The Astonishing, décimo-terceiro álbum do Dream Theater, é um trabalho colossal. Um disco duplo conceitual com 34 faixas e mais de 2 horas de duração, cuja história conta a luta de um povo contra um governo ditatorial comandado por robôs. A grande arma de quem busca a liberdade é a música, utilizada como ferramenta para uma sociedade melhor e mais justa.
Criada pelo guitarrista John Petrucci, a trama de The Astonishing é, na verdade, uma ópera-rock inspirada em clássicos como The Wall do Pink Floyd e Tommy e Quadrophenia do The Who. O novo trabalho do Dream Theater dá sequência à essa tradição, e faz isso de uma forma grandiosa.
O conceito de ópera-rock (ou metal, chame como quiser) deve ser entendido pelo ouvinte, pois as mais de trinta canções contém diversos interlúdios, além de faixas que trazem efeitos sonoros que marcam momentos da história. Dessa maneira, trata-se, portanto, de uma obra que exige disposição e uma parceria do ouvinte, para ser absorvida e entendida em sua totalidade. Não é um disco para escutar de maneira casual. Em um tempo onde a música fica cada vez mais abstrata e baseada em singles, a banda norte-americana resgata a força e conceito do álbum em toda sua plenitude e grandiosidade.
Curiosamente, não há em The Astonishing as tradicionais longas canções do Dream Theater, repletas de ambiências e mudanças de climas, além de passagens instrumentais feitas sob medida para que cada um dos instrumentistas brilhar individualmente. A canção mais longa do disco tem 7 minutos e pouco, e é uma exceção. No geral, The Astonishing é composto por faixas com duração média de quatro a cinco minutos - logicamente, muitas delas interligada entre si. Ou seja, é um álbum duplo conceitual e com mais de duas horas de duração, porém enxuto e conciso. É uma contradição, eu sei, mas essa característica facilita bastante a assimilação do trabalho.
Aclamado pela crítica - 4 de 5 estrelas na Classic Rock, nota 8 de 10 na Metal Hammer, 4,5 estrelas de 5 no Metal Sucks, 4 de 5 estrelas na Kerrang! -, The Astonishing é também um disco feito sob medida para uma considerável parcela de fãs do Dream Theater. O motivo é o resgate da influência e tradição progressiva na sonoridade da banda, deixada bastante de lado nos últimos anos, ofuscada por álbuns que focaram quase que exclusivamente no heavy metal. The Astonishing é um disco mais leve e musical do que os trabalhos recentes dos norte-americanos, com a banda soando mais solta.
Individualmente, os destaques são três. John Petrucci, criador da história e a mente por trás de todas as faixas e conceito, em um trabalho exemplar de composição. Jordan Rudess, principal parceiro de Petrucci na definição dos caminhos sonoros do álbum, variando de maneira criativa entre o teclado e o piano em todo o trabalho. E James LaBrie, que interpreta todos os vários personagens da trama, impondo personalidades distintas para cada um deles em um trabalho vocal que pode ser classificado como o mais completo de sua carreira.
Em um disco dessa magnitude, destacar uma ou outra canção é algo desnecessário. A força está no conjunto - e é preciso dizer que The Astonishing brilha intensamente como um trabalho complexo, ambicioso e dono de grande originalidade.
O Dream Theater entregou um dos seus melhores discos. Um álbum para ser assimilado com o tempo, e que proporciona uma experiência sem precedentes ao ouvinte. Não será surpreendente se daqui há alguns anos, ao olharmos para o passado, o senso comum apontar The Astonishing como o trabalho definitivo do Dream Theater. Será um reconhecimento mais do que justo.
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