O que eu ouvi em abril


Em abril, minhas audições sonoras foram marcadas principalmente pelo mergulho na discografia do Fleetwood Mac, banda pela qual estou vivendo uma fase de paixão profunda nos últimos meses. 

Mas, é claro, a música nunca é monocromática, e outros nomes também marcaram presença nos meus ouvidos durante o mês. No total, foram 17 CDs degustados durante os últimos trinta dias, todos vindos da minha coleção pessoal - os materiais consumidos através do Spotify são outro capítulo, é só me seguir no app pra saber o que anda rolando por lá.

Abaixo estão breves comentários com as minhas percepções sobre cada um desses álbuns.


Um gênero musical chamado de "alma" não tem esse nome à toa. O soul vem das profundezas da vida de seus cantores, compositores, músicos e intérpretes, e dá para a vida da gente, os ouvintes, contornos mais belos, compreensivos e companheiros. É isso que este disco de Solomon Burke faz sentir. Música produzida com a alma, sem pressa, calma e reconfortante. Música belíssima, onde fica difícil adjetivar sem parecer piegas e exagerado. Vencedor do Grammy, o álbum é uma aula de interpretação entregue por um senhor do alto dos seus 66 anos. E que nós, aqui do outro lado, podemos apreciar lentamente toda vez que a nossa alma necessitar de um afago, de um colo ou de um carinho.


Esse fase do Rage com o guitarrista Victor Smolski e o baterista Mike Terrana é cheia de ótimos discos e a melhor da banda, na minha opinião. Metal alemão de alto gabarito com elementos modernos e ótimos refrãos. Esse disco saiu em 2003 e é o décimo-sexto álbum dos caras. Conceitual, conta uma história de ficção científica baseada no mascote do grupo e conta com a participação de Andi Deris, vocalista do Halloween, em uma das músicas. Hoje e sempre, uma das minhas bandas favoritas.


Se fizermos uma lista dos músicos mais importantes do heavy metal brasileiro, Andre Matos ocuparia lugar de destaque. O vocalista do Viper, Angra e Shaman possui também uma carreira solo consistente, onde seguiu a evolução natural de sua música. Mentalize foi lançado em 2009 e traz o cantor ao lado dos irmãos Hugo e Luis Mariutti, além de Eloy Casagrande, atualmente no Sepultura, na bateria. São doze faixas e mais uma bônus onde Andre mostra o porquê de ser quem é. Metal moderno, que não abre mão da melodia e dos elementos de música clássica que marcaram a sua carreira, e ao mesmo tempo olha para frente e soa atual e nada ultrapassado. E o projeto gráfico da capa, toda perfurada, é o destaque final. Vale!


Por razões que nem eu mesmo entendo, às vezes desenvolvo preconceitos com algumas bandas sem nem ao menos tê-las ouvido com atenção. É o caso da minha relação com o Black Country Communion. O supergrupo formado por Glenn Hughes, Joe Bonamassa, Derek Sherinian e Jason Bonham foi formado em 2009 e cá estou eu, em pleno 2019, descobrindo o quão bom o som dos caras é. Esse é o primeiro disco, saiu em 2010 e achei excelente. O segundo já está na fila para audição. Um a menos na lista, uma opinião equivocada a menos na minha vida.


Estou vivendo uma fase de intenso fascínio pelo Fleetwood Mac. Talvez Stevie Nicks seja mesmo uma bruxa como canta na linda "Rhiannon" e deixou claro na sua participação em American Horror Story, e esteja por trás disso tudo. Mas o fato é que ouvir as músicas dessa banda me coloca em outro nível. Esse The Dance saiu em 1997 e marcou o reencontro da formação clássica do grupo após dez anos separados. As versões são absolutamente incríveis e levaram o álbum a se tornar o quinto disco ao vivo mais vendido da história, com 6 milhões de cópias comercializadas somente nos Estados Unidos. A música tem força, muda a vida e altera a percepção dos dias e de tudo que nos cerca. O Fleetwood Mac faz isso, experimente 😍


Terceiro álbum solo de John Fogerty, Centerfield foi lançado em 1985 e é o disco mais vendido do vocalista e guitarrista. Chegou ao primeiro lugar da Billboard e teve mais de 2 milhões de cópias comercializadas. Fogerty toca todos os instrumentos. E um cara com uma voz como essa e um talento descomunal para a composição não consegue gravar um disco ruim. Centerfield é um CD muito gostoso de ouvir e que mostra porque John Fogerty é a lenda que é.


Excelente coletânea dupla lançada pelo Fleetwood Mac em 1992, celebrando os 25 anos da banda. Aqui temos uma versão reduzida do box homônimo que vinha com 4 CDs. Este CD duplo conta com 37 músicas e uma história interessante. "Silver Springs", uma das mais belas músicas de Stevie Nicks, foi gravada durante as sessões do clássico Rumours (1977) mas acabou ficando de fora do disco. Nicks queria incluí-la em um box solo que estava lançando no início dos anos 1990, porém foi barrada por Mick Fleetwood, que a queria aqui. O baterista venceu a disputa, mas perdeu a guerra: insatisfeita, a vocalista deixou a banda. Ela só voltaria em 1997, para a reunião da formação clássica que gerou o ao vivo The Dance.


Sexto álbum do Fleetwood Mac, Bare Trees foi lançado no ano em que nasci, 1972, e é um dos discos transitórios entre a fase blueseira com Peter Green e a classe pop da formação com Stevie Nicks e Lindsey Buckingham. A música deste álbum é uma amálgama entre blues, psicodelia e pop, com um resultado final excelente. Aqui, o trio Christine McVie, John McVie e Mick Fleetwood tem a companhia dos guitarristas Danny Kirwan e Bob Welch, ambos ótimos.


Grande parte do público conhece John Cougar - ou John Cougar Mellencamp, ou só John Mellencamp - pelo álbum American Fool, lançado em 1982 e que traz os hits "Hurts So Good" e "Jack & Diane", seus dois maiores sucessos. Entretanto, o disco que mais gosto deste vocalista e guitarrista é Dance Naked, que saiu em 1994. São nove músicas em 30 minutos, todas trazendo um rock extremamente pop, dançante e que gruda de imediato. Um disco muito agradável de ouvir e que, apesar de pouco falado, é um dos melhores trabalhos desse grande músico norte-americano.


Sétimo disco de Bruce Springsteen, Born in the USA chegou às lojas no dia 4 de junho de 1984. E o que temos aqui é algo emocionante. Arrepia quando um artista acerta de maneira tão contundente quanto Bruce acertou aqui. Born in the USA apresenta um trabalho de composição brilhante. Não à toa, 7 das suas 12 músicas foram lançadas como singles. O disco vendeu mais de 30 milhões de cópias e foi o LP mais vendido em todo o planeta em 1985. E apesar dos desavisados seguirem acreditando com todas as forças que a canção que dá nome ao álbum seja uma ode patriota e uma elegia ao modo de vida norte-americano, é exatamente o contrário. Ela é uma crítica inteligente, contundente, irônica e cínica ao modo como os Estados Unidos tratam seus veteranos de guerra, notadamente os que lutaram no Vietnã. Sabe um disco clássico? Pois é, esse é um deles. Sua música não envelheceu nada e seu discurso segue atual - basta olhar para a América de Donald Trump para perceber isso.


Lançado em julho de 1996, Live From the Fall é o primeiro álbum ao vivo do Blues Traveler. E é, sem dúvida, um dos grandes discos gravados em cima de um palco que você ouvirá em sua vida. As canções são ótimas, a performance é arrebatadora e as jams presentes durante todo o álbum colocam um sorriso enorme no rosto de qualquer pessoa que ama a música. Ah, e tem "Regarding Steven", uma das mais belas composições do grupo e uma das músicas mais bonitas que você ouvirá nessa sua passagem por este plano.


Durante muito tempo eu tive um ranço com esse disco. E a razão para isso foi o enorme sucesso que ele fez. Puxado por "Smooth", Supernatural vendeu mais de 30 milhões de cópias e é o best seller da carreira de Santana. Músicas como "Maria Maria" e "Corazon Espinado", junto com as várias participações especiais, ajudaram nisso. Mas o principal fator é o excelente trabalho de composição. Trata-se de um disco pop, sem dúvida, mas isso não diminui a qualidade de suas faixas. Supernatural é também um ótimo álbum, e que vai muito além de suas músicas mais conhecidas. Experimente, boas surpresas aparecerão durante a sua audição.


Se fizermos uma lista dos maiores nomes da história do rock, John Fogerty entra fácil. Sabe as músicas do Creedence que você canta até hoje? Foram todas compostas por ele - SOZINHO - em apenas cinco anos. Sabe aquela voz do Creedence? É a dele. Sabe os solos e riffs do Creedence? É ele tocando. Sabe o Creedence Clearwater Revival? A banda é John Fogerty. Esse Premonition é o primeiro álbum ao vivo da carreira do vocalista e guitarrista e foi lançado em 1998. Obrigatório pra quem gosta de rock e boa música.


Quantas vezes você já ouviu um disco perfeito? Aqueles em não apenas todas as músicas são ótimas e tem razão de existir, mas, sobretudo, aquele tipo de álbum que mexe com o que está dentro de você, fazendo a sua alma sair pra fora, seu coração bater mais forte e você se sentir vivo. Rumours é um desses discos. Décimo-primeiro álbum do Fleetwood Mac, chegou às lojas em 1977. É o segundo trabalho da formação clássica do grupo, com Stevie Nicks, Christine McVie, Lindsey Buckingham, John McVie e Mick Fleetwood. São 11 músicas em pouco menos de 40 minutos. A excelência pop traduzida em canções como as brilhantes "Dreams", "Don't Stop", "Go Your Own Way", "The Chain" e "You Make Loving Fun". Arranjos ascendentes em que os instrumentos acústicos e elétricos se complementam, criando uma sonoridade única. O resultado: mais de 40 milhões de cópias comercializadas e um dos dez discos mais vendidos de todos os tempos. Uma obra atemporal e sempre pronta para ser redescoberta.


Lançado em 2003, Say You Will é o mais recente álbum do Fleetwood Mac e, muito provavelmente, o último registro da carreira da banda. São 18 faixas em um disco aparentemente longo, mas que está repleto de boas músicas. A curiosidade é que foi o primeiro registro da banda a não contar com Christine McVie desde 1970, ainda que ela faça uma discreta participação em algumas músicas. Vale ouvir e perceber como a idade e a estrada não são necessariamente inimigas de uma banda de rock, e como a experiência molda o som de uma banda ao longo dos anos.


Alguns artistas possuem uma aura mística. Parecem que não são deste plano, deste mundo, desta dimensão. Stevie Nicks é assim. A vocalista do Fleetwood Mac tem uma carreira solo igualmente incrível, e tudo ao seu redor parece representar sempre mais. Essa compilação foi lançada em 2007 e traz as melhores canções de seus discos, a versão original da linda "Silver Springs" (que ficou de fora de Rumours porque a sua inclusão faria o álbum exceder a duração de um LP na época) e a clássica "Edge of Seventeen", maior hit de sua carreira fora do Fleetwood Mac e que foi inspirada pela morte de John Lennon. Simplesmente demais!


Quinto álbum do Blues Traveler, Straight on Till Morning tem o seu título e capa inspirados no clássico Peter Pan, de J.M. Barrie. Sucessor do disco de maior sucesso da banda, Four (1994), mantém o alto nível do grupo apresentando a característica musicalidade incrível. E tem a clássica "Carolina Blues", um dos grandes hinos da banda liderada pelo vocalista e gaitista John Popper.

Comentários

  1. Ótima seleção
    Só não entendi a bronca que vc tinha com o Black Country Communion

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