26 Bandas para o Matias: H de Helloween

Passei imune pelo Helloween por muito tempo. Apesar de ser um grande fã do Iron Maiden, nunca me senti atraído pela banda alemã, apesar da insistente babação das revistas especializadas brasileiras em cima do grupo, notadamente a finada Rock Brigade. Até que ...

Não lembro bem por qual motivo, mas estava em uma loja de discos e avistei o então novo álbum da banda em uma prateleira. Era 1998 e o tal disco se chamava Better Than Raw. Achei a capa espetacular, e, repetindo um gesto que fiz muito na vida, comprei o CD só por causa da capa. Chegando em casa, coloquei o dito cujo para rodar e levei um susto: aquilo não soava nada com o som que me foi vendido durante anos. Não havia nada limpo ali. Era uma música pesada, agressiva, até mesmo áspera em alguns momentos. E foi isso que me cativou na banda. “Push” era uma paulada. “Revelation” tinha uma bateria absolutamente incrível. “Time” era muito boa. E assim por diante.

Após ouvir pra caramba Better Than Raw, finalmente me interessei pelo grupo e fui atrás dos seus discos. Só que o que eu gostava nos alemães era a fase com Andi Deris à frente. Sendo assim, adquiri o Master of the Rings (1994) e o The Time of the Oath (1996). Curti muito ambos. Aquele som era muito legal, principalmente por ter melodia e peso ao mesmo tempo. E, claro, pela presença de um polvo atrás das bateria, o ótimo Uli Kusch.


E então veio a revelação ...

Estava em uma viagem para Porto Alegre e encontrei os dois volumes de Keeper of the Seven the Keys em uma loja, ambos em CD importado. Era a época da equivalência do real com o dólar, então era muito barato ter esses discos. E foi isso que eu fiz. Coloquei os álbuns para tocar na sequência: primeiro o 1, depois o 2. O primeiro disco era legal, gostei, mas não me chamou muita atenção. Mas quando coloquei a tal parte dois no player ...

Foi ali que entendi o que o Helloween representava. Keeper of the Seven Keys Part II era um disco brilhante, e continuo pensando isso sobre ele. Um trabalho que faz parte da rara categoria que pode ser enquadrada como o ponto zero de um gênero, o momento quando um novo estilo surge, é definido e mostra todas as suas cartas. O metal melódico, o power metal, é aquilo que está nas nove músicas do Keeper 2. “Eagle Fly Free” é a gênese do estilo, com seu andamento rapidíssimo, guitarras cheias de melodia e um vocalista cantando muitos tons acima do normal. “Dr. Stein” antecipou em quase duas décadas o caminho que as bandas de metal melódico seguiriam no final dos anos 2000, quando o gênero foi ficando estagnado e nomes como Edguy e Avantasia começaram a se aproximar do hard rock. “I Want Out” era um paraíso para mim, fã do Maiden, com aquelas guitarras derramando tonéis de melodia durante os seus quase cinco minutos. A música que dava nome ao álbum era outra obra-prima, com mudanças de andamento incríveis que faziam os seus mais de 13 minutos passarem voando. E ainda tinha “You Always Walk Alone”, “Rise and Fall”, “We Got the Right” e “March of Time”. Que disco!

Após esse choque, ouvi e comprei tudo o que o Helloween lançou. Mas, com o passar dos anos, a música que fazia todo o sentido do mundo foi perdendo todo o seu sentido para os meus ouvidos. Hoje, a minha coleção só conta com os dois volumes de Keeper, álbuns históricos, clássicos e obrigatórios para qualquer fã de heavy metal. Os outros me desfiz, trocando em negócios ou simplesmente me desfazendo.

O Matias ainda não ouviu o Helloween. O motivo para isso é simples: eu não ouço mais Helloween. Então, ela não tem como ouvir. Mas um dia, quando for mais velho, certamente irá fuçar a nossa coleção e se deparará com a magia de Keeper of the Seven Keys Part II, que começa na linda capa e se desenvolve nas canções. Nesse dia talvez ele sinta o mesmo que eu senti ao ouvir o disco pela primeira vez, e faça o seu velho pai voltar a escutar uma das bandas que mais curtiu em um período de sua vida.

Até lá, sigo esperando o dia em que o metal melódico volte a ficar atraente aos meus ouvidos. Se é que esse momento chegará ...

Por Ricardo Seelig

Comentários

  1. Minha lista:
    AC/DC
    Black Sabbath
    Creedence
    Deep Purple
    Electric Wizard
    Free
    Grand Funk Railroad
    Hellhammer

    Para quem tiver um filho gay: kkkkkk
    Angra
    Bullet For My Valentine
    Coldplay
    Deftones
    Edguy
    Foo Fighters
    Goo Goo Dolls
    HIM

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  2. Eu tambem tenho os dois volumes da saga "Keeper of the Seven Keys" e outros cd's do Helloween como "Master of the Rings" e "Gambling With the Devil". Penso tambem em me desfazer do dois ultimos(mais o "Metal Jukebox") e ficar só com os "Keeper's".

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  3. Os Keeper são os grandes clássicos, mas me amarro demais no The Time of the Oath. É o meu favorito!

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  4. Nos meus 19 anos de vida, Helloween era a banda com "H" que mais escutava ate descobrir o Hawkwind.

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  5. um dia ainda vou escrever artigos assim, sobre as bandas e musicas que mais me marcaram. :)
    guardo religiosamente todas as preciosidades para que ele possa ouvir o que de bom se fez no panorama musical da minha geração, esperando que ele nunca desfaça delas.
    Obrigado

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