Uma das melhores e maiores bandas do rock brasileiro, o Titãs teve um início de década de 1990 explosivo. Após uma trinca excelente com os discos Cabeça Dinossauro (1986), Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas (1987) e Õ Blésq Blom (1989) - com direito a Go Back (1988), gravado ao vivo em Montreux, no meio -, o octeto paulista iniciou uma jornada controversa.
Querendo mudar a sua sonoridade e refletindo o período conturbado que o Brasil vivia na época, com a eleição de Fernando Collor para presidente na primeira eleição democrática após a ditadura militar e os efeitos que ela teve, como o surpreendente confisco das economias depositadas nas cadernetas de poupança, o Titãs mudou radicalmente a sua música. No lugar do pop rock inteligente e inovador, com letras muito bem escritas e repletas de poesia, surgiu um rock agressivo, pesado e com letras escatológicas - pra não dizer de mau gosto.
É isso que se ouve em Tudo ao Mesmo Tempo Agora, sexto álbum do grupo, lançado em 22 de setembro de 1991 e produzido pela própria banda. O LP traz composições como “Clitóris”, “Isso Para Mim é Perfume” e outras, a sua maioria com letras bastante opostas ao que eles faziam até então e explorando temas pra lá de polêmicos, pra não dizer gratuitos. Além disso, musicalmente o Titãs trouxe uma abordagem mais crua e direta, longe do refinamento pop presente nos álbuns anteriores e que alcançou o seu auge em Õ Blésq Blom. O público estranhou, a crítica odiou e o disco encalhou. Tudo ao Mesmo Tempo Agora vendeu muito menos que os números habituais da banda, e os reviews negativos deram início ao fim da relação até então harmoniosa entre o grupo e a imprensa especializada.
Arnaldo Antunes saiu em 1992, enquanto Nando Reis já alimentava a ideia de uma carreira solo, cuja estreia seria efetivada apenas em 1994 com o álbum 12 de Janeiro.
Dois anos depois, o Titãs retornou com Titanomaquia, lançado em 10 de julho de 1993 e produzido por Jack Endino, o norte-americano que havia assinado Bleach (1989), do Nirvana. Deixando de lado as letras escatológicas mas mantendo o peso e a urgência, o trabalho ficou conhecido como o “disco grunge” do Titãs, tanto pela sonoridade quanto pela presença de Endino. Mais uma vez o álbum não foi bem aceito pelo público (ainda que uma parcela tenha aprovado o trabalho) e pela crítica, que não poupou palavras para classificar a nova fase da banda.
Dois anos depois, o Titãs retornou com Titanomaquia, lançado em 10 de julho de 1993 e produzido por Jack Endino, o norte-americano que havia assinado Bleach (1989), do Nirvana. Deixando de lado as letras escatológicas mas mantendo o peso e a urgência, o trabalho ficou conhecido como o “disco grunge” do Titãs, tanto pela sonoridade quanto pela presença de Endino. Mais uma vez o álbum não foi bem aceito pelo público (ainda que uma parcela tenha aprovado o trabalho) e pela crítica, que não poupou palavras para classificar a nova fase da banda.
Esse descontentamento gerou um dos textos mais antológicos da extinta revista Bizz, que foi justamente a análise do jornalista André Barcinski para Titanomaquia, publicada na edição 97 da publicação, que chegou às bancas em agosto de 1993. Leia abaixo:
Data: algum dia perdido em 92.
Local: casa de um dos Titãs. Os sete roqueiros se reúnem para traçar as metas de seu novo álbum.
Paulo: Bom, galera. E aí? Nosso último disco foi massacrado.
Toni: É mesmo. Temos que pensar em algo diferente. Vamos começar pelo nome. Alguém tem uma sugestão?
Nando: Que tal Pa-Ra-Le-Le-Pí-Pe-Do?
Marcelo: Não, nada de poesia concreta. O Arnaldo saiu, se liga!
Charles: Que tal um disco grunge? Está bem na moda ...
Sérgio: Será dá certo?
Charles: Porra, até o Capital Inicial tá fazendo cover do Pearl Jam!
Branco: É mesmo! O Dinho rasgou todas as suas calças e tatuou "eu sou roqueiro" na cabeça.
Charles: A gente poderia chamar aquele cara do Nirvana para produzir, o Butch Vig ...
(Segue-se um longo intervalo, durante o qual Charles liga para a gravadora).
Charles: Rapeize, o Butch não dá, mas eles me garantem um tal de Jack Albino.
Paulo: Albino? Legal, talvez ele até curta o Hermeto Pascoal.
Nando: Mas eu não entendo nada de grunge. Só ouço Tom Zé e Marisa Monte!
Branco: Não tem mistério. O negócio é o seguinte: a gente mete umas guitarrinhas distorcidas, fala uns palavrões no meio das músicas e põe no press release que nosso negócio agora é pauleira!
Marcelo: Será que vai colar?
Sérgio: É lógico. Brasileiro é tudo bundão! A molecada toda só tá andando com esse visual grunge, eu vi no Programa Livre.
Toni: A gente pode fazer umas fotos com visual punk!
Marcelo: Oba, vou estrear a minha camiseta do Tad.
Nando: Você também fez este curso de datilografia?
Branco: Só tem um problema: e se esta onda grunge acabar? E se o samba entrar na moda?
Charles: Bom, acho que talvez o Agepê toparia produzir nosso próximo disco.
Preciso, irônico e inspirado, o texto de Barcinski levou a uma reação da banda, que rasgou edições da Bizz em diversos shows da turnê, além de motivar uma enxurrada de cartas de fãs endereçadas para a redação da revista.
O fato é que, passados 25 anos de seu lançamento, Titanomaquia soa interessante e não é esse bicho de sete cabeças que foi pintado na época. É claro que tanto ele quanto Tudo Ao Mesmo Tempo Agora soam inferiores a Cabeça Dinossauro, Jesus e Õ Blésq Blom, porém são superiores a tudo que a banda produziu depois de 1993 e que gerou bizarrices ainda maiores como As Dez Mais (1999). Para muitos, Titanomaquia marcou o fim do melhor período do Titãs. Opiniões à parte, o fato é que trata-se de um álbum sem dúvida marcante, e que gerou um dos textos mais antológicos já publicados pela crítica musical brasileira.
E você, qual a sua opinião sobre Tudo Ao Mesmo Tempo Agora e Titanomaquia?
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAcho os dois discos bons sem medo de ousar
ResponderExcluirPra mim esse foi o melhor disco.
ResponderExcluirEsse disco revolucionou o cenário do rock nacional. Explodiu o lado punk dos Titãs, caindo nas graças da juventude carente de referências como essa, a qual eu me incluo. Definitivamente, esse disco marcou minha vida e abriu meus ouvidos pra o estilo hardcore.
ResponderExcluirClássico , fiz questão de adquirir já no final dos anos 90 .
ResponderExcluirEu acho que titonomaquia está no mesmo
ResponderExcluirNível do cabeça... Com devidas proporções é claro. Esse disco é muito importante por que eu fui no show dessa tur em Foz do Iguaçu e foi meu primeiro show !
Com 13 anos e já muito interessado por música, ganhei a assinatura da Bizz de aniversário, e entre as primeiras, estava a com essa crítica sensacional. A franqueza da revista faz muita falta hoje em que nenhuma revista ou site dá a devida espinafrada nos artistas, mesmo quando eles literalmente pedem isso. Entre outras pérolas, lembro da comparação entre uma capa do Robert Plant e um cartaz evangélico e a definição do white funk como uma das piores invenções da humanidade, algo que eu concordo plenamente.
ResponderExcluirTivemos a Rolling Stone por muito tempo sempre com muita qualidade, mas também polidez excessiva nas críticas e uma visão as vezes corporativa demais e ainda temos coisas muito piores, como a Pitchfork fazendo todo o esforço do mundo para dar um verniz de arte a um gênero que sempre colocou o lado comercial na frente e os textos sem pé, nem cabeça, e muito mal escritos do Miojo Indie.
Qual o critério de antológico amigo? kkkkk Antológico é o album, não essa opinião recalcada!! Viva os titãs!!
ResponderExcluirBarcinski é o precursor do Twitteiro do século XXI. "Vou escrever umas polêmicas aqui só pra causar." Patético.
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