Por Ricardo Seelig
Colecionador
Fire and Water, lançado em 1970, é o disco mais conhecido do Free. Maior sucesso comercial do grupo, traz alguns dos grandes clássicos da banda, como a antológica "All Right Now", o hardão de "Fire and Water" e o pesadíssimo blues "Mr Big". Todo esse reconhecimento acaba, mesmo involuntariamente, ofuscando os outros trabalhos do grupo, fazendo com que os holofotes estejam focados em um único lugar. Por isso, escrever sobre um álbum como Free, segundo registro do grupo inglês, acaba sendo uma obrigação.
Após lançar o debut Tons of Sobs em novembro de 1968, Paul Rodgers, Paul Kossoff, Andy Fraser e Simon Kirke entraram em estúdio em abril de 1969 e começaram as gravações de seu segundo disco. A sonoridade de Free transita entre o blues de Tons of Sobs e o hard rock que marcaria seu próximo trabalho, o já citado Fire and Water. Além disso, há em Free algumas pitadas de soul (principalmente nas interpretações de Paul Rodgers) e funk (na malícia da guitarra de Kossoff e no balanço da cozinha de Fraser e Kirke), o que coloca um tempero a mais na já muito bem azeitada música do grupo.
O trabalho abre com "I´ll Be Creepin´", um blues funk sacana e sensual. Primeiro e único single do disco (cujo lado B trazia "Sugar for Mr Morrison"), destaca-se pela linha segura do baixo de Fraser e pela voz única de Rodgers, que canta com um sentimento que vem do fundo da alma. A cativante "Songs of Yesterday", um dos cavalos de batalha da banda, tem um excepcional trabalho de guitarra de Paul Kossoff, repleto de classe e sentimento. A reflexiva "Living in the Sunshine" exterioriza as influências soul de Rodgers e, simultaneamente, mostra toda a sensibilidade de Kossoff ao violão.
O clima volta a esquentar com "Trouble on Double Time", um hard rock repleto de balanço onde o destaque é a interpretação de Paul Rodgers. O contraponto vem com "Mouthful of Grass", uma bela instrumental onde coros vocais surgem no arranjo, acrescentando ainda mais harmonia à composição. Como curiosidade, vale citar que "Mouthful of Grass" foi lançada como b-side do single de "All Right Now" em maio de 1970, funcionando como perfeita antítese ao apogeu hard daquele que é o maior clássico do Free.
O blues rock dá as caras na ótima "Woman", uma das mais consistentes faixas gravadas pelo grupo em toda a sua carreira, trazendo performances individuais absolutamente brilhantes de Rodgers, Kossoff, Fraser e Kirke.
A climática e hipnótica "Free Me", calcada no baixo de Andy Fraser, traz um ótimo arranjo onde os destaques são os backing vocals e o solo de Paul Kossoff, que lentamente entrega notas simples, mas carregadas de emoção. "Broad Daylight" reúne o peso instrumental do grupo ao apelo soul da voz de Rodgers, e traz mais um ótimo solo de Kossoff. Outra curiosidade: "Broad Daylight" foi o primeiro single lançado pelo Free, em março de 1969, sendo sucedido por "I´m Mover / Worry", faixas do disco de estreia da banda, Tons of Sobs, de 1968.
Free encerra-se com a balada "Mourning Sad Morning", onde a interpretação única de Paul Rodgers ganha o acompanhamento de uma inusitada flauta doce tocada por Chris Wood (Traffic) que, ao lado dos inspirados backing vocals, fazem com que ela seja, ao mesmo tempo, uma das mais belas canções registradas pelo Free e uma das mais diferentes músicas que o grupo gravou.
O álbum ganhou uma excelente reedição remasterizada em 2001, que trouxe nada mais nada menos que dez faixas extras. Estão lá o primeiro compacto do grupo ("Broad Daylight / The Worm"); as versões do compacto "I'll Be Creepin' / Sugar for Mr Morrison", onde "I´ll Be Creepin´" soa mais crua que a mixagem final presente no disco; "Songs of Yesterday" e "Broad Daylight" gravadas ao vivo nos estúdio da BBC, em Londres; "Mouthful of Grass (Solo Version)", onde temos apenas o violão de Paul Kossoff, deixando claro todo o talento e sensibilidade do falecido guitarrista; versões alternativas de "Woman" e "Mourning Sad Morning", além de "Trouble on Double Time" em um de seus primeiros registros, bem diferente da versão final que conhecemos, mostrando o quanto o grupo evoluiu seu arranjo até chegar naquele que julgou ideal.
Historicamente, foi neste segundo trabalho que a parceria entre Paul Rodgers e Andy Fraser se consolidou. Os dois dominam a composição das faixas, preparando o terreno para o que iriam fazer em Fire and Water e nos trabalhos seguintes da banda.
Free é um ótimo disco daquilo que se convencionou chamar de blues rock, devidamente acrescido do peso do hard rock e de um muito bem-vindo tempero funk.
Clássico e obrigatório.
Faixas:
1. I'll Be Creepin'
2. Songs of Yesterday
3. Lying in the Sunshine
4. Trouble on Double Time
5. Mouthful of Grass
6. Woman
7. Free Me
8. Broad Daylight
9. Mourning Sad Morning
10. Broad Daylight (Single Version)
11. The Worm (Single Version)
12. I'll Be Creepin' (Single Version)
13. Sugar for Mr. Morrison (Single Version)
14. Broad Daylight (BBC Session)
15. Songs of Yesterday (BBC Session)
16. Mouthful of Grass (Solo Version)
17. Woman (Alternative Version)
18. Trouble on Bouble Time (Early Version)
19. Mourning Sad Morning (Alternative Version)
1. I'll Be Creepin'
2. Songs of Yesterday
3. Lying in the Sunshine
4. Trouble on Double Time
5. Mouthful of Grass
6. Woman
7. Free Me
8. Broad Daylight
9. Mourning Sad Morning
10. Broad Daylight (Single Version)
11. The Worm (Single Version)
12. I'll Be Creepin' (Single Version)
13. Sugar for Mr. Morrison (Single Version)
14. Broad Daylight (BBC Session)
15. Songs of Yesterday (BBC Session)
16. Mouthful of Grass (Solo Version)
17. Woman (Alternative Version)
18. Trouble on Bouble Time (Early Version)
19. Mourning Sad Morning (Alternative Version)
Parabéns, Cadão! Excelente texto e grande homenagem a esse disco subestimado, que, na minha opinião, é capaz de rivalizar tranqüilamente com "Fire and Water" pelo posto de melhor da banda. De quebra, ainda traz uma das capas mais lindas da história!
ResponderExcluirIvanildo, sensacional mesmo. Abração.
ResponderExcluirPra mim é o melhor disco da banda, depois acho que eles caíram numa deprê, privilegiando mais as baladas tristonhas e intimistas. Aqui ainda tinha muito rock e blues feito com as vísceras!
ResponderExcluirÓtimo texto, Cadão!