Agalloch: crítica de The Serpent & The Sphere (2014)

Degustar um novo álbum do Agalloch é sempre prazeroso. E desafiador, acima de tudo. Existem bandas que fazem o básico e são geniais. Existem bandas que forçam uma certa complexidade e jogam tudo pelo ralo. Exatamente no meio do caminho, existe esse quarteto de Portland, nos Estados Unidos, que é dono de uma musicalidade impressionante e que consegue a façanha de ser rebuscado e objetivo ao mesmo tempo. É justamente isso que difere o som de John Haughm e cia.

Uma mescla de black metal, folk e post-rock que trilha por caminhos tortuosos e obscuros, mas que chega nítido e redondo ao tímpano daqueles que mergulham sem temor em seus trabalhos. Luz e sombra que se apresentam por meio de uma sinestesia encantadora e eficaz. Tem sido assim há quase 20 anos. E é assim novamente neste belo The Serpent & The Sphere.

Ainda que haja uma tendência natural em apreciar com mais fervor os primeiros (e hoje clássicos) discos do Agalloch - Pale Folklore (1999), The Mantle (2002) e Ashes Against the Grain (2006) -, os trabalhos mais recentes não ficam devendo em aspecto algum. Isso já estava provado quando do lançamento de Marrow of the Spirit (2009) e se repete agora. Revelado em maio, após hiato de quatro anos, The Serpent & The Sphere reluz tanto quanto seus antecessores.

É certo que a longa "Birth and Death of the Pillars of Creation", responsável por abrir o álbum, demora a engrenar e ainda desemboca em "Serpens Caput", primeiro de um total de três interlúdios sem tanto vigor compostos por Nathanaël Larochette (Musk Ox), músico canadense convidado. No entato, ambas funcionam como aperitivo para a parte mais especial, que é formada pela brilhante trinca "The Astral Dialogue", "Dark Matter Gods" e "Celestial Effigy". É nessas três obras-primas que o Agalloch tira do bolso seu cartão de visitas e mostra que não está para brincadeira.

"The Astral Dialogue" é mais black metal do que umas dez bandas genéricas da Noruega juntas. O riff principal é lindo e faz a cama para vocais certeiros. Do meio para o final, alterna com perfeição partes singelas e agressivas. "Dark Matter Gods" começa de forma acústica e com uma levada que lembra os gênios japoneses do Toe. Ritmo marcial, cordas em destaque, vocal sussurrado e um crescendo intrigante. Tudo isso até explodir em uma canção tão poderosa quanto rica em possibilidades. "Celestial Effigy" segue um caminho parecido, mas com linhas de guitarra ainda mais elaboradas e totalmente casadas com o piano em evidência.

Após "Cor Serpentis (The Sphere)", segundo interlúdio nada inspirado, "Vales Beyond Dimension", muito boa por sinal, abre caminho para "Plateau of the Ages" e seus 12 minutos - a de maior duração entre as nove faixas. Trata-se de um épico que amarra todas as partes e praticamente sintetiza The Serpent & The Sphere. Ainda que seja instrumental, é carregado de emoções, sobretudo no fim, e se sai muito melhor do que as composições de Nathanaël Larochette. Tanto que "Serpens Cauda", a última delas, não tem tanto propósito e passa quase que despercebida.
 
Nos resta tirar o chapéu para John Haughm (guitarra/vocal), Don Anderson (guitarra/piano/vocal), Jason William Walton (baixo) e Aesop Dekker (bateria), que entrou na banda em 2007 e também toca no Vhöl. Mais uma vez entregaram um disco rico em riffs, ótimas melodias e sons mais atmosféricos. Tudo com muito bom gosto e sem soar pedante. Uma mexida na ordem das músicas talvez fosse o único retoque a ser feito. Porém, vale cair de cabeça no universo do Agalloch, que segue um colosso quando o assunto é ser relevante em meio a uma proposta de som intrincada, mas cativante.

Nota: 9


Faixas

1 Birth and Death of the Pillars of Creation 10:30
2 Serpens Caput 3:08 (instrumental)
3 The Astral Dialogue 5:13
4 Dark Matter Gods 8:38
5 Celestian Effigy 6:59
6 Cor Serpentis (The Sphere) 3:00 (instrumental)
7 Vales Beyond Dimension 6:50
8 Plateau of the Ages 12:28 (instrumental)
9 Serpens Cauda 3:12 (instrumental)

Por Guilherme Gonçalves

Comentários

  1. É sempre bom ver críticas de ótimos álbuns por aqui! Dá gosto de abrir o site e encontrar essas críticas. =]

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  2. mais uma otima critica

    esses black metal atmosferico não me prende, mais ouvirei mais uma vez

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