O rock progressivo ano após ano: 15 discos para entender 1968

No artigo passado discorri sobre o ano de 1967 e o porque dessa escolha para iniciar essa coluna. Para quem não leu a primeira parte, a ideia é listar, ano após ano, os 15 discos essenciais para entender o rock progressivo.


Parte 1 - 1968, o fim da psicodelia?
Não necessariamente. Apesar de 1968 ter introduzido ao mundo prog as primeiras tentativas reais de se fazer progressivo como conhecemos hoje, 1968 ainda estava imerso em grande parte na psicodelia, estilo vigente até então.




Parte 2 - Então, 1968 tem prog?
Tem sim senhor! O ano nos apresenta os primeiros discos em que realmente encontramos o rock progressivo que seria massificado nos dois anos seguintes. Não apenas isso: importantes bandas como o Jethro Tull, que mais tarde lançaria importantes álbuns para o gênero, e outras como The Crazy World Of Arthur Brown e Gilles Gille & Fripp, lançavam seus primeiros trabalhos nesse ano também.




Parte 3 - A vida é curta, mas a arte é eterna

Abaixo seguem a lista dos 15 discos essenciais para entender 1968:



Procol Harum - Shine on Brightly


Tudo começa aqui! O Procol Harum já tinha marcado um número 1 no quesito “estar à frente de seu tempo” com o single “A Whiter Shade of Pale” no ano anterior. Com seu segundo disco, Shine on Brightly, eles tem, mais uma vez, a dianteira. Lançado em setembro de 1968, o álbum trazia a primeira suíte real em um disco de rock: "In Held 'Twas in I". Com seus 17:31, era dividida em cinco movimentos, que também formavam o nome da faixa. O estranho e nonsense título - "In Held 'Twas in I" - era de fato um acrônimo formado pela primeira palavra da letra de cada um dos movimentos da suite. Gary Brooker fala da faixa no documentário Prog Rock Britannia, produzido pela BBC: “Eu queria escrever algo grandioso, algo diferente”. Tanto o fez que a faixa, se bem escutada, revela a absoluta influência que o King Crimson mostraria apenas um ano mais tarde em seu disco de estreia. A título de curiosidade, o álbum teve duas capas em sua edição inglesa e americana. Mas a original é essa apresentada aqui no post. 




Ouça Shine on Brightly aqui
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The Nice - Ars Longa Vita Brevis


Se no disco anterior o The Nice - capitaneado por Keith Emerson - começava a demonstrar sua paixão pela música clássica, em seu segundo LP, Ars Longa Vita Brevis, eles confirmam e amplificam essa influência. Outro ponto importante (e fundamental no futuro) é que o guitarrista da banda, David O’List, tinha abandonado o barco e depois de tentar alguns substitutos eles acabaram decidindo por tocar apenas como um trio - baixo, bateria e teclados - e sem a guitarra. O disco segue de onde o anterior parou, mas vai além, também. Dessa vez, as tentativas de fundir o rock com a música clássica estavam ainda mais evidentes em faixas como "Intermezzo from the Karelia Suite" (do compositor Sibelius) e seus quase 9 minutos e, é claro, na suíte "Ars Longa Vita Brevis", que ocupa todo o lado 2 do LP com 19:20 de duração.

Ouça Ars Longa Vita Brevis aqui.



Pink Floyd - A Saucerful of Secrets


O Pink Floyd lutava para se manter em pé durante o fim de 1967 e o início de 1968. O líder e principal compositor da banda, Syd Barrett, não funcionava mais para as apresentações ao vivo devido à sua longa exposição ao LSD e era difícil a convivência com ele. Como o grupo tinha problemas para se apresentar ao vivo pensou que um segundo guitarrista iria  suprir essa lacuna, e para isso convocaram David Gilmour. A ideia inicial era ter Barrett como compositor e músico de estúdio e Gilmour para tocar ao vivo, tal qual os Beach Boys haviam feito alguns anos antes com Brian Wilson. A ideia acabou não funcionando, e Barrett não apareceu na maioria das sessões de gravação para o segundo disco, A Saucerful of Secrets. Por essa razão, foi decidido que o melhor seria demitir Syd. Apesar disso, o álbum ainda tem uma composição de Barrett chamada "Jugband Blues", e ele ainda toca nas faixas "Remember a Day", "Set the Controls for the Heart of the Sun" e na própria "Jugband Blues". As outras músicas foram partos difíceis e a banda começava a procurar uma nova identidade musical, como mostra a longa faixa-título e suas quatro partes.

Ouça A Saucerful of Secrets aqui


Frank Zappa - We're Only on it for The Money


O terceiro disco do The Mothers of Invention mais uma vez aposta em um trabalho conceitual, mas como em toda obra de Frank Zappa, o humor e a sátira são os focos do álbum, que satiriza a política americana, a cultura hippie e os Beatles (vide a capa). We're Only on it for The Money faz parte de um projeto chamado No Commercial Potential (Sem Potencial Comercial) que ainda iria incluir os próximos discos de Zappa (Lumpy Gravy, Cruising with Ruben & the Jets e Uncle Meat). Como curiosidade, o LP começou a ser gravado um ano antes de seu lançamento, em março de 1967, e foi finalizado em agosto, tendo sido lançado apenas em março de 1968.

Ouça We're Only on it for The Money aqui.



Giles, Giles and Fripp - The Cheerful Insanity of Giles, Giles and Fripp


The Cheerful Insanity of Giles, Giles and Fripp aparece nesta lista não como extraordinária peça musical, mas como um importante passo para o que aconteceria num breve futuro. O grupo foi o primeiro a conter músicos que seriam a base do que viria a ser conhecido como King Crimson um ano mais tarde. O disco não vendeu e isso deu força para Robert Fripp a montar uma nova banda no final de 1968, quando Peter Giles deixou a banda. Nascia ali um mito!


Ouça The Cheerful Insanity of Giles, Giles and Fripp aqui.



The Moody Blues - In Search of the Lost Chord


Apenas sete meses após o álbum que mudara radicalmente a história do Moody Blues (e consequentemente a história do rock progressivo), In Search of the Lost Chord vem novamente como um trabalho conceitual, nesse caso focando no tema da descoberta, seja da vida, espiritual ou mental. Após ter utilizado a London Festival Orchestra no disco anterior, Days of Future Passed, a banda decidiu mostrar a que veio e tocou todos os 33 instrumentos encontrados no LP eles mesmos. Com esse play , o Moody Blues continuaria aperfeiçoando a fórmula de contar histórias que eles haviam criado em seu bem sucedido disco anterior.

Ouça In Search of the Lost Chord aqui
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Family - Music in a Doll's House


O álbum de estreia do Family já começa com o pé direito por ter sido produzido por Dave Mason, do Traffic. O Family tinha como base do seu som a diferença, mostrando uma música que era ao mesmo tempo original mas que não afastava o ouvinte incauto. Desde o começo a banda apostava em multi-instrumentalistas, e cada um dos integrantes toca uma diversa gama de diferentes instrumentos como saxofones, violino, violoncelo, harmônica e steel guitar. Esse fator seria deciviso para algums grupos que viriam a seguir

Ouça Music in a Doll's House aqui.



Caravan - Caravan


O Caravan criou com este disco o que chamamos de Canterbury Sound. Canterbury é o nome do local na Inglaterra de onde a banda vem. O grupo acabou sendo relegado ao segundo nível do panteão prog, mas é inegável a quantidade de ótimos trabalhos lançados pelo Caravan na primeira metade dos anos 1970, e tudo começou com este auto-intitulado disco de 1968. Em tempo: o baterista do grupo, Richard Coughlan, faleceu esse mês depois de 45 anos com o Caravan. Infelizmente ele não pode completar as gravações do novo disco, que deve ser lançado no começo de 2014.

Ouça Caravan aqui.



Jethro Tull - This Was


O Jethro Tull em começo de carreira (e mais tarde também) não era uma banda progressiva, nem mesmo tentava ser. This Was mostra uma banda de blues rock inusitada, onde a flauta mágica de Ian Anderson era o grande diferencial em relação aos outros 300 mil grupos que tocavan blues rock na época. Por que o disco entra nessa lista então? Resposta fácil: com o passar dos anos , o Jethro Tull foi reformulando o seu som, e alguns álbuns mais tarde o grupo lançaria um play que ainda hoje é considerado o clássico maior do rock progressivo.

Ouça This Was aqui
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The Pretty Things - S.F. Sorrow


O The Pretty Things não era nenhum novato quando gravou S.F. Sorrow. Na verdade esse era o quarto disco dessa banda britânica. Aqui, o The Pretty Things dá início ao que chamaríamos pouco tempo depois de ópera rock, um ano mais tarde consolidada por Tommy, do The Who. O LP conta a história de Sebastian F. Sorrow e o ciclo de vida do mesmo. O álbum foi produzido por Norman Smith, que havia trabalhado no ano anterior com o Pink Floyd em The Piper at the Gates of Dawn e daria pontapé para um sem-número de outros discos conceituais nos próximos 40 anos.

Ouça S.F. Sorrow aqui
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Soft Machine - The Soft Machine


O Soft Machine, outra banda vinda de Canterbury, começava sua torta carreira discográfica com esse álbum. Lançado em dezembro de 1968, o disco foi gravado nos EUA na primeira turnê que a banda fez na América e mostra um som que misturava psicodelia, jazz fusion (gênero que o Soft Machine abraçaria completamente num futuro próximo) e raízes do que viria a ser o rock progressivo. A título de curiosidade, a faixa “We Did it Again”, que no disco tem pouco mais de 3 minutos, chegava a ser estendida a jams de 45 minutos em alguns shows.

Ouça The Soft Machine aqui
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The Crazy World of Arthur Brown - The Crazy World of Arthur Brown


A ideia original de Arthur Brown era contar uma história em formato de ópera rock dentro deste disco. No entanto, o empresário/produtor da banda, Kit Lambert, era contra a ideia por achar que isso afetaria a venda do LP, e a ópera acabou sendo restrita somente ao primeiro lado da bolacha - segundo trazia covers e lados B. Fato interessante é que um ano mais tarde o The Who lançaria uma ópera rock ainda sob a tutela de Lambert … A ideia de Brown era contar a história da humanidade em seus primórdios, no tempo da descoberta do fogo, tanto que o hit do disco chama-se exatamente “Fire”. Outra história importante por trás do álbum é que o baterista original, Drachen Theaker, seria substituído logo após as gravações por ter medo de aviões. Seu substituto seria Carl Palmer, que juntamente com o tecladista Vincent Crane iria formar o Atomic Rooster um ano mais tarde, e em 1970 se tornaria um dos pilares do ELP.

Ouça The Crazy World of Arthur Brown aqui.



Tomorrow - Tomorrow


O Tomorrow não foi uma banda de sucesso, comercialmente falando, apesar de ter um hit com a faixa “My White Bicycle”. A banda vinha gravando o disco desde a segunda metade de 1967, mas o lançou apenas em fevereiro de 1968, época em que a psicodelia começava a perder força, especialmente para o novo chegado rock progressivo. Tomorrow, o álbum, entra nessa lista pois mostrava ao mundo Steve Howe, guitarrista que se tornaria lenda ao lado do Yes três anos mais tarde. A capa original do LP era em preto e branco, pois a gravadora da banda na época (EMI) não havia liberado muito dinheiro para as gravações e a grana foi utilizada, em sua maior parte, em estúdio. A título de curiosidade, o disco é considerado um dos melhores lançamentos de rock psicodélico de todos os tempos.

Ouça Tomorrow aqui
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Os Mutantes - Os Mutantes


Os Mutantes mostravam em seu primeiro LP que não só o rock brasileiro podia bater de frente com o rock inglês, mas que podia ser original e ainda melhor. O trio formado pelos irmãos Arnaldo Baptista e Sergio Dias juntamente à Rita Lee contava com a ajuda do baterista Dirceu nesse álbum, e ainda a mão mágica do maestro Rogério Duprat. Os Mutantes ainda vinha cheio de influências da MPB e do rock inglês, mas a originalidade das composições acabou assustando até mesmo os gringos algum tempo mais tarde. O disco influenciaria TODA uma geração de bandas brasileiras que viriam depois e abriria espaço para a excelente banda prog que os Mutantes iriam se tornar alguns anos mais tarde.

Ouça Os Mutantes aqui
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The United States of America - The United States of America


O grupo que leva o nome de toda uma nação acabou sendo uma banda de um disco só, se dissolvendo apenas alguns meses após o lançamento do mesmo, em março de 1968. Está nessa lista pois foi uma das primeiras bandas da geração psicodélica/progressiva a usar a eletrônica a seu favor. Quando falo de eletrônica não estou falando de música eletrônica, mas sim dos primeiros sintetizadores Moog (que chagavam a custar 20 mil dólares na época) e dos primeiros efeitos eletrônicos alcançados através de truques de estúdio. A banda foi também uma das primeiras a carregar o título de Art Rock, que mais tarde viria a ser uma grande influência no rock progressivo.

Ouça The United States Of America aqui.


Epílogo:
1968 foi o ano zero no marco chamado rock progressivo. Bandas lançaram os primeiros trabalhos com essa influência, e por causa disso centenas de outros grupos seriam formados e acabariam sendo os maiores nomes dentro do estilo, tudo por causa dos discos dessa lista, lançados nesse ano mágico.




Próximo passo: 1969

Por Diego Camargo, do Progshine

Comentários

  1. Outro disco muito bacana que poderia ser pesquisado por quem se interessa por psicodelia é o álbum "Ronnie Von" de 1968.
    Nesse disco encontra-se pérolas como "Silvia, 20 horas domingo" e "Espelho Quebrados".
    Vale a pena dar uma ouvida.

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  2. @Rafael Costa:
    Sem dúvida Rafael, o Ronnie de 68 é outro clássico brasileiro. O meu favorito ainda é o A Máquina Voadora, mas o de 68 foi o divisor :)

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