Aleatoriedade colecionável, ou a coleção espontânea



Um dia desses estava pensando sobre a forma como compro discos, a maneira como sempre adquiri discos. E me dei conta que foram poucas às vezes em que entrei em uma loja com um objetivo bem definido na cabeça. É claro que as exceções sempre existiram em se tratando das minhas bandas do coração como Led Zeppelin, Iron Maiden e Metallica, mas praticamente somente à elas.

Vou explicar melhor. Sempre gostei de entrar em uma loja de discos sem ter algo definido na cabeça. Sempre curti chegar e começar a olhar o que estava à venda, o que estava disponível, quais eram os CDs que estavam me olhando e pedindo para serem levados pra casa. A sensação de estar olhando e olhando e de repente dar de cara com um álbum que você nem lembrava que queria, ou que até já tinha esquecido que existia (ou nem sabia que existia), ou que leu sobre em uma revista ou livro e sabe que é legal. Essa sensação de imprevisibilidade, essa surpresa que faz o coração bater mais forte, foi o que guiou a construção da minha coleção ao longo de todos esses anos.

Muito provavelmente seja por isso que não gosto de comprar discos online. Ter que ficar olhando e definindo o que quero em páginas e páginas de fotos pequenas e preços nem tanto nunca fez a minha cabeça. Gosto do ambiente, do clima, do cheiro, do tato e do papo. De pegar na mão, olhar o encarte, sentir a textura. Todas essas coisas fora de moda e que, no fim das contas, justificam o porque de eu ainda seguir comprando CDs em um tempo em que a mídia é dada como morta pelos entendidos de plantão – os mesmos que, anotem, celebrarão o retorno do disquinho daqui a alguns anos como a mais nova sensação da indústria musical.


Porém, as lojas de discos praticamente não existem mais. Grandes cidades seguem tendo-as, mas médias e pequenas não sabem mais o que é isso. Aqui em Floripa, temos uma: a Roots Records. Se estendermos o raio para a Grande Floripa, o número duplica e teremos duas com a adição da Tumba do Faraó Discos, que fica no Centro Histórico de São José. E ambas com prateleiras onde itens novos dividem espaço com peças usadas. 

O que fazer então para ter mais pluralidade e mais opções? A melhor opção são os bons, velhos e aparentemente imortais sebos. E por aqui existem boas opções com discos a preços muito convidativos e títulos fora da curva. Os dois principais são a Elemental Livros Usados e o Sebos Império, ambos no centro da cidade e relativamente próximos um ao outro. Nos dois, a “era dos CDs a 10 reais” está estabelecida e faz a alegria de quem ama a música e não abre mão do formato, como eu.


A visita periódica a esses lugares faz com que a aleatoriedade que sempre marcou a minha coleção siga viva e atuante. É nessas lojas que encontro discos que recebem o convite espontâneo para fazerem parte do meu acervo. O resultado é uma coleção bastante variada e que me orgulha cada vez mais. Um acervo onde Zeca Baleiro está ao lado de ZZ Top, onde Chico Buarque é amigo íntimo do pessoal do Concrete Blonde e onde Metallica e Miles Davis trocam figurinhas enquanto dividem o mesmo espaço.

É claro que há uma predominância estilística nas prateleiras, e vocês sabem bem qual é. O rock e o metal dominam minhas estantes, tanto pelo gosto pessoal quanto pelos anos de recebimento de material de divulgação de gravadoras de ambos os gêneros (antes que vocês perguntem: os itens que me agradam ficam, os que não curto vão para os sebos).

E assim a vida segue e a coleção cresce. Aleatória, espontânea, surpreendente. Como a música que tanto amamos.

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