdi o controle. Eu vou chutar e isso é chute mesmo, que eu tenha uns 400 CDs, uns 200 LPs, uns 350 DVDs, mais ou menos 100 livros e por aí vai. Eu preciso fazer uma reforma no Shrine para poder organizar melhor as coisas e aí vou tentar catalogar tudo de novo. Realmente esses números são chute e pode ser bem mais ou menos.

O quanto ela cresceu de 2010 pra cá? 

Eu estimo que ela deva ter crescido de 40 a 50%. Neste período eu me concentrei muito em boxsets. Esses Real Alternates Albuns e coisas do tipo. Tenho várias dessas e outras similares, como deluxe e super deluxe boxsets.




Porque você decidiu começar a comprar mais LPs e deixar os CDs em segundo plano?

Isso é um ponto interessante. Cara, eu até uns anos tinha praticamente apenas CDs. Acho que em 2010, por exemplo, tinha praticamente só CDs. Mas com os lançamentos dessas caixas luxo e essas piratas bacanas, eu passei a comprar mais vinis, pois as edições mais legais são as com LPs. E vamos falar a verdade, o vinil é um item muito mais bacana em termos de coleção. Ocupa mais espaço, talvez seja menos prático, mas tu pegas um CD e um LP e a comparação visual é piada. Hoje em dia, e isso é recente mesmo, de uns anos para cá eu passei a comprar muito mais LPs do que CDs, mas ainda compro os dois.

Eu tive de dar uma segurada na onda na compra de discos, porque de 2012 para cá os Stones não pararam mais de fazer shows. E minha prioridade sempre é vê-los ao vivo, colecionar shows e histórias, então neste período foram onze shows por Brasil, Estados Unidos, Portugal, Inglaterra, Argentina, Chile e Uruguai. O que faz eu ter 17 no total (três voltas ao mundo). E agora em outubro vou vê-los mais três vezes em Paris. Isso é muito caro, chega a doer quando penso. Então meu ritmo caiu um pouco em termos de compra, mas é claro que eu não resisto e acabo comprando, só acabo sendo mais seletivo.

Quando você começou a colecionar discos?

Difícil dizer. Mas acho que foi mais ou menos junto com o meu interesse por rock e pelos Stones, lá por 1981/1982. Só que neste tempo todo fiz muita burrada. Vendi e troquei dezenas de LPs pra comprar CDs. Tipo nos anos 1990, quando os CDs foram moda. E aí comecei quase do zero com CDs e de um tempo para cá voltei a me concentrar mais em LPs. Se eu pensar muito nisso fico puto da cara.

Você lembra qual foi o seu primeiro disco? Ainda o tem em sua coleção?

Lembro sim. Foi um Milestones, uma coletânea lançada pela Decca, acho que originalmente em 1972.




Quando caiu a ficha e você percebeu que não era só um ouvinte de música, mas sim um colecionador de discos?

Olha, quando começou a faltar espaço em casa. Quando tive de ter um quarto ou uma área no apartamento apenas para guardar a minha coleção. Porque a gente se concentra muito nos discos, mas tenho posters, quadros autênticos de Ronnie Wood, de Sir Peter Blake e de Tom Noll, bonecos e uma baqueta usada pelo Charlie Watts, palhetas de Keith, Mick e Ronnie, e isso tudo exige espaço. Então acho que me dei conta mesmo quando vi que já não tinha mais onde guardar as coisas.

Como você organiza a sua coleção? Por ordem alfabética, de gêneros ou usa algum outro critério?

Por data. Os CDs e DVDs que são mais numerosos por data, do mais antigo para o mais recente. Mas atualmente, como eu não tenho mais espaço, nem com o Shrine, meio que virou uma zona. Mas a ideia é essa, por datas. E separo também discos dos Stones de discos solo deles, organizando sempre por data. Tenho ainda uma separação de itens oficiais e de bootlegs. Ao menos deveria ter.

Onde você guarda a sua coleção? Foi preciso construir um móvel exclusivo pra guardar tudo, ou você conseguiu resolver com estantes mesmo?

Na verdade tive de criar um quarto, como mencionei. O Stones Shrine nasceu inspirado no The Keith Shrine, que é o website de uma amiga norte-americana chamada Tamara Guo, conhecida como Blue Lena. Então, é neste lugar, onde não deixo ninguém entrar sem convite (ninguém limpa o quarto além de mim), que guardo toda a "tralha". Mas preciso reformar aquilo para poder ter tudo certinho, mas com tantos shows, não consegui ainda chegar lá.



Que dica de conservação você dá para quem também coleciona discos?

Aqui em Porto Alegre a gente tem muito problema com unidade e mofo. Então tem de ser um lugar em que bata sol no inverno, porque senão mofa tudo, fica um nojo. Tem de ter sol e ser arejado. Quartos sem sol aqui em Porto Alegre são um pavor para coleção, porque mofam as capas, mofam os discos, especialmente CDs e DVDs. Aí tem de ir lavar tudo. Ok lavar uma ou duas peças, mas mais de mil?

Você já ouviu tudo que tem? Consegue ouvir os títulos que tem em sua coleção frequentemente?

Se não ouvi tudo, ouvi quase tudo ao menos uma vez. Os LPs com certeza. Os CDs deve ter alguma coisa que escapou. Os DVDs vi todos pelo menos uma vez. Mas eu ouço sempre os discos. Claro que tenho alguns preferidos e esses rodam mais.

Quais são os itens mais raros, e também aqueles que você mais gosta, na sua coleção?

Acho que até hoje a pintura Pensive, que é uma autêntica assinada pelo Ronnie Wood, numerada e etc. Também tenho uma obra de Sir Peter Blake, que é chamada Stu. Trata-se da capa do disco Boogie 4 Stu, de Ben Waters. Ela é assinada pelo Peter Blake e pelo Ben Waters, sendo numerada também. Tenho outras duas pequenas gravuras do Ronnie, além da baqueta do Charlie, usada em Barcelona-2007, e algumas palhetas dos Stones. Quanto a vinil, o que mais gosto ainda é a caixa de 3 LPs limitadíssima do show do Ronnie Wood no Ambassadors Theatre 2010 e talvez o LP duplo do Boogie 4 Stu, edição japonesa.




Você é daqueles que precisa ter várias versões do mesmo disco em seu acervo, ou se contenta em completar a discografia?

Não, exatamente por isso eu me considero muito mais um fã fanático do que um colecionador de fato, porque eu não tenho esses preciosismos de colecionador, que eu acho legal, mas não tenho. Eu coleciono aquilo que gosto e que me chama atenção, acho interessante, mas eu não tenho essa coisa de "ter a discografia russa completa", por exemplo.

Em uma época como essa, onde as lojas de discos estão em extinção, como você faz para comprar discos? Ainda frequente alguma loja física ou é tudo pela internet?

Cara, eu compro meus discos de fora, pela internet. Como eu abri uma pequena loja de discos e afins no meu site, eu trago as coisas de fora direto, há muito tempo faço assim. Tenho fornecedores na Europa que me mandam itens oficiais e bootlegers amigos que me mandam também as coisas direto, o que reduz muito meus custos.  Posso comprar mais barato e até vender com preços menos salgados, no caso dos itens que coloco na loja do meu site. Então, eu basicamente trago direto.

Que loja de discos você indica para os nossos leitores? 

Seria muita cara de pau indicar a minha própria loja, que é mais voltada para Stones, embora eu possa vender qualquer disco, mas a gente tem pessoas sérias no mercado como o Fred da Record Collector e o Rogério da Boca do Disco, aqui de Porto Alegre. Felizmente temos algumas lojas sérias, com gente boa e há muito tempo no mercado.




O que as pessoas pensam da sua coleção de discos, já que vivemos um tempo em que o formato físico tem caído em desuso e a música migrou para o formato digital?

Bah, MP3 e essa coisa é um troço que não existe para mim. Música tem de existir em LP, CD, CD-R até que seja. Mas MP3 eu não aguento. Tipo, vejo caras me dizerem que têm todos os discos dos Stones. Ok, aí tu vais ver e toda coleção é em MP3 num celular. Ah, não. Eu respeito e tudo mais, mas não é para mim. 

Sobre a minha coleção, acho que as pessoas pensam que eu tenho muito mais coisas do que eu tenho, na verdade. Talvez eu passe essa ideia sem querer. Usualmente quando os amigos vêm aqui em casa, especialmente a gurizada mais nova, a primeira coisa que pedem é para irem ver o Shrine. Acho que ficam meio que se sentindo num parquinho de diversões, mas alguns talvez fiquem meio decepcionados, esperando maior quantidade. Mas sem dúvida as pinturas, a baqueta e essas coisas chamam atenção.

Você se espelha em alguma outra coleção de discos, ou outro colecionador, para seguir com a sua? Alguém o inspira nessa jornada?

Eu tenho alguns amigos colecionadores, que são os mesmos que citei em 2010 e que são caras que eu respeito muito. Matt Lee (Inglaterra), Gary Malfatti (Estados Unidos), Alex Carrasco (Chile), Cesar Bersais (Argentina), além do povo daqui, como o Nelio, o Márcio, etc.

Qual o valor cultural, e não apenas financeiro, que você vê em uma coleção de discos?

Gigantesco. Não há como viver sem música. Tente imaginar a vida sem música. E no meu caso, sem música e sem os Rolling Stones. Impossível. A música me fez ampliar horizontes, viajar, conhecer muitos lugares, fazer muitas amizades. A música é um idioma por si só, que reúne as pessoas em torno dela. A música é uma das coisas mais fundamentais da vida. Não tem preço.




Vai chegar uma hora em que você vai dizer "pronto, tenho tudo o que queria e não preciso comprar mais discos", ou isso é uma utopia para um colecionador?

Não vai chegar. Porque como colecionador dos Stones eu sei que eles têm muita coisa guardada no baú e que isso vai ser lançado ao longo dos anos. E eu ainda quero mergulhar no mundo do blues, ir em busca das influências dos Stones. E isso eu vou fazer. Assim que passar a fase das tours, eu vou mergulhar nisso. Hoje em dia estou mesmo colecionando shows, histórias e viagens, mais do que discos.

O que significa ser um colecionador de discos?

Significa para mim que você é um apaixonado. Muita gente toma o colecionador por louco ou idiota. Mas eu não deixo minha filha passar fome para comprar um disco. Compro quando posso. E eu não conheço colecionador que faça isso. Todos trabalham, têm suas vidas, casas e também suas coleções. Fora isso, temos acumuladores, que é uma coisa diferente, uma doença. O colecionador é um apaixonado, um pesquisador.



O que significa pra você ter mostrado e voltar a mostrar a sua coleção aqui na Collectors Room?

Acho muito legal, porque na minha primeira entrevista para o Maurício eu acredito que não tenha conseguido me expressar muito bem, tomara que tenha acertado agora. Especialmente nessa coisa de maior ou menor coleção. E não tem isso, não tem competição, nada disso. Tem respeito e admiração pelos outros amigos colecionadores. Não apenas de Stones, mas do que seja. Há uma parceria muito bacana e na verdade é isso o que importa. Eu nem sei te dizer qual é a maior ou menor coleção de Stones no Brasil, mas sei que temos alguns amigos colecionadores com peças muito legais. Eu acho o Collectors muito bacana e com uma proposta sensacional. Eu sei pela experiência em Stones Planet Brazil como é difícil construir alguma coisa séria. Manter um site como o Collectors há tanto tempo não é brincadeira, dá muito trabalho. E tomara que o trabalho continue por muito tempo ainda. É um prazer participar.

Pra fechar: o que você está ouvindo e o que recomenda para os nossos leitores?

Cara, tenho ouvido muito o novo disco do Charlie Watts com a big band dinamarquesa. Para quem gosta de jazz ou mesmo para quem nem é tão fã assim, é muito legal. Eles fazem algumas versões jazzísticas de canções dos Stones e outras coisas muito boas mesmo. Além disso, claro, o Blue and Lonesome, novo disco de blues dos Stones, que é fenomenal.

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