Capas Gêmeas: o que William Blake tem em comum com a Canterbury Scene e o Heavy Metal?


Por Ricardo Seelig
Colecionador
Collector´s Room

O que temos aqui não é bem um plágio, mas sim uma reverência. Tanto o segundo disco do obscuro combo inglês Gilgamesh quanto o clássico álbum de Bruce Dickinson trazem em suas capas a reprodução de uma obra do poeta e pintor inglês William Blake (1757-1827).

Intitulada
The Ghost of a Flea, a pintura de Blake foi produzida entre os anos de 1819 e 1820 e faz parte de uma série de trabalhos batizada como Visionary Heads, feita sob encomenda para o astrologista e também pintor John Varley.

Medindo 21,4x16,2 centímetros,
The Ghost of a Flea retrata uma figura que é uma mescla entre um ser humano, um vampiro e um réptil, e é um exemplo da associação entre o sobrenatural e o mundo espacial, bastante comum no período.

O segundo disco do obscuro Gilgamesh

O grupo inglês Gilgamesh foi formado em 1972, e tem o seu som associado à cena de Canterbury. A banda lançou apenas três discos em sua carreira –
Gilgamesh (1975), Another Fine Tune You´ve Got Me Into (1978) e Arriving Twice (2000) – , e é justamente o segundo que traz a obra de Blake na capa. O obscuro Gilgamesh é lembrado apenas pelos admiradores mais fanáticos do progressivo e também pelos pesquisadores de hard rock, já que o baixista Neil Murray – com passagens pelo Black Sabbath, Whitesnake e uma penca de grupos – tocou na banda por um breve período.

A capa do já clássico The Chemical Wedding

Já Bruce Dickinson dispensa apresentações. Um dos maiores ícones do heavy metal, o vocalista conquistou o mundo com o Iron Maiden e possui uma interessantíssima carreira solo. É de lá que vem
The Chemical Wedding. Lançado em 15 de setembro de 1998, o disco é apontado pela maioria dos fãs como o seu melhor trabalho individual, e foi também o último álbum de estúdio gravado pelo vocalista antes do seu retorno ao Iron Maiden, em fevereiro de 1999. Pessoalmente, considero The Chemical Wedding não só um dos grandes discos de Bruce, mas sobretudo um dos melhores álbuns de heavy metal de toda a história.

Tanto em um caso quanto no outro, a obra-prima de William Blake ganhou um recheio sonoro da mais alta qualidade.

Comentários

  1. Ótima postagem! Acredito que a maioria dos fãs de Iron/Dickinson desconheçam quem foi William Blake, poeta, pintor e ilustrador fantástico e um dos maiores artistas do período iluminista.

    Espero que desperte o interesse me conhecer a obra desse gênio do século XIX. E como o Cadão falou no inicio do texto, "isso não é um plágio, mas sim uma reverência". Uma homenagem de Bruce Dickinson, que ilustrou a capa de seu disco com muito bom gosto.

    ResponderExcluir
  2. Maurício, o Bruce Dickinson é um dos caras mais inteligentes do heavy metal. Quem não consome o estilo o associa apenas ao Iron Maiden, mas Bruce é cantor, escritor, cineasta, apresenta um programa na BBC Radio, pilota avião, é esgrimista e faz mais um punhado de coisas, tudo ao mesmo tempo, agora.

    Pretendo publicar mais matérias na seção Capas Gêmeas, e conto com o apoio dos amigos para isso.

    Abraço, e vamos nessa!

    ResponderExcluir
  3. Uma ilustração que consta no encarte do Chemical Wedding (também do William Blake, mas a qual não sei o nome) foi também usada como capa do "Death Walks Behind You", do Atomic Rooster...

    Bruce disse em entrevistas da época que teve de pedir uma autorização especial para a família do pintor (os descendentes, claro)e para o museu onde as obras estão guardadas para poder utilizar as pinturas de Blake. O museu analisou as letras do álbum (!) para ver do que se tratavam, e só depois aprovou o uso das pinturas (!!-parte 2)...

    Todo o encarte da edição original do disco é feito com as pinturas de Blake. Aí, anos depois, lançaram uma edição "remasterizada e expandida" com músicas bônus, e fizeram um novo encarte, retirando as ilustrações... tenho as duas edições, e, quando comprei a segunda, fiquei bastante indignado, pois o encarte original é tão interessante quanto o conteúdo musical (que é excelente)...

    Outro detalhe desse disco é que Bruce gravou "Jerusalem", espécie de hino-britânico-não-oficial (acredito que seja algo como a nossa "Aquarela do Brasil", não sei se falo besteira, mas deve ser...), e em nenhum lugar do encarte se encontra quem é o autor, ou se é uma canção tradicional... se eu não conhecesse a versão do Emerson Lake And Palmer, lendo o encarte pensaria que é do Bruce... acredito que muitos fãs do cantor, que não conhecem outras versões da música, pensem que ela é do Bruce...

    ResponderExcluir
  4. Micael, não sabia sobre essa curiosidade sobre "Jerusalem". Acho o disco fantástico, como já disse, e também tenho as duas versões - a original da época do lançamento e a remasterizada com slipcase, e que não traz nenhuma faixa bônus.

    Sou um grande fã do Bruce, acho que se ele não voltasse para o Maiden em 1999 a banda já teria se aposentado.

    ResponderExcluir
  5. Ricardo, pelo menos a minha versão com slipcase tem 3 faixas bônus: Return of the King", "Real World" (que já era bônus da edição brasileira original) e "Confeos"...

    ResponderExcluir
  6. Tá certo, tem esses bônus mesmo, me enganei.

    Abraço.

    ResponderExcluir
  7. Vale lembrar que algumas das figuras de Blake aparecem durante as visões de Rael em "The Lamb Lies Down On Broadway".

    A capa do Atomic Rooster é tão boa quanto o disco!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.