Discos Injustiçados: Helloween - Chameleon (1993)


Por João Renato Alves

Aqui está um disco que defendi inúmeras vezes em discussões com os amigos. E o argumento é simples: esse não é um trabalho do Helloween, mas sim, de seus integrantes. Cada músico trouxe as suas ideias e as desenvolveu da maneira que bem entendesse, sem se apegar ao formato que consagrou o grupo. Por conta disso, os fãs mais tradicionais da era Keepers desaprovam seu conteúdo, assim como os membros daquela época que permanecem na banda. De certo modo é compreensível, visto que Chameleon é um suicídio comercial. Foi após seu retumbante fracasso que a EMI demitiu o grupo, que nunca mais teve a chance de trabalhar com uma estrutura do tipo.

Mesmo assim, considero sua sonoridade fenomenal, até mesmo pela ousadia descompromissada. Misturando diferentes influências, o álbum confundiu a cabeça de muita gente, especialmente em uma época onde não era possível conferir amostras grátis antes do lançamento – exceto pelos singles que eram enviados às rádios. Hoje, após quase duas décadas completas, Chameleon alcançou status de cult junto aos menos radicais, que aprenderam a apreciá-lo da maneira correta, sem rótulos pré-concebidos. Quem conseguiu assimilar, saiu ganhando, já que temos músicas excelentes aqui, independente do estilo que seguem.


Alguns resquícios do passado ainda se fazem presentes, como na abertura com “First Time” e também em “Giants”, única que chegou a ser executada posteriormente, na turnê do álbum Master of the Rings. A bem elaborada “When the Sinner” foi o primeiro single. “Windmill” e “Step Out of Hell” também foram lançadas de forma promocional posteriormente. A última nesse formato foi a bela “I Don’t Wanna Cry No More”, que Roland Grapow escreveu em homenagem a seu falecido irmão, com uma letra de emocionar. A grandiosa “I Believe”, composição de Michael Kiske, traz em seus nove minutos corais infantis e orquestrações brilhantes, dando uma atmosfera toda especial.

E se o CD principal já é cheio de particularidades fugindo do padrão habitual, o que dizer da edição expandida dupla, lançada em 2006, turbinada com os B-sides? Aí a experimentação ganhou ares de loucura mesmo! O que não significa algo ruim, de forma alguma. “I Don’t Care, You Don’t Care”, por exemplo, conta com um clima setentista bem interessante nas guitarras, assim como a instrumental “Oriental Journey”. Um rock básico e com senso de humor em “Get Me Out of Here” abre espaço para a esquizofrenia definitiva de “Red Socks and the Smell of Trees”, viagem pura desde o título até o final de seus quase onze minutos.


A turnê de divulgação foi um verdadeiro fiasco. Devido a seus problemas mentais cada vez mais evidentes, Ingo Schwichtenberg foi substituído por Ritchie Abdel Nabi, que acabou se mostrando insuficiente, especialmente nas músicas antigas. Enquanto isso, os outros quatro membros continuavam quebrando o pau nos bastidores, ao passo que os shows atraíam cada vez menos público. A performance também deixava a desejar, especialmente por parte de Kiske. Sua voz tinha virado apenas um arremedo dos velhos tempos. Todos esses fatores despedaçaram de vez o Helloween, que terminaria o ano sem frontman e baterista.

Dois anos mais tarde, Ingo se suicidaria ao se jogar na frente de um trem. Kiske iniciaria uma verdadeira batalha interna, que deixou seus resquícios até hoje. Já a banda conseguiria contornar os problemas com a chegada do vocalista Andi Deris e do batera Uli Kusch, embora boa parte dos fãs das antigas nunca os tenha aceitado da mesma forma que seus antecessores.

Heavy metal, rock, pop, progressivo e tudo o mais que se encontrar. Esse camaleão merece ser apreciado em sua forma mais pura. Verdadeira viagem musical.


Faixas:

1 First Time 5:29
2 When the Sinner 6:54
3 I Don't Wanna Cry No More 5:11
4 Crazy Cat 3:29
5 Giants 6:32
6 Windmill 5:14
7 Revolution Now 8:04
8 In the Night 5:35
9 Music 7:01
10 Step Out of Hell 4:21
11 I Believe 9:11
12 Longing 4:14


Comentários

  1. Gosto desse disco, mas tenho que confessar que quando ouvi ele lá nos meados da década de 90 eu não gostei. Eu fui me forçando a ouví-lo principalmente pela Steep Out of Hell...que é totalmente hard rock americano.

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  2. Eu aprendi a gostar desse disco. Quem vai ouvir pela primeira vez tem que entender que não é um disco de Metal.

    Quando conheci Helloween, todo mundo dizia que esse era o pior disco, que eles tinham se vendido e blá blá blá. Hoje, pensando bem, não acho que o Helloween tenha se vendido. Quem se vende pelo menos segue alguma orientação da gravadora ou do produtor. E esse disco é desconexo com o que a própria banda fazia na época e também não se encaixa com o que a grande massa procura ouvir.

    Pensando no "clássico-caso-do-Metallica-ter-se-vendido": esses seguiram a opinião do Bob Rock tendo em vista um som que faria sucesso comercial.

    O Helloween simplesmente lançou uma bomba para os bangers mais xiitas da época e não cativaram nenhum público em outros meios. Conheço pagodeiro que tem o Black Album, mas não conheço ninguém fora do público Rock/Heavy que tenha o Chameleon.

    De todas as músicas, as únicas que nunca me empolgaram são Revolution Now, Music, I Belive e Longing. As outras 8 sempre me fazem ouvir o Chameleon de vez em quando. When the Sinner, Crazy Cat e In the Night são no mínimo sensacionais.

    Pra quem não está bitolado no mundinho onírico dos anos 70 e 80 e gosta de apreciar o lado menos óbvio das bandas, Chameleon é um excelente trabalho.

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  3. É pessoal... vocês me obrigaram a tentar conferir o Chameleon... eu fui tão contaminado pelo negócio do "vendido" que desencanei de ouvir, na época (idos de 1998), logo quando chegou a Crazy Cat (tbm... estava querendo ouvi-lo logo após os Keepers...). Acho que hoje, já com a mente mais aberta, vou poder entender algo desse disco!
    Valeu mesmo! Long live Collectors!

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  4. É, os caras dizerem que a banda se vendeu no Chameleon é de um desconhecimento de causa preocupante. Se eles quisessem se vender, fariam algo muito mais digerível aos ouvintes, e não um disco esquizofrênico como o Chameleon, que atira para todos os lados.

    Ótima lembrança, João.

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  5. Também não acho que a banda tenha se vendido, mas precisamos ser sensatos: é o pior play do Helloween na fase Kiske. Ponto.
    É um bom disco? Sim, mas isso não faz dele um puta de um play. Gosto muito de I Believe e Step Out of Hell...

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  6. Ele não é um disco sensacional, mas as pessoas não conseguem avaliar a sua qualidade justamente por o compararem aos Keepers. Se ouvido isoladamente, sem comparação com os álbuns anteriores e posteriores da banda, é um bom disco. Simples assim.

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  7. "mundinho onírico dos anos 70 e 80"
    hahuahuahuahuaha
    essa foi boa!
    Abraço!
    Ronaldo

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  8. Respeito a opinião do autor do artigo, mas acho que só agora o Helloween conseguiu lançar algo pior: Unarmed !! Abraços a todos !

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  9. Queira ou não Helloween já foi vendido para algo que vocês não percebem...

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  10. Não entendi pq muitos não gostam desse disco até mesmo seus integrantes,
    Para mim é o melhor!!!

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  11. Gosto pouco. Até tatuei sua capa em meu braço (tb por questão estética, já que esse desenho fica legal lá). Não é o trabalho que tenho como preferido mas é grandioso. Um álbum de maturidade.

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