Kvelertak: crítica de Meir (2013)

Banda norueguesa que recebeu considerável destaque no cenário nos últimos anos graças ao seu disco de estreia, o Kvelertak é um sexteto formado em 2007 na cidade de Stavanger, e sempre teve uma proposta musical muito simples e direta: uma despretensiosa sonoridade que fica entre o mais distorcido rock and roll e a sujeira do black metal, com uma forte e pulsante veia punk, sempre com letras no seu idioma natal.

Com um contrato com a Indie Recordings, o seu debut autointitulado, de 2010, alcançou Disco de Ouro na Noruega pelas vendas acima de 15.000 cópias, atraindo a atenção das grandes gravadoras para o lançamento de Meir, o segundo álbum, agora pela Sony, na Escandinávia, e pela Roadrunner Records mundialmente.

Alcançando posições consideráveis nos charts europeus, o disco foi gravado no estúdio americano GodCity e produzido novamente por Kurt Ballou, e já chama atenção pela belíssima capa desenhada por John Baizley (do Baroness) e pelo tracklist, com faixas bem mais longas do que o trabalho anterior.

Com "Åpenbaring" já é possível notar que, apesar do Kvelertak ter alcançado um reconhecimento relativamente grande, a sonoridade do novo álbum não é apenas uma repetição incessante da mesma ideia, mas sim uma versão aprimorada e (bem) mais cuidadosa: a sua longa introdução (para uma música de três minutos) puramente rock’n’roll descamba para um melódico híbrido de black metal e punk rock, que se repete na sujeira de "Spring Fra Livet", que puxa maior influência desse último. "Trepan" vai por um caminho bem diferente, e traz muito do heavy metal tradicional oitentista, com melodias que se encaixaram perfeitamente na identidade do Kvelertak, o mesmo ocorrendo em "Bruane Brenn", primeiro single do disco lotado de riffs barulhentos e grudentos, quase – pasmem – dançantes.

O início de "Evig Vandrar" é basicamente o mais próximo de uma balada que a sonoridade dos noruegueses permite chegar (considerando as abissais proporções), que lentamente acelera, de passagens mais cadenciadas para aquele heavy metal dos primórdios em questão de segundos, enquanto "Snilepisk" e "Månelyst" não podem ser definidas de outra forma além de duas belas cacetadas no ouvido, a primeira mais para o lado black metal, e a segunda para o punk.

"Nekrokosmos", apesar de beber na fonte norueguesa até o osso, também tem o seu mérito por novamente inserir uma série de elementos mais melódicos, que dão um toque adicional na morbidez da música, com trechos que remetem, ainda que levianamente e dentro do som extremo habitual, ao occult rock tão em voga no cenário atual. Esse direcionamento se mostra presente novamente em "Undertro", e mesmo que ainda mais sutil, torna a audição muito mais inteligível, da mesma forma que em "Tordenbrak", a maior faixa já composta pelo sexteto, beirando os nove minutos, que soa como um tênue equilíbrio entre hard rock e punk. Encerrando o trabalho, a faixa que leva o nome da banda não poderia ter outra forma além do mais simples e descompromissado rock orientado pelos riffs de guitarra, e acaba lembrando uma versão ainda mais suja do AC/DC, sendo mais um ponto alto no disco.

O amadurecimento na identidade musical do Kvelertak é o ponto mais notável em Meir: se o primeiro trabalho se destacava por ser totalmente direto, com faixas curtas e que fisgavam o ouvinte na hora, neste novo álbum é possível ver uma banda experimentando timidamente com uma série de outras vertentes, que engrandecem gradativamente as composições, ainda que as inserções sejam sutis. As diversas mudanças de andamento, o descompromisso em arriscar e um foco maior tanto nas melodias instrumentais quanto vocais tornam a audição ainda mais interessante, por mais intencionalmente rústica que seja a produção, eliminando qualquer barreira que o idioma possa levantar.

Uma banda supervalorizada? A cada minuto de Meir eles provam mais um pouco que não. Definitivamente não.

Nota 9


1. Åpenbaring
2. Spring Fra Livet
3. Trepan
4. Bruane Brenn
5. Evig Vandrar
6. Snilepisk
7. Månelyst
8. Nekrokosmos
9. Undertro
10. Tordenbrak
11. Kvelert

Por Rodrigo Carvalho, do Progcast

Comentários

  1. Bruane Brenn ficou ótima!!! Gostei demais desse disco!

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  2. Belíssima crítica! Parabéns! Quando "Trepan" foi parar no youtube, sem muita qualidade de audio, não me desceu. Entretanto, após ouvir todo o cd em alta qualidade, tornou-se das minhas favoritas. Há diversas músicas sensacionais neste disco. Apenas "Snilepisk" não me agradou, e "Undertro", apesar de longa, considerei repetitiva em exagero, desperdiçando o potencial que nela é percebido de início. A tal intro, com seus mais de 3 minutos, é das melhores faixas do álbum, mas, na minha opinião, desperdiçaram a oportunidade de desenvolvê-la, o que poderia torná-la a melhor do disco, ou até mesmo da carreira deles.

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  3. Será que só eu não gosto do som dessa banda ? Eu acho o Darkthrone atual, que mistura muito Punk no seu som, muito melhor que esses caras.

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