Colecionador
Único registro deste power trio matador que contava com o baixista inglês Noel Redding, ex-integrante do lendário The Jimi Hendrix Experience. Morando em Los Angeles e vindo de outra experiência sonora como guitarrista do Fat Mattress (grupo inglês com dois álbuns lançados em 1969 e 1970), Redding chamou o guitarrista americano Rod Richards (ex-Rare Earth) e o baterista inglês Leslie Sampson e juntos pavimentaram um som para levantar a poeira do asfalto, sair cantando pneu e seguir em disparada nas trilhas do hard e do acid rock. Um território, aliás, muito bem explorado nos anos 60 e 70 por agrupamentos como o Cream, Blue Cheer, Steppenwolf ou o próprio Experience.
Pegando carona nessa vibe e bebendo da mesma fonte venenosa, o Road era composto por um trio virtuoso que impunha uma pegada poderosa, dosando peso a climas viajantes. Um combustível lisérgico que alimentava uma sonoridade com timbres e tons psicodélicos envolvidos em linhas de baixo estilosas e guitarras wah-wah em profusão. O álbum que leva o nome da banda foi lançado em 1972 pelo selo americano Natural Resources (uma divisão da Motown) e relançado em 2003 pela gravadora italiana Akarma em vinil de 180 gramas, capa dupla, edição de luxo e tiragem limitada. Em CD, foi lançado em 1997 pela gravadora Free Records. São sete faixas que mostram toda a potência sônica que era praticada pelo grupo: um hardão de safra empoeirada e timbres marcantes.
O play inicia o percurso dos bons sons com "I´m Trying", guiado por uma melodia ensolarada, alternâncias climáticas chapantes e condução rítmica impecável. Muitas léguas andei nessa estrada e posso afirmar em alto e bom som que já se tornou um clássico do rock setentista, pelo menos para este bolha sinistro que aqui tecla. "I´m Going Down to the Country" conduz a viagem astral a um rumo incerto, numa levada entorpecida de psicodelia e com o slide correndo solto. Me faz sentir como um forasteiro embriagado, vagando em pleno velho oeste e sendo consumido pelo sol escaldante do meio-dia. Cruel!
Outros destaques são as faixas "Mushroom Man" (com timbres saturados, microfonias, clima hipnótico e letra narrando uma provável viagem lisérgica da trupe), "Man Dressed in Red" (outra pérola sônica embebecida em ácido, com mais guitarras wah-wah, baixão de timbre cavernoso e efeitos psicodélicos colorindo o ambiente sonoro), "Spaceship Earth" (em nova performance arrasadora do trio estradeiro, que comete mais um hard rock de naipe psicodélico em sintonia cósmica com o seu tempo) e "Road" (que fecha o roteiro em grande estilo, expondo no horizonte um petardo sônico de intensa selvageria, onde o grupo expele um hardão setentista dos bons). Taí um long play que continua em alta rotatividade aqui no pedaço. On the road again!
Projeto abortado, Redding foi morar na Irlanda e formou a Noel Redding Band ao lado do batera Leslie Sampson, do vocalista e tecladista Dave Clarke e do guitarrista Eric Bell (ex-Thin Lizzy e Them). A banda lançou dois álbuns – Clonakilty Cowboys (1975) e Blowin (1976) – antes de se separar em 1976. Depois disso, o músico inglês continuou gravando e excursionando esporadicamente ao longo dos anos e, ocasionalmente, participando de gravações com alguns grupos – entre eles Thin Lizzy, Traffic e Phish. Também criou o combo Shut Up Frank com os músicos Dave Clarke, Mick Avory (The Kinks) e Dave Rowberry (The Animals), excursionando e gravando álbuns pela estampa Mouse Records.
Sem nunca ter alcançado as glórias dos tempos em que dividia o palco com Jimi Hendrix e Mitch Mitchell no Experience – e onde gravou os obrigatórios Are You Experienced? (1967), Axis: Bold As Love (1967) e Electric Ladyland (1968) – Noel Redding infelizmente nos deixou em 11 de maio de 2003, aos 57 anos, vítima de complicações decorrentes da cirrose hepática. Uma grande perda para o mundo do rock, mas sua obra está espalhada por aí e pode ser apreciada, curtida e celebrada sem moderação.
Comentários
Postar um comentário
Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.