Sempre gostei de pesquisar sobre música, descobrir novas bandas, ouvir novos discos. E, pra falar a verdade, acredito que essa seja uma característica comum em pessoas como eu, que consomem música em quantidades acima da média, colecionam discos, lêem sobre o assunto e estão sempre devorando algo sobre o tema.
Porém, tenho
percebido que meus hábitos em relação à música estão mudando um pouco. Sigo
consumindo discos, a coleção continua aumentando, porém não há muitas novidades
chegando aos meus ouvidos ultimamente. E esse foi um movimento, a princípio,
inconsciente. Só percebi que estava ouvindo bandas e artistas que já conhecia e
não me aventurando por terrenos desconhecidos como outrora depois de um
certo tempo. E fiquei pensando porque isso aconteceu.
Tudo bem
que, pra um cara como eu, com 46 anos nas costas e que consume discos de forma
quase compulsiva há quase 35 anos – comecei a ouvir rock seriamente a partir de
1985, com o primeiro Rock in Rio -, digamos que o que pode ser catalogado como “bandas
conhecidas” agrega uma esfera um tanto quanto variada. Então, talvez,
o termo seja outro: estou ouvindo apenas os mesmos gêneros de sempre. É rock,
metal e uma certa tendência ao soft rock, que desde o final de 2018 está
chegando aos meus ouvidos em uma quantidade cada vez maior.
Fiquei
incomodado com isso porque percebi que perdi o lado aventureiro da minha
relação com a música. Perdi o fator surpresa, a característica que me fez ir por novos caminhos e bater de frente com artistas que não chegariam até a minha vida
caso essa curiosidade não fosse tão forte. E que, no fim das contas, é um dos
aspectos que fazem surgir bandas fora da curva vez por outra aqui no site, e que
gosto tanto de compartilhar com vocês.
Mas daí
pensei: o que há de errado nisso? O que existe de errado em me acomodar um
pouco dentro do universo sonoro que me é familiar, me faz bem e significa tanto
para a minha vida? Por que haveria algum problema nisso? E não, não há nenhum
problema nisso.
Tudo isso
tem me levado a ouvir coisas que não ouvia há um certo tempo. Enquanto escrevo
essas palavras estou, por exemplo, emendando a audição de dois clássicos do
Dream Theater que há tempos não visitavam meus ouvidos: Images and Words (1992)
e Awake (1994). E estou adorando essa experiência. A ausência que certos discos
importantes na nossa formação como ouvinte às vezes tomam do nosso cotidiano
traz sensações interessantes. Não lembrava da maioria das canções, ao mesmo
tempo que não ouvia há um bom tempo clássicos como “Pull Me Under”, “Take the
Time” e “Erotomania”. A sensação de redescoberta que o tempo proporciona ao
ouvir esses álbunss novamente é similar ao da primeira vez que eles entraram na
minha vida. As qualidades que o convívio frequente muitas vezes fazem cair na
rotina ressurgem com força total, reativando o sentimento de encantamento que
esses discos sempre possuíram.
Talvez essa
relação que estou relatando aqui seja algo bem particular e não aconteça com
a maioria de vocês. Talvez ela seja própria de quem possui uma quantidade razoável
de discos em casa, um dos benefícios que apenas uma coleção de CDs – ou qualquer
outro formato físico – pode proporcionar. Ou talvez seja apenas um devaneio
saudosista de um cara que ama ouvir música e escrever na mesma proporção.
Seja qual
for o caso, fica a conclusão: seja velha ou nova, conhecida ou não, música sempre faz bem.
Tenho os mesmos 46 anos que você e comecei também lá em meados dos anos 80. Passei por várias fases até a consolidação do meu gosto musical: 1) A fase do Hard 80's que me trouxe para o mundo do Rock; 2) A migração para o Metal tradicional, mas ainda convivendo com o Hair Metal; 3) A descoberta do Thrash Metal, bem como dos clássicos dos 70's e a fase de renegar o Hard 80's; 4) O acréscimo do Rock Progressivo e a fase de conhecimento do metal mais extremo; 5) A fase de abandono do metal extremo (não é para mim) e a consolidação do meu gosto musical no tripé dos anos 60's/70's/80's e mais um pouquinho do que foi feito dos anos 90's em diante. Depois disso veio a fase de acumulação compulsiva de discos e e um certo fastio que me incomodava, pois eu já acumulava mais discos do que dava conta de ouvir e absorver. Nisso, veio o casamento, filhos, mudança de residência e 2 anos de discos encaixotados até a conclusão total da reforma. 2 anos em que os deveres familiares deixaram pouco ou nenhum tempo para a música. Mas foi bom, pois quebrou o ciclo de acumulação compulsiva e quando pude finalmente desencaixotar meus CDs passei a me reconciliar com o que eu curto, sem a necessidade de ficar acompanhando discografias a torto e direito. Veio a reconciliação com o Hard 80's, o mergulho de cabeça no AOR, tudo isso sem abandonar o HM, Progressivo, Thrash, Rock 70's e 60's. E os meios digitais me proporcionaram o mergulho em universos pouco conhecidos para mim até então: Rockabilly 50's, Blues clássico, Soul Music, Funk 70's e muita Motown. Estou fazendo o sentido inverso do tempo: ao invés de buscar as novidades recentes, estou mergulhando em tudo o que foi feito no passado e que eu não conhecia o suficiente. Não tenho nenhuma obrigação de ser moderno. De vez em quando dou uma conferida em alguma banda moderna (metal moderno para mim = tudo que surgiu dos 90's para cá) que deixei passar pelo caminho, só para ver se meu gosto mudou em relação a essas bandas, mas em 90% dos casos nada disso me chama atenção. Então, volto a procurar aquela banda obscura de surf rock dos anos 60 ou aquela banda de blues rock dos 70's que eu não conhecia, mas que é legal pra caramba.
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