Discoteca Básica Bizz #029: Eddie Cochran - The 25th Anniversary Album (1985)


Um acidente de automóvel fixou a idade com que Eddie Cochran seria lembrado: 21 anos. Sempre jovem, com topete de brilhantina e guitarra em punho - o rocker clássico! 

Sua rebeldia começou aos 16, quando abandonou a escola e caiu na estrada do rock and roll (com Hank Cochran, que não era seu parente, apesar do duo se chamar The Cochran Brothers). Aos 17 anos descobriu Elvis Presley (então em começo de carreira) e o rockabilly. Atropelou-se rumo a Memphis, tentou gravar na legendária Sun Records, mas só conseguiu sua primeira sessão solo um ano depois (setembro de 1956) no pequeno selo Crest. O resto da lenda está registrada em vinil.

Como a maioria dos desbravadores, a carreira de Eddie Cochran é melhor abastecida de compactos do que de LPs originais. Não faltam, contudo, compilações. O presente álbum (duplo), além de trazer as faixas fundamentais, inclui takes alternativos, versões inéditas e duas raras gravações em estéreo. Foi lançado vinte e cinco anos após sua morte. É colocá-lo na eletrola e descabelar o topete! Seus hits se encarregam de afastar as cadeiras da sala, especialmente "C'mon Everybody", "Somethin' Else" (regravada pelos Sex Pistols) e o smash "Summertime Blues", hino atemporal às frustrações adolescentes, reinterpretado através das décadas por ex-mods como The Who e novos rockers como Brian Setzer - o próprio Cochran no filme La Bamba. Apesar disso, costumavam causar mais furor na Inglaterra - onde eram cult - do que nos Estados Unidos.

Sua velha guitarra carmim é sagrada - vide a instrumental "Eddie's Blues" e o incendiário billy "Teenage Cutie". Mas, além de exímio músico, rápido o suficiente para transformar três acordes em um milhão, Eddie dominava as técnicas de estúdio como ninguém em seu tempo. Gostava de experimentar com a voz e reverberação, e foi um dos pioneiros na utilização de overdubs na gravação de guitarras. Como seu amigo Buddy Holly, Eddie cultivava uma carreira múltipla de artista, compositor, produtor e arranjador. 


Neste álbum ainda é possível acompanhar seu gosto por música negra, através de covers dos rhythm and blues "Little Lou" de Eddie Daniels e "Long Tall Sally" de Little Richards, sem esquecer o híbrido de Sleepy Joe Estes e Kokomo Arnold (também gravado por Elvis) "Milk Cow Blues" e o spiritual de Ray Charles "Hallelujah, I Lover Her So". Eddie, por sinal, tinha verdadeira paixão por doo-wop (vide "Cherished Memories"). Sua primeira gravação para a Crest, notadamente, foi um suporte vocal doo-wop para o cantor Jack Lewis.

Ele também interpretava baladas (como "I Remember" e "Love Again") no estilo dos Everly Brothers e Buddy Holly. Mais do que isso, não lhe faltava sequer a dose cinematográfica de romance na veia criativa. No melhor estilo boy meets girl, sua parceira de composições favorita, Sharon Sheeley - com quem escreveu "Somethin' Else" e "Think of Me", entre outras -, era também sua namorada!

Nenhuma de suas facetas, entretanto, sobreviveu melhor ao acidente fatal de junho de 1960, na Inglaterra, do que a do rocker ensandecido, imagem celebrizada no filme The Girl Can't Help It (sua primeira e mais marcante passagem cinematográfica, que no Brasil ganhou o título de Sabes o Que Quero), interpretando "Twenty Flight Rock".

Edward Ray Cochrane nunca conheceu a fama devastadora que transformou seus companheiros em astros da noite para o dia. Mas, acima deles, foi quem se transformou em ícone e em estilo para muitas gerações. Nada expressa isso com mais propriedade do que sua própria música: "Se alguém lhes perguntar quem cantava esta canção, digam que era um batedor de guitarra de Oklahoma City metido num par de jeans" - a letra de "Boll Weevil Song". 

(Texto escrito por Marcel Plasse, Bizz #029, dezembro de 1987) 

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