Veredito Collectors Room: Dream Theater - Dream Theater (2013)

Lançado no dia 24 de setembro, o auto-intitulado décimo-segundo álbum da banda norte-americana Dream Theater passou pela análise coletiva de nossa equipe. Thiago Cardim, Guilherme Gonçalves, Rodrigo Carvalho, Marcelo Vieira e Ricardo Seelig ouviram o disco e escreveram as suas opiniões sobre o trabalho.

Com backgrounds bem distintos, os redatores da Collectors tiveram reações diferentes à música do Dream Theater, explicitadas nos reviews que você lerá a seguir. Cada um dos textos traz a nota que cada colaborador deu para o álbum, e no final chegamos a uma média com todas as notas aplicadas, chegando ao nosso veredito final sobre o disco.

E vocês, o que acharam do novo trabalho do Dream Theater? Contem para a gente nos comentários, queremos saber.



Não gosto do Dream Theater. Confesso, de bate-pronto, odeiem-me vocês ou não. Já não sou dos maiores fãs de rock progressivo, e no caso específico deles nunca me agradou este heavy metal extremamente técnico e virtuoso que eles praticam, que eu sempre achei mais matemática do que música. Estou sendo franco, abrindo o coração. Tenho bode dos caras desde sempre, apesar de nutrir alguma simpatia justamente pelo integrante que saiu, o baterista (e nerd) Mike Portnoy. Mas como jornalista especializado em música, garanto que nunca deixei de ouvir nada que eles lançaram. E juro que de coração aberto, disposto a ser surpreendido. Mas nunca, de verdade, conseguiram me cativar. São ótimos músicos, nunca pude negar isso, e fazem um trabalho de qualidade - mas é uma qualidade que jamais combinou com o meu gosto, enquanto ouvinte. As probabilidades, portanto, jogavam contra este novo disco auto–intitulado, o primeirríssimo com Mike Magnini assumindo as baquetas desde o começo do processo criativo. Mas e não é que, senhoras e senhores, eu curti a bagaça? De verdade. Afiados como nunca, querendo mostrar força e garra neste que é uma espécie de recomeço, eles revelam uma vitalidade impressionante, talvez dispostos a provar que Portnoy pode ter acertado no Adrenaline Mob e no The Winery Dogs, mas que mesmo sem ele, o Dream Theater continua uma unidade de combate coesa. "The Enemy Inside" foi uma escolha acertada para primeiro single, porque é uma faixa pesada, mas também bastante grudenta e acessível, versando sobre um tema forte e controverso, que é a síndrome do estresse pós-traumático que alguns soldados sofrem depois de voltar da guerra. A igualmente melódica "Along For the Ride" tem mais ou menos as mesmas características, e também funciona de maneira brilhante. E ao mesmo tempo em que apresentam com "Enigma Machine" uma faixa instrumental furiosa e com ares de um bom filme de terror/suspense sobrenatural, conseguem uma surpreendente delicadeza na balada oficial "The Bigger Picture". Se a banda comete um deslize nesta bolacha, ele está na imensa canção de encerramento, "Illumination Theory". Com seus 22 minutos de duração, ela oferece espaço para que cada instrumento brilhe, dos teclados ao baixo, passando pela guitarra e, claro, pelos vocais de LaBrie. Mas justamente pelo tamanho é que em um dado momento ela passa a parecer uma colagem, com pedaços desconexos que não parecem conversar entre si, o que sempre é um perigo em faixas deste tipo. Talvez se fossem músicas diferentes, trabalhando sozinhas, seus pedaços ganhassem mais força. De qualquer maneira, Dream Theater, o disco funciona bem. É talvez um dos primeiros discos do Dream Theater dos quais eu gosto na vida. Pra mim, isso é um trabalho digno de um guerreiro. Nota 8,5 (por Thiago Cardim)

Enquanto certa parcela dos fãs continua resmungando sobre a saída de Mike Portnoy da banda há três longos anos, e o próprio não conseguir se desvencilhar do assunto (apesar de ter engrenado alguns excelentes projetos), a crua realidade é que o único que realmente está seguindo em frente é o próprio Dream Theater. Devidamente estabilizado com Mike Mangini em sua formação, e com John Petrucci e Jordan Rudess assumindo verdadeiros papéis como diretores do processo criativo, o grupo lançou em 2013 um novo trabalho que leva o seu próprio nome, como que para representar (e resgatar) a sua verdadeira essência, finalmente recomeçando depois de um período cataclísmico. Dream Theater é um dos mais curtos álbuns em sua discografia, relativamente menos exageradamente técnico, sem deixar de ser uma obra que intriga e prende a atenção. Apesar de soarem um tanto desencontrados em momentos como “Surrender to Reason” (a criatividade de James LaBrie como vocalista continua sendo podada descaradamente) e a enfadonha e burocrática instrumental “Enigma Machine”, faixas como “The Looking Glass”, “The Bigger Picture” e “Behind the Veil” são grandes destaques, ao lado de “Illumination Theory”, possivelmente a sua música mais completa desde “Octavarium” (ainda que ambas tenham propostas diferentes). Colocando em uma linha de raciocínio temporal, é como se este álbum fosse o elo perdido entre Awake e Scenes From a Memory: um belo disco, mas que não representa todo o potencial do Dream Theater como banda. E todos sabem que eles podem ir muito além. Nota 7,5 (Por Rodrigo Carvalho)


Quando uma banda lança um disco homônimo e que não é seu trabalho de estreia, algo certamente está implícito. O estopim e o resultado dessa estratégia deliberada podem ser inúmeros, mas sempre há motivação específica por trás. No caso do Dream Theater, ela é óbvia e está relacionada à 'dramática virada de eventos' (para bom entendedor...) que acometeu sua formação em 2010, bem como à sedimentação de uma nova fórmula extremamente bem definida. Ainda que já seja o segundo álbum sem Mike Portnoy - e naturalmente o segundo com Mike Mangini -, é Dream Theater que assume, muito mais do que seu antecessor, a tarefa de deixar claro esse novo caminho a ser trilhado e no qual, mais do que nunca, a banda atira nitidamente para dois lados: ao mesmo tempo em que usa e abusa de peso na guitarra e nos timbres, investe alto em melodia e passeia sem pudor pelo pop. Claro que ainda há espaço para o progressivo. Desde sua veia mais hard rock em "The Looking Glass", uma cópia extremamente descarada - e mal feita? - de "Limelight", do Rush, até a interminável "Illumination Theory", naquela linha megalomaníaca à lá Yes de ser. E olha que há boas ideias nessa música. Só que depois de 22 minutos, amigo, ninguém consegue lembrar nada além do que dois ou três riffs. As influências de Iron Maiden e, principalmente, Metallica, também seguem latentes, como em "The Enemy Inside" e "Behind the Evil" - nessa, o riff dos 2'13 saiu diretamente de "The Frayed Ends Of Sanity", presente em ... And Justice For All. No fim, a conclusão é de que fica tudo muito disperso. E é justamente isso que embaralha esse som atual do Dream Theater. Não dá para ser sempre prog e pop ao mesmo tempo. Quando funciona, sai algo como "The Bigger Picture", a melhor do disco exatamente por ser a única que consegue ser boa do começo ao fim. Quando dá errado, e isso acontece em pelo menos umas quatro desse disco novo, não há técnica ou virtuosismo que dê jeito. Nota 6,5 (por Guilherme Gonçalves)

Minha implicância com o Dream Theater data dos tempos de colégio, quando boa parte do meu grupo de amigos, alguns leitores de uma famosa publicação nacional, se converteu à quase-religião que é ser fã da banda. Eu era só mais um hard rocker desamparado em meio a uma autoproclamada elite metaleira — como se preferências pessoais, ainda que potencializadas por um jornalismo musical tendencioso, fossem capazes de determinar quem entende mais de som. Já na faculdade, sem os preconceitos de outrora, ouvi atentamente a obra da banda até o momento e cheguei à mesma conclusão que parte da torcida organizada do DT: o quinteto está cada vez mais longe da fórmula mágica dos arrasadores Images and Words e Scenes from a Memory. Justamente por isso, fiquei tão surpreso com seu lançamento mais recente, que talvez pelo fato de ser homônimo à banda, represente nas entrelinhas um novo começo. O single "The Enemy Inside" é uma porrada na fuça e ponto final — gostei de cara. O momento show de talentos toma forma na excelente "Enigma Machine", com Petrucci e Rudess protagonizando um verdadeiro duelo. A belíssima "Along for the Ride" apenas atesta que a capacidade do Dream Theater de compor baladas (ou semi-baladas) segue inabalável. Fechando o caixão, a pretensiosa "Illumination Theory" (cinco partes bem definidas num total de 23 minutos — sabia que teria ao menos uma música assim!) estoura a cota de viagens sonoras do álbum e, assim como tantas outras intermináveis do passado, seria ainda melhor se fosse um pouco menor. Algumas coisas ainda me incomodam, alguns timbres não me atraem e eu sempre imagino como seria se fosse outro cantor no lugar do LaBrie, etc., mas ignoremos tais questões. O rótulo diz metal progressivo. O que se ouve é mais metal que qualquer outra coisa. Provavelmente, o melhor álbum desde ScenesNota 7 (por Marcelo Vieira)

Com uma sonoridade mais agressiva e pesada do que seus últimos discos, o novo álbum do Dream Theater traz uma certa mudança de direcionamento em relação aos álbuns mais recentes do grupo. Dream Theater, o disco, é o trabalho mais heavy metal do grupo desde Train of Thought (2003). Mais adaptado à banda, o baterista Mike Mangini sai da sombra de Mike Portnoy e imprime o seu próprio estilo, enquanto John Petrucci e Jordan Rudess se revezam no protagonismo instrumental. As faixas são extremamente musicais, trazendo até mesmo elementos de hard rock e pop para o universo do grupo, características exemplificadas na forma de fortes refrões e melodias que agradam de imediato. Dream Theater marca um novo começo para o maior nome do metal progressivo, e o início desse novo caminho não poderia ser melhor. Nota 8,5 (por Ricardo Seelig)

O nosso veredito final sobre Dream Theater, o disco, é: 7,6

Por Equipe Collectors Room

Comentários

  1. Eu achei a bateria exagerada.

    Parece que o Mangini quer surpreender os fãs a qualquer custo para não haver comparações ou lembranças do Portnoy.

    Pra mim, como fã fanático, foi um disco mediano. Tem pontos positivos, mas está longe de ser um disco que vai marcar...

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  2. Façam um veredito do Vengeance Falls, do Trivium. Acredito que tenha sido um dos grandes lançamentos do ano.

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  3. esse baterista qdo escuto ele tocar no DT me da sono. fora a afinação que ele usa pra la de chapada que nao chama atencao em nenhum momento.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Thiago Cardim,
    Sou fã da banda, principalmente da primeira fase - Images and Words e Awake - mas pela idade estou longe de ser um fã xiita e chiliquento...rs

    Então, o que vou dizer não é uma crítica, e sim uma constatação. Quando alguém que sempre torceu o nariz para o som da banda, dá 8,5 para um disco do DT, e fala que gostou, chego a conclusão que o disco tem algo de bem errado em termos do que sempre a foi a sonoridade (e naturalidade (sim, naturalidade!!) da banda. E, para mim, ele tem. Achei uma colagem sem nexo, um emaranhado de riffs, que soam forçados muitas vezes. Petrucci já vem perdendo a mão desde o sucessor de Scenes from a Memory - coincidentemente quando mudou da Ibanez para Music Man (só uma mera coincidência, claro que não é por isso! rs)

    Mas no geral, gosto muito da imparcialidade do site e da forma verdadeira que abordam suas opiniões.

    Abraços a todos
    Murilo

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