Por Ricardo Seelig
Cotação: ***
Expectativa: situação de quem espera a ocorrência de algo, ou sua probabilidade de ocorrência, em determinado momento.
Decepção: sentimento de tristeza, descontentamento ou frustração pela ocorrência de fato inesperado, que representa um mal; desilusão, desapontamento.
Essas duas definições acima foram retiradas do dicionário e exemplificam bem o que é Angles, novo álbum do quinteto nova-iorquino Strokes. A expectativa alimentada de forma bem pensada pela banda na internet, revelando a capa do álbum seguida pela ótima “Under Cover of Darkness” e, aos poucos, mais algumas faixas inéditas em aparições cirúrgicas em programas de TV – como o Saturday Night Live -, elevaram o nível de ansiedade dos fãs às alturas. Só haviam duas respostas possíveis no final da jornada: ou Angles não encontraria rivais e seria o álbum do ano de forma inquestionável, ou estávamos a beira de uma decepção. Adivinha qual das duas ganhou?
Primeiro álbum do Strokes em cinco anos – o último disco dos caras, First Impressions of Earth, foi lançado em 2006 -, Angles teve uma gestação difícil. O processo de composição teve início em janeiro de 2009. A banda entrou em estúdio em fevereiro daquele ano, mas o que prometia ser um parto fácil acabou se revelando extremamente complicado. Joe Chicarelli, renomado produtor com trabalhos para nomes como U2, Elton John e Frank Zappa, foi chamado para o álbum. Após gravar praticamente todas as faixas, a banda não ficou satisfeita com o resultado final e reprovou o trabalho de Chicarelli, recomeçando praticamente do zero no estúdio do guitarrista Albert Hammond Jr – apenas “Life is Simple in the Moonlight”, faixa que encerra Angles, manteve a mixagem original de Joe Chicarelli.
Segundo o baixista Nikolai Fraiture, Angles seria um retorno às origens do Strokes. A Rolling Stone, em seu review, diz que o disco “pega os elementos básicos do som do Strokes, os quebra em pedaços, depois monta tudo de novo e transforma a música em algo maior”. Na minha opinião, ficaram faltando algumas peças nessa remontagem, já que Angles não soa como um conjunto, mas sim como um trabalho que atira para direções variadas a cada faixa, e, na maioria das vezes, não acerta em alvo algum.
O disco começa bem com o surpreendente balanço reggae de “Machu Picchu”, faixa de abertura, que remete ao Talking Heads. A já conhecida “Under Cover of Darkness” vem a seguir e ratifica aquilo que todos nós já sabemos: é uma grande canção, provavelmente uma das melhores do ano.
“Two Kinds of Happiness” transporta o ouvinte para 1985, e parece um b-side perdido do The Cars. O andamento repetitivo e hipnótico de “You´re So Right” reforça a influência da new wave da década de 1980 em Angles, como se o Strokes buscasse agora, ao invés da sonoridade setentista do primeiro disco, uma aura oitentista para a sua música.
“Taken for a Fool” é uma boa faixa, mas, só para comparar com outra da safra 2011, está longe de ser memorável como “Under Cover of Darkness”. Já “Games”, com uma equivocada sonoridade eletrônica, soa totalmente desnecessária e fora de contexto. “Call Me Back” brinca com a bossa nova, mas o resultado é uma composição totalmente esquecível, que vai do nada para lugar nenhum.
O trem volta aos trilhos em “Gratisfaction”, dona de um ótimo refrão e cara de futuro single. “Metabolism” tem boas guitarras, e só isso, enquanto “Life is Simple in the Moonlight” encerra o álbum de forma agradável e deve cair nas graças dos fãs.
Chama a atenção em Angles o grande contraste entre “Under Cover of Darkness” e as demais faixas. A sonoridade do primeiro single remete aquilo que os fãs estão acostumados e estavam esperando ouvir, enquanto as nove faixas restantes trazem a banda em busca de novos caminhos sonoros que, na maioria das vezes, não levam a lugar nenhum.
A galera mais antenada vai adorar e dizer que Angles é o disco do ano, mas ele está muito longe disso. O álbum revela uma banda um tanto quanto perdida, tentando inserir novos elementos em seu som, mas patinando feio na maioria das vezes – tanto que a melhor faixa do disco é, disparado, uma música que não tenta reinventar a roda e apenas traz de volta a forte identidade sonora do Strokes dos primeiros anos. Se tivessem feito apenas isso, os caras provavelmente teriam gravado um grande álbum, mas como quiseram inovar, acabaram se perdendo pelo caminho.
No final das contas, a expectativa sucumbiu à decepção.
Faixas:
1 Machu Picchu
2 Under Cover of Darkness
3 Two Kinds of Happiness
4 You're So Right
5 Taken for a Fool
6 Games
7 Call Me Back
8 Gratisfaction
9 Metabolism
10 Life Is Simple in the Moonlight
Como tudo q eles já gravaram. Acho que tem coisas ótimas e partes ruins.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAcho desnecessário esse extremismo em relação a bandas grandes. O CD não precisa ser muito bom ou muito ruim. Sem expectativas, eu achei o Angles um bom álbum, na média do que os Strokes sempre lançaram. Como todos os álbuns, - na minha opinião, é claro - metade das músicas é boa e a outra metade é ruim ou pelo menos audível. A exceção é o Is This It? que eu ouço do início ao fim com prazer, mas não é exatamente empolgante por inteiro.
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