Crítica do livro Max Cavalera: My Bloody Roots

Versão nacional de My Bloody Roots: From Sepultura to Soulfly and Beyond, autobiografia escrita com a ajuda de Joel McIver, o livro que conta a vida de Max Cavalera nas palavras do próprio músico foi lançado no Brasil pela editora Agir e é uma leitura obrigatória para quem quer saber mais sobre Max, o Sepultura, o Soulfly e a própria evolução do heavy metal em nosso país.

Com o título de My Bloody Roots: Toda a Verdade Sobre a Maior Lenda do Heavy Metal Brasileiro, a obra tem pouco mais de 200 páginas e oferece uma leitura fácil e recompensadora. Escrito claramente para o público norte-americano e não para o brasileiro - fato que fica claro pelas inúmeras definições que Max dá para nomes e artistas conhecidos por quem vive por aqui -, My Bloody Roots é uma espécie de grande diário pessoal do vocalista e guitarrista. Nele, Max vai contando a sua vida com uma linguagem extremamente próximo ao leitor, sem maiores firulas literárias. Se por um lado isso faz a leitura fluir rapidamente, por outra peca ao não se aprofundar historicamente em alguns aspectos.

O que mais chama a atenção na obra é o retrato que Max e as pessoas que convivem de maneira próxima com o artista tem a seu respeito. Aqui no Brasil, todo o episódio envolvendo a separação traumática do Sepultura e em como esses acontecimentos foram percebidos e relatados por revistas e sites especializados pintou uma figura antipática de Max. Isso, somado ao fato de que as inovações e experimentalismos presentes em discos como Chaos AD (1993) e Roots (1996), e que até hoje não são bem aceitos por uma parcela do público banger brasileiro, vieram em grande parte da mente criativa de Max, fez surgir uma opinião coletiva pouco favorável a Max Cavalera entre jornalistas e fãs.

A história não é bem essa. Max é, sem sombra de dúvida, o maior nome e o maior músico que o heavy metal brasileiro teve em toda a sua história. É muito difícil, praticamente improvável, que surja outro como ele. Sempre inquieto, criativo, conduzindo a sua música para terrenos improváveis, expandiu consideravelmente os horizontes do metal, e a relevância e importância de sua obra crescem e são reconhecidas cada vez mais. O livro ajuda a entender todo esse processo e coloca alguns pontos nos i’s, principalmente através das declarações de artistas como Ozzy Osbourne, Lemmy, Corey Taylor, Dave Grohl e muitos outros.

Max expõe o seu modo de vida, a sua maneira de ver a música, e não se furta de falar de momentos complicados de sua vida, como a morte prematura do pai, o falecimento do enteado e grande amigo Dana Wells, a perda de um neto e o vício em álcool e analgésicos. Ao mesmo tempo, elogia efusivamente Andreas Kisser, afirmando que o guitarrista foi o responsável por colocar a música do Sepultura em outro nível, mais elevado ao que estava antes da sua entrada. As críticas mais duras são para o baixista Paulo Jr. e para Mônika Cavalera, ex-esposa de Iggor e atualmente empresária do ramo musical.

Em relação ao irmão Iggor, fica claro que sempre houve uma simbiose entre ambos. A diferença de idade muito pequena - apenas um ano e meio - fez com que crescessem como grandes parceiros, apesar das personalidades claramente distintas. O rompimento com Iggor após a separação do Sepultura foi algo traumático para Max, e um dos momentos mais emocionantes do livro é justamente o trecho em que o guitarrista fala sobre a reaproximação com o irmão e a criação do Cavalera Conspiracy.

No que diz respeito à separação do Sepultura, Max dá a sua versão dos fatos, que são, em grande parte, bastante diferentes daqueles presentes em Sepultura: Toda a História, livro escrito por André Barcinski e publicado durante a década de 1990. O tempo fez o seu serviço e mostrou que o que está relatado em My Bloody Roots é o mais próximo do que realmente aconteceu, uma vez que ficou claro, com o passar dos anos, que o ciúmes e a influência das esposas dos demais integrantes - principalmente de Monika, ex-mulher de Iggor - foi a força propulsora para a desintegração da formação clássica do Sepultura.

Ao falar do Soulfly, Max esmiuça as gravações de cada um dos álbuns lançados pela banda, revelando detalhes curiosos e histórias de bastidores que imprimem outra significância para as canções. Marc Rizzo, guitarrista parceiro de Max há anos no Soulfly, tem o seu valor e talento ressaltado inúmeras vezes, reafirmando a importância que possui na banda e na vida do vocalista.

My Bloody Roots é um livro sincero e transparente, que mais se assemelha a uma boa conversa de bar com um ídolo do que propriamente a uma autobiografia. Fácil e rápido de ler, é indicado a toda e qualquer pessoa que gosta e é fã de heavy metal. Como esse é o seu caso, vá agora mesmo até a livraria mais próxima e adquira já o seu exemplar. Você não irá se arrepender.

Por Ricardo Seelig

Comentários

  1. ESPETACULAR E EXCELENTE LEITURA... SOU FAN DO MAX, SEPULTURA, SOULFLY E NUNCA DEIXEI DE ACOMPANHAR E QUEM LER VAI ENTENDER OS PQS DAS EXPERIMENTAÇÕES MUSICAIS COM O SOULFLY. ACHO RIDÍCULO ESSA POSTURA BANGER RADICAL QUE POSSUÍMOS AQUI EM NOSSO BRASIL... "NÃO OUÇO SEPULTURA PQ O MAX NÃO ESTÁ MAIS LÁ!" - "NÃO OUÇO SOULFLY PQ O MAX E SUA ESPOSA FUDERAM COM A BANDA" MENTALIDADE PEQUENA ESSA. ELE(MAX) É MUITO CONVICTO DAS SUAS IDEIAS E NO CAPITULO DO CHAOS AD PARA O ROOTS... TODOS ELES DA BANDA MUDARAM O RUMO DA MÚSICA METAL MUNDIAL... ALÉM DO MAIS É SENÃO O ÚNICO DOS POUCOS ARTISTAS BRASILEIROS QUE CARREGA NOSSA CULTURA POR TUDO E TODOS OS LUGARES QUE TOCA E ANDA.
    PARA OS RADICAIS ACHO QUE ESSE LIVRO É UMA BOA, POIS ELE MOSTRA O QUE REALMENTE O MAX REPRESENTA PARA A MUSICA MUNDIAL E PRINCIPALMENTE PARA O NOSSO PAÍS. FALO COM PROPRIEDADE QUE É UM ORGULHO SABER QUE O CARA É BRASILEIRO E CULTIVA SUAS RAÍZES.
    ABRAÇOS E VALEU PELA ATENÇÃO RICARDO!

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  2. "(...) as inovações e experimentalismos presentes em discos como Chaos AD (1993) e Roots (1996), e que até hoje não são bem aceitos por uma parcela do público banger brasileiro (...)"

    Forçou um pouquinho a mão aqui, não, caro Seelig? Bicho, todo mundo que eu conheço que curtia o Sepultura nessa época PIROU com Chaos AD (disco nascido clássico) e Roots (do qual eu nem gosto muito, mas isso é outro papo). Honestamente, nunca vi esse preconceito - outros sim, concordo - contra as viagens musicais do Max. E as críticas que saíram quando do lançamento dos discos meio que comprovam isso, sem falar na repercussão de ambos entre o público - que, no caso de Roots, acabou abortada pelo racha na banda.

    No mais, abraços e longa vida à Collector's!

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  3. O livro é espetacular, li em dois dias.

    O Max é um gênio e um ícone. Ame ou odeie.

    Acho que a resenha foi bem em cima do que está no livro.

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  4. Estão escrevendo uma nova bio do Sepultura, certo? Sabem quem é o autor?

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  5. É triste ver que o Sepultura se separou por causa do envolvimento das esposas nos negócios da banda. Levando e conta que a Monika virou empresaria da banda um tempo depois, isso deixa bem claro a razão de tudo. Max é uma figura única na cena musical brasileira e dificilmente será superado dentro do cenário do metal. Lembro quando ouvi o Chaos AD tinha uns 12 anos, fiquei maluco e depois de ler a biografia do Max revisitei a obra da banda e só tenho uma coisa a dizer: como o Roots é maravilho.

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  6. "Estão escrevendo uma nova bio do Sepultura, certo? Sabem quem é o autor?"

    Eu sou. O livro será lançada no Brasil pela Benvirá em breve.

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  7. Bom trabalho aí então, Jason. Estamos ansiosos pelo seu livro.

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  8. Acho que nunca saberemos totalmente o que aconteceu naquele ano de 1996, pois cada um tem sua versão e sua parcela de culpa e cada lado tenta se fazer de vítima, mas a versão do Max me parece mais sólida e condizente com a verdade, não que o outro lado da história só possua mentiras, mas os pontos se conectam melhor na versão de Max. A respeito do livro, a leitura é fantástica, te faz viajar para dentro da realidade do Sepultura e nem se parece com uma biografia, parece um bate-papo informal com o artista. O melhor livro do gênero que eu já li. Parabéns ao Max e a todos envolvidos na produção desta obra.

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