Minha Coleção: Fábio Grecchi: "Tenho sempre aquilo que considero o melhor de cada artista"


Por Fernando Bueno
Engenheiro e Colecionador
Collector's Room

Fabio, primeiramente gostaria de agradecer a sua participação e pedir para que você se apresentasse aos leitores da Collector´s Room?

Bem, não sei se vou chocar a rapaziada que acompanha e participa do blog com o que vou dizer. Sou editor-executivo e coordenador do caderno de Política do “Jornal de Brasília”. Não devia assustar ninguém, pois o atual governador do Distrito Federal postou no Twitter, quando Ronnie James Dio morreu, uma mensagem bem legal. Sinal de que nossa geração, hoje na faixa dos 45 anos, e que cresceu e se formou ouvindo o hard, o heavy e o progressivo dos anos 60, 70 e 80, está participando ativamente da vida do País. Não tenho vergonha dos muitos decibéis que já ouvi ao longo dos meus 4.7 Hemi com kit Mopar. Guitarra na cara é a antítese do intelectualismo da MPB que assustou muita gente da minha geração.


Como você chegou à Collector´s Room? Ou seja, como você conheceu o blog?

Fuçando. Sou um fuçador da net. O legal é que você entra num blog, que puxa outro e mais outro, e por aí vai. A espiral é grande, daí acabei chegando à sala dos colecionadores.


Você consegue se lembrar qual foi o seu primeiro contato com a música em geral e com o rock mais especificamente?

Acho que foi ainda na época do “Sábado Som”, que, se minha memória não falha, era apresentado pelo Nélson Motta. Depois ele foi substituído por um cara chamado Lanning Elwis (nem sei por que me lembro disso, talvez pelo nome incomum). No programa, vi Purple, Winter, Slade, Led, Sabbath, Black Oak, mas guardei poucas imagens na memória. Sobre o Purple, lembro que vi no trabalho do meu pai entre um cochilo e outro. Não podia imaginar que fosse ficar tão fissurado pela banda, anos depois.

E para completar a resposta anterior, mais ou menos com que idade você percebeu que o interesse pela música iria acompanhá-lo por toda a vida?

Acho que foi no momento em que uns amigos de escola, portugueses (tinham vindo de Moçambique, depois da independência daquele país), me apresentaram dois discos do Purple: “In Rock” e “Come taste the band”. Estranho, porque são discos extremos, um do começo da decolagem do Purple rumo ao sucesso e outro que marca a decadência. Nessa época, me apresentaram também o “Let there be rock”, do AC/DC, que considero o melhor disco deles. Aí, acho que o parafuso da cabeça caiu definitivamente.


Você consegue dizer em que momento se transformou de um fã normal de música em um colecionador?

Foi mais ou menos nessa época. Não tinha grana e queria roubar os dois discos do Purple dos caras. Sacanagem (se Rui, Nuno e Gabriela estiverem lendo este bate papo e se lembrarem do episódio, saibam que sinto vergonha). Naquele Natal, comprei o “Made in Japan”. E fui querendo ouvir tudo do Purple. E depois do Led, do Sabbath, do Nazareth, do Kiss... Uma coisa puxa outra e você vai formando a discografia.

Quantos itens você tem? E quais são os tipos de material que você coleciona?

Calculo que tenho cerca de uns 500 LPs e CDs já devo ter passado dos mil. Sinceramente, não conto. Certa vez tentei até fazer uma lista, no Excel e tudo, mas era um pé no saco. Passei minhas férias fazendo isso, ficou uma bosta e desisti. Comprava tanto disco, tanto CD, que cada vez que tinha que atualizar as tais fichas, me dava preguiça. Esses números que dei a vocês são uma estimativa.


Sobre a pergunta anterior, notei que você tem interesse bem amplo em relação aos estilos que você escuta e coleciona. Mas quais os estilos que se dividem a sua coleção?

De um lado, Hard, eminentemente. E tudo o que gira em torno, como o blues elétrico de Rory Gallagher ou Johnny Winter ou Robin Trower. Mas tem ainda o blues elétrico das décadas de 50 e 60, com Muddy Waters, de quem gosto muito. Tem o pessoal da NWOBHM – Maiden, Judas, Samson... Do outro lado, o jazz e suas associações, como soul ou funk. Sou fissurado naquilo que chamam de “latin jazz”, inclusive Bossa Nova e o Samba Jazz carioca dos anos 60.


Muita gente se orgulha de ser “eclético”, outros de serem fiéis ao rock and roll ou a determinado estilo. Como você acha que consegue “misturar” Rory Gallagher, Muddy Waters, Judas Priest e Bossa Nova?

Simples: gosto de música bem tocada. Acho que por saber tocar um instrumento, no caso a bateria, acabei prestando atenção na melodia, na harmonia, no instrumental. A letra, admito que não dou a mínima, mesmo porque em alguns casos é tatibitati. Vou te dar um exemplo: gosto muito do Budgie, mas da primeira fase, quando o baterista era um tal de Ray Phillips, só tenho um disco, o “Squawk”. Sabe por que? Porque esse Ray Phillips é ruim demais, erra as viradas mais básicas, as levadas mais primárias. Depois ele foi substituído por um tal de Peter Boot, que também era horroroso. Quando entrou o Steve Williams é que tudo se acertou. A sonoridade do Budgie sempre me atraiu, mas é duro ouvir um cara ruim na bateria (ou no baixo, ou na guitarra) amarrando a banda.


Você consegue se lembrar qual foi o seu primeiro disco?

Claro, essa é fácil. “River City Street Band”, já ouviu falar? Se não, é o seguinte: eram uns caras do Arkansas que fizeram apenas dois discos. Esse meu era o primeiro e só sei disso porque fucei na internet. Era algo meio Tower of Power, Chicago, Blood, Sweat and Tears: vocalzão rasgado, metais descendo a ripa, baixo e bateria na cara, solo de guitarra alucinante. Não me lembro que fim levou o disco, mas foi meu pai quem me deu. Acho que ele entrou na Sabiá Discos, que era uma loja lá no Centro de Niterói (sim, sou de Niterói, Estado do Rio), e pegou qualquer coisa ou o que o vendedor indicou, com base naquilo que eu gostava de ouvir no rádio. Me lembro que era uma edição nacional da Continental, que detinha os direitos do selo Stax. Recentemente, vi um cara vendendo uma edição no Mercado Livre, que saiu por R$ 30 e poucos. Sacanagem, cheguei atrasado ao leilão. Tinha pago pelo disco uns R$ 100 fácil.

Não conheço isso aí, vou procurar. Completando: qual foi o último que você comprou?

Edições especiais do “Burn”, do Purple, e “First rays of the new rising sun”, do Hendrix. Podem me criticar: as que eu tinha antes eram piratas. Não sou bom exemplo para ninguém. Baixo muita coisa na net e depois faço minhas próprias cópias. Assim que pintaram, comprei os originais. Comprei ainda “All the world’s a stage”, do Rush, pois o vinil tem uma reprodução péssima, mas mesmo o remasterizado é bem sujo. Comprei também porque o preço estava bom. Ainda comprei o “Wish you were here”, do Pink Floyd, que é lindo. Desses discos que a gente aprende a curtir depois que fica velho. Como ganho alguns aqui no jornal, os últimos foram o “Thank you Mr. Churchill”, do Peter Frampton (muito bom, diga-se), e “Hellbilly de luxe II”, do Rob Zombie (também muito legal).

Qual foi o número máximo de itens que você já adquiriu de uma única vez? Quantos itens em média você adquire por mês?

Quando morava no Rio, tirava uma grana mensal para ir à Fnac, à Saraiva e aos sebos de LPs na Sete de Setembro, que não existem mais. Vinha de lá com uns quatro, cinco de cada vez, às vezes seis. Tinha de tudo, de jazz a rock. Hoje, às vezes passo meses sem comprar um único CD ou LP. Esses últimos são exceção de uma regra que já vem de alguns meses.

Você tem alguma banda preferida, aquela que você tem mais itens, ou se esforça (ou gasta) mais para obter material?

Deep Purple. Tudo aquilo que diz respeito àqueles caras, faço questão de ter. Inclusive alguns piratas italianos, como o daquele show cujas partes aparecem no “In concert”. Tenho o show completo, que comprei há anos. Gravação formidável. Tenho outro só de colagens feitas em apresentações na BBC e outro que é o último show que eles fizeram no Japão antes de Gillan e Glover saírem. Foi um show que os caras tocaram na coxas, errando muita coisa. No final, o Gillan faz um discurso dizendo que vai embora. Todos com qualidade de som excelente. Da mesma maneira, Rainbow, Whitesnake, PAL, Gillan, Ian Gillan Band... Aquilo que puder ter relacionado ao Purple ou a qualquer dos caras, me interessa. Admito que Blackmore’s Night e algumas coisas do Joe Lynn Turner não me fazem a cabeça e, portanto, não tenho. Mas Bolin, Glover, Hughes, Coverdale, Simper, Evans, além do trio original, procuro comprar.

Qual item você considera o mais raro da sua coleção?

São todos LPs. Acho que, na parte de rock, há alguns: meu “Paranoid”, do Sabbath, é uma edição original americana, que abre e mostra a foto com os quatro; meu “Stormbringer” difere da edição inglesa e da brasileira, com cores mais esmaecidas e letras menores na capa, e meu “Burn” vem com encarte com letras (ambos são americanos e originais); tenho uma coletânea canadense do Free, “The Free story”, que era limitada a umas mil edições; um EP do Gary Moore, da época do “Wild Frontier”, que era limitada a umas 500 cópias; minha edição do “Rockin’ every night”, também do Gary Moore, é japonesa e tem uma farra de fotos dentro... Tem ainda um EP do Rainbow, da época do “Bent out of shape”, muito interessante. Meu “Rocks”, do Aerosmith, é uma edição inglesa que tem um encarte muito louco dentro. Meu “Together”, dos irmãos Winter, também é inglês e tem um encarte espetacular. Meu “Second Winter” também é inglês e tem aquele lado 4 sem nada, nem selo. Tem muita coisa mais, mas creio que esses são os mais complicados.

Na parte de jazz, tenho um Dave Brubeck-Paul Desmond-Dave Van Kriedt cujo vinil, da década de 60, é vermelho. Um teste de prensagem do “The Jimmy Giuffre Clarinet”; um “The Camel”, do Michael Carvin, pela Steeplechase, que não tem selo; e uma edição nacional de “Drummer man”, do Gene Krupa, que aqui saiu com o nome “Gene Krupa em Hi-Fi”, com uma capa alaranjada mais bonita que a original. E também o primeiro do McCoy Tyner, “Inception”, que aqui saiu como “McCoy Tyner Trio” e uma capa completamente diferente.

Muitos discos são lançados em diversas versões ao longo dos anos. Você se contenta em ter apenas uma delas ou vai atrás de todas as que saem?

Depende muito. Vários discos do Purple tenho em LP e em CD e, em alguns casos, tenho LP, CD e CD remasterizado (é o caso do “Live in London”, que tenho o LP original, o CD igual ao LP e o CD com o show completo). Mas o “Made in Japan” tenho apenas em LP, pois tenho aquela edição tripla que saiu, anos atrás, com os três shows do Purple no Japão. Daí, não quis comprar o “Made in Japan” remasterizado.

Existe algum disco que você passou um tempão atrás até consegui-lo para a sua coleção?

Dois do Frank Marino & Mahogany Rush, o “Full Circle” e o “Double live”. Nesses, ele já havia saído da Columbia e são por selos independentes. Mas não me estressei: vieram na mão. Tinha bons canais na época do LP.


E qual é aquele que você ainda não conseguiu?

Francamente? Não tenho. A certa altura, fiz uma limpa na minha coleção. Achei que não valia a pena ter tudo, por exemplo, do Rory Gallagher, se alguns discos dele não me agradam. Tenho sempre aquilo que considero o melhor de cada artista. Não tenho coleção completa, de ponta a ponta. Do UFO, por exemplo, não tenho o “Making contact”, o “Misdemeanor”, nem os primeiros, antes do Michael Schenker. Não me interessam, são fracos. Se vierem na mão a preço de banana, tudo bem, pode ser que os compre. Se não vierem, não corro atrás.

O Deep Purple teve diversas formações diferentes, com vários integrantes entrando e saindo. Desse modo, a quantidade de material relacionado a todos eles é enorme. Como anda sua busca por esse material?

Vou devagar, seleciono muito. Têm alguns que passei batido: já ouvi o mais recente disco do Jon Lord, “Pictures within’”, mas é classicoso, chato; o “Jon Lord and Hootchie Kootchie Men” é sem graça; o “Mask”, do Roger Glover, não vale a pena. Saíram uns dos arquivos do Tommy Bolin que também não me fizeram a cabeça. Ter por ter não me interessa. Eu curto ouvir, curto ficar babando no encarte. Isso tudo para dizer o seguinte: nem tudo que vem deles é grande coisa. Os caras têm o direito de errar a mão. Sigo minha regra pessoal: se a melodia e a harmonia, junto com o bom instrumental, fizerem a mistura certa, compro. Do contrário, não.

Pergunta que todo mundo diz que é difícil, mas adora responder. Quais são, para você, os dez melhores álbuns de todos os tempos?

Vou tentar fazer uma lista só com os de hard/heavy rock para facilitar e criar o menos de polêmica possível:

1º) “Deep Purple In Rock”;
2º) “Sabbath Bloody Sabbath”;
3º) “Hemispheres”, do Rush;
4º) “Led Zeppelin III”;
5º) “Are you experienced?”, do Jimi Hendrix;
6º) “Rising” do Rainbow;
7º) “Stagestruck”, Rory Gallagher;
8º) “Live at Fillmore”, do Allman Brothers;
9º) “Live”, do Foghat;
10º) “Razamanaz”, do Nazareth.

Neguinho vai comer meu fígado, mas se qualquer desses discos estiver numa lista dos 10 mais, considero que a lista esteja minimamente certa.

A sua coleção tem um limite? Ou seja, você acha que, algum dia, vai parar de comprar discos porque acha que, enfim, tem tudo o que sempre quis ter? Você acha que esse dia chegará ou ele não existe para um colecionador?

Admito que já tenho quase tudo que me interessa. Aquilo que vier é lucro. Não tenho problemas com espaço, pois tenho um quarto só para isso no meu apartamento. Mas cada vez mais sou seletivo: às vezes, vou numa loja (tipo Fnac, Livraria Cultura), pego cinco, seis CDs e não levo nenhum. Porque não fazem sentido. Se eu não os tiver, minha coleção não estará mais pobre. Mesmo algumas coisas que baixo na net nem sempre transformo em CD.


Com relação ao grande acúmulo de discos, DVDs, revistas e outras coisas relacionadas à música, eu pergunto: como você faz para ouvir, assistir e ler tudo o que você tem?

Já tive muitas revistas, mas passei adiante. Tive uma coleção enorme da “Down Beat” e da “Circus”, que já linha lido de trás para frente e de frente para trás. Sabia de ponta a ponta, até os anúncios. Assim, estavam pegando poeira. Foram parar no sebo. Não tenho mais saco para ficar guardando revistas. DVDs seguem o mesmo padrão dos CDs: se eu achar que vale, compro; se não, continuam na loja. Além disso, minha mulher é compreensiva. Sabe como é: jornalista...

Qual é o seu disco que você não escuta há mais tempo?

Não tem. De vez em quando, dá uma vontade de ouvir aquele disco que você não ouve há séculos. Puxo da pilha e mato a saudade. Claro que tem uns que a gente ouve mais que outros, mas se está na minha coleção, é sinal de que para mim tem valor. Esses dias mesmo, estava fazendo uma espécie de festival Santana, no meu carro. Ouvi de trás para frente os discos da década de 70: comecei pelo “Marathon”, passei para o “Inner secrets”, cheguei no “Festival”, e fui descendo.

Já parou para pensar em quem será o herdeiro da sua coleção no seu futuro?

Não sei se será minha filha, que está com 10 anos. Ela não se liga tanto assim. Talvez meu filho, que ainda tem três.

Você tem alguma mania como colecionador, um modo de organização, uma ordem de armazenamento ou algo do tipo?

Sim. Meus discos são guardados por ordem alfabética de artista. Tipo: ALBert Collins, ALLmann Brothers, ARmaggedon. Além disso, separo os de jazz e os de rock. A parte de jazz, aliás, abriga ainda soul music, funk, MPB, Bossa Nova e por aí vai. A de rock dá lugar também ao blues.

Se você tivesse que indicar algumas bandas, e alguns discos, para uma pessoa que nunca teve contato com o rock, o que indicaria?

Acho que aqueles da minha lista dos 10 mais seriam fundamentais e qualquer coisa que viesse daqueles artistas. Mas incluo aí coisas do UFO, Johnny Winter, Rory Gallagher, Robin Trower, Lynyrd Skynyrd, Molly Hatchet, Blackfoot, Uriah Heep, Journey, entre os mais antigos. Dos novos, acho que não pode faltar Ozzy, Exodus, Slayer, mais Motorhead, Judas ou Maiden. Dos novíssimos, Gemini Five, Dixie Hustler, Alabama Thunderpussy, Artimus Pyledriver, Brand New Sin e Threshold. Mas o universo é vasto.

Rapidinhas

CD ou LP?

CD, pela praticidade e porque discordo desse papo de que o som é mais lavado, pasteurizado. Para mim, sempre soou a saudosismo. Como ainda tenho aquilo que se chamava “aparelhagem de som” (um receiver Marantz SR 6000, um deck Technics M24, uma picape Akai [esqueci o modelo, mas não é direct drive], um CD player Sony Carrousel e quatro boas caixas Canton [também esqueci os modelos] para empurrar), o CD toca maravilhosamente bem, com punch que nem sempre o LP tem. Reconheço que no comecinho da era digital, os caras erraram a mão, mas aprenderam rápido. A sonoridade é tão boa ou melhor que a do LP. Têm LPs com prensagem malfeita, embolada, devido à má qualidade do vinil (e não são só brasileiros). CD não tem isso.

Ozzy ou Dio?

Ozzy. Gosto do Sabbath com os dois, embora sejam bandas totalmente diferentes. Reconheço que o Dio é muito mais voz, mas é uma voz convencional. O Ozzy tem uma voz diferente, assim como o Geddy Lee. Você os reconhece à distância. O Dio tem vários imitadores, todos eles muito bons e às vezes confunde. Além disso, a carreira do Ozzy pós-Sabbath é avassaladora. O que ele apresentou de guitarristas fantásticos (Randy Rhoads, Brad Gillis, Jake E. Lee, Zakk Wylde e agora o Gus G) não está no mapa. E qualquer banda cujo baterista é um certo Tommy Aldridge, eu paro para ouvir.

Mark I, Mark II, Mark III ou Mark IV?

Mark II, mas no fotochart sobre a Mark III. O Purple com Gillan e Glover era uma banda brilhante, com discos formidáveis. Até o “Concert for group and orchestra” e o “Gemini suíte” são estupendos. O Purple com Hughes e Coverdale ficou mais pesado e agregou uma linguagem nova, a do funk, que não foi bem assimilada por muita gente – nem pelo Blackmore. As formações têm material inteiramente diferente uma da outra, mas são geniais.

Jazz ou Blues?

Jazz. É o rigor do clássico com a força do blues, associados. Ouvir um John Coltrane, um Miles Davis, uma Gerald Wilson Orchestra, uma Stan Kenton Orchestra, um Weather Report, um Willie Bobo no jazz latino, é um negócio de outro mundo. O mais trouxa naqueles combos é um grande solista. Jazz não é lugar para amador.

Tem alguma história engraçada ou curiosa que aconteceu com você por causa da música?

Quando era moleque, acho que o mais engraçado foi ter passado fome, durante vários meses, no colégio, para comprar disco juntando a grana da merenda. Era um tempo legal, coisa de menino fissurado em música e que estava só aprendendo. Tempos, no Rio, da Eldo Pop, que era só música, sem qualquer interrupção, ouvindo a partir das 10 da noite. Ficava escutando no radinho FM até pegar no sono. Vez por outra, gravava uma fita cassete para ouvir num gravadorzinho Grundig. Depois, as primeiras bandas de rock, o aprendizado da bateria, que toco até hoje. Atualmente, vendo toda essa facilidade, sinto orgulho de ter chegado aqui por conta própria. Não fosse minha curiosidade e minha vontade de conhecer, provavelmente estaria dando grana para a Ivete Sangallo ficar cada vez mais rica (apesar de todo o respeito que tenho pela voz e pelo corpaço dela).

Fábio, gostaria de agradecer a você pela participação na nossa coluna "Minha Coleção". Gostaria que você deixasse uma mensagem para os leitores. Pode falar, esse espaço é seu.

Bom, acho que a rapaziada tem que desentocar, mostrar as coisas que tem em casa. De jazz, de rock, de samba, do escambau, tem muita coisa boa escondida por aí. Lembro que, tempos atrás, quando o Jorginho Guinle vendeu parte da coleção de jazz que tinha, o pau quebrou entre os colecionadores porque ele tinha inúmeras raridades. Queria saber onde esse material está agora. Acho legal quando o cara mostra um disco que tem e você, que está lendo, diz assim: "Porra, sou fissurado nesse disco. Há 30 anos não ouço." É muito legal, cria uma corrente positiva, o cara recebe uma enxurrada de e-mails, fala com as pessoas. É uma memória afetiva que se recupera. Não tenho essa pretensão, mas se alguém vir na minha coleção um disco que gosta e há anos não escuta, um guitarrista, um cantor, um saxofonista que faz tempo que não vê nada nas prateleiras, e quiser manter contato, ficarei satisfeito em ajudar, em dar uma dica. E essa possibilidade foram vocês, da Sala dos Colecionadores, que me deram. Então, "long live Collector's Room", "long live rock'n'roll, "long live to the music" (e por conta desse inglês rastaqüera, vão duas dicas finais: "Long live rock'n'roll, do Rainbow, e "Listen to the music", do Doobie Brothers). Grande fraternal abraço a todos.

Comentários

  1. Excelente o relato do Fábio. vai de encontro ao pensamento mais moderado, que não tolera o "ter por ter", apenas para engrossar coleção e nunca sair da prateleira. Pra não dizer que não ficou devendo nada, as fotos estão muito de longe e com baixa qualidade, até pela iluminação insuficiente. Mas merece todo meu respeito!

    ResponderExcluir
  2. bacana a matéria.
    parabéns pela coleção!

    ResponderExcluir
  3. Gostei do que ele disse

    Ter pra ter não vale a pena....
    tem que sair da prateleira e ir pro aparelho de som.... melhor 1000 discos bem ouvidos doque 10000 parados

    abraços

    ResponderExcluir
  4. Isso foi o que sempre defendi. Ter enfeites em minha estante é algo que não serve pra nada. O que importa é a qualidade e não a quantidade.
    Bela matéria!

    ResponderExcluir
  5. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  6. Eu também gostei muito dessa idéia passada pelo Fábio. Claro que cada um tem sua banda preferida e pode ter tudo inclusive várias coisas desnecessárias. Mas no geral acho que é essa a idéia mesmo. O mundo do rock é muito amplo para vc querer ter tudo. O certo é ter e conhecer o máximo de coisas relevantes.

    ResponderExcluir
  7. É claro que a ideia de comprar discos é ouvi-los, e não deixá-los mofando na estante.

    Mas, nesse aspecto, há uma exceção: quando somos muito fãs de um grupo, de um artista, nos sentimos incomodados se não temos todos os seus discos, até mesmo aqueles que sabemos ser ruins. Virtual XI, St Anger e afins falam por si só ...

    ResponderExcluir
  8. Hah! Eu gosto muito do Virtual XI e respeito o St. Anger... afinal o St. Anger manteve a banda viva e criativa no seu segundo pior momento e trouxe o Metallica de volta ao "rock pesado", o que eu acho que se concretizou e frutificou com o Death Magnetic.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.