Por Ricardo Seelig
Colecionador
Collector´s Room
Em meados dos anos sessenta existia uma rixa - ainda que indireta - entre o jazz e o rock. Enquanto os músicos de jazz se ressentiam de perder sua estabilidade nas paradas pelos grupos de rock, com os Beatles e os Stones só como exemplos óbvios, os músicos de rock se irritavam com o nariz empinado com que os jazzistas se colocavam diante deles, chamando-os de instumentistas de segunda classe ou inexperientes demais.
Porém, coube a Miles Davis, de novo e mais uma vez, o pioneirismo e a ousadia de fazer essa união de forma radical, grandiosa e genial. Davis, um conservador nato, cansado da mesmice estética na qual o jazz se encontrava, começou a estudar uma forma de criar um novo estilo e uma nova forma de se apresentar para o seu público. Em agosto de 1969 reuniu um grupo de talentosíssimos músicos e decidiu unir o jazz a elementos africanos, como o blues, o funk negro norte-americano e um certo tempero latino. A partir daí nasceria um dos discos mais influentes, geniais e polêmicos da história da música, Bitches Brew, responsável pelo nascimento de um novo estilo de jazz, o fusion, que seria uma das principais influências estéticas e sonoras de boa parte do rock progressivo da primeira metade dos anos setenta.
Em seus quase 100 minutos, o que vemos é um artista desconstruindo e reconstruindo um gênero musical de forma genial. Temos a bombástica "Pharaoh´s Dance" e a antológica faixa-título, altamente introspectiva e com algumas explosões sonoras. Vemos Miles utilizar o talento de seus músicos de forma quase obsessiva, seja pela empolgante "Sanctuary" e, mais especificamente, em "Miles Runs the Voodoo Down", que mescla de forma impressionante o blues, o jazz e uma pitada de música africana em seus quatorze minutos de duração. Uma dica: fiquem atentos nessa faixa aos solos de sax de Wayne Shorter e de teclado de Chick Corea, absolutamente arrasadores.
O grande prazer de ouvir o álbum é perceber que Miles, além de só chamar músicos de primeira linha, fazia muito bom uso deles, utilizando suas capacidades muitas vezes à exaustão. Dizem que na faixa "John McLaughlin" o excelente guitarrista ouvia poucas e boas de Davis por, na opinião de Miles, não estar explorando todo o seu talento.
Para o rock progressivo o impacto não foi menor. Muitos músicos de prog rock (Robert Fripp, Robert Wyatt, John Wetton, Bill Brufford, Phil Collins, entre muitos outros) afirmam que Bitches Brew influenciou, e muito, a direção musical que seguiriam posteriormente. Além disso, a própria cena progressiva viria a ser muito influenciada pelo fusion, com bandas incorporando o recente gênero ao seu som. O King Crimson de 1972-74 e o Soft Machine pós-1970 são os exemplos mais evidentes.
Em meados dos anos sessenta existia uma rixa - ainda que indireta - entre o jazz e o rock. Enquanto os músicos de jazz se ressentiam de perder sua estabilidade nas paradas pelos grupos de rock, com os Beatles e os Stones só como exemplos óbvios, os músicos de rock se irritavam com o nariz empinado com que os jazzistas se colocavam diante deles, chamando-os de instumentistas de segunda classe ou inexperientes demais.
Se a partir de 1966/1967 o rock começa a incorporar (muito lentamente é verdade) elementos jazzísticos em sua alquimia, dando o pontapé inicial para o nascimento do que iria ser o rock progressivo, o jazz sofria com uma espécie de bloqueio em incorporar melodias ligadas ao rhythm´n´blues e ao folk, principalmente pelo fato de os artistas mais tradicionais - e parte da crítica especializada no gênero - pensarem que assim estariam dando uma espécie de atestado de que o gênero precisava de mudanças. Muitos achavam que essa união de estilos seria longa, gradativa e dolorosa.
Porém, coube a Miles Davis, de novo e mais uma vez, o pioneirismo e a ousadia de fazer essa união de forma radical, grandiosa e genial. Davis, um conservador nato, cansado da mesmice estética na qual o jazz se encontrava, começou a estudar uma forma de criar um novo estilo e uma nova forma de se apresentar para o seu público. Em agosto de 1969 reuniu um grupo de talentosíssimos músicos e decidiu unir o jazz a elementos africanos, como o blues, o funk negro norte-americano e um certo tempero latino. A partir daí nasceria um dos discos mais influentes, geniais e polêmicos da história da música, Bitches Brew, responsável pelo nascimento de um novo estilo de jazz, o fusion, que seria uma das principais influências estéticas e sonoras de boa parte do rock progressivo da primeira metade dos anos setenta.
Em seus quase 100 minutos, o que vemos é um artista desconstruindo e reconstruindo um gênero musical de forma genial. Temos a bombástica "Pharaoh´s Dance" e a antológica faixa-título, altamente introspectiva e com algumas explosões sonoras. Vemos Miles utilizar o talento de seus músicos de forma quase obsessiva, seja pela empolgante "Sanctuary" e, mais especificamente, em "Miles Runs the Voodoo Down", que mescla de forma impressionante o blues, o jazz e uma pitada de música africana em seus quatorze minutos de duração. Uma dica: fiquem atentos nessa faixa aos solos de sax de Wayne Shorter e de teclado de Chick Corea, absolutamente arrasadores.
O grande prazer de ouvir o álbum é perceber que Miles, além de só chamar músicos de primeira linha, fazia muito bom uso deles, utilizando suas capacidades muitas vezes à exaustão. Dizem que na faixa "John McLaughlin" o excelente guitarrista ouvia poucas e boas de Davis por, na opinião de Miles, não estar explorando todo o seu talento.
Ao ser lançado o disco causou um estardalhaço, tanto na crítica quanto no público. Ambos ficaram extremamente divididos, classificando o trabalho tanto de inovador e brilhante como de pretensioso e desnecessário. Apesar das controvérsias, ou por causa delas, Bitches Brew alcançou o top#10 norte-americano, vendendo mais de 500 mil cópias, um feito impressionante para um álbum de fazz.
Para o rock progressivo o impacto não foi menor. Muitos músicos de prog rock (Robert Fripp, Robert Wyatt, John Wetton, Bill Brufford, Phil Collins, entre muitos outros) afirmam que Bitches Brew influenciou, e muito, a direção musical que seguiriam posteriormente. Além disso, a própria cena progressiva viria a ser muito influenciada pelo fusion, com bandas incorporando o recente gênero ao seu som. O King Crimson de 1972-74 e o Soft Machine pós-1970 são os exemplos mais evidentes.
Após Bitches Brew, Miles ficaria ainda mais extremo, explorando em sua totalidade as possibilidades do fusion, lançando os excelentes On the Corner (1972) e Get Up With It (1974), mas sem o mesmo impacto comercial.
Faixas:
A1. Pharaoh's Dance - 20:06
A1. Pharaoh's Dance - 20:06
B1. Bitches Brew - 27:00
C1. Spanish Key - 17:34
C2. John McLaughlin - 4:26
C2. John McLaughlin - 4:26
D1. Miles Runs the Voodoo Down - 14:04
D2. Sanctuary - 11:01
D2. Sanctuary - 11:01
Quando comecei a ouvir jazz (vinte e dois anos atrás) nao gostava do fusion de Davis por nao compreende-lo, ouvi as big bands e a turma do be-bop depois, mas o fusion era de torcer o nariz.A partir do momento em que se compreende a proposta do artista e o que o motivou a mudar o foco de sua música é que podemos assimilar um estilo.Há ainda muitas barreiras para o 'fusion' e até para o 'jazz-rock', na minha opiniao.Algo que nao desmerece os estilos.Eu aprendi, principalmente ouvindo música cubana primeiro, a apreciar o som de Miles Davis, por exemplo, mas o processo de aceitação é subjetivo: 'encaixa'com um tipo de ouvinte mas não com um outro.É por aí.Boa matéria sobre o álbum...
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