Em uma de suas mais conhecidas entrevistas, Paul
McCartney declarou que nunca teve dúvidas de que ele, John Lennon, George
Harrison e Ringo Starr teriam alcançado sucesso mesmo se não tivessem formado
os Beatles, mas que a união do quarteto foi algo único e colocou a carreira dos
quatro em uma dimensão que eles jamais alcançariam sozinhos. Isso vale para
diversos exemplos. No metal, um dos casos mais emblemáticos é o do Iron Maiden.
Bruce Dickinson e Adrian Smith saem, a banda segue na ativa, mas o retorno da
dupla em 1999 automaticamente recolocou o Maiden no seu lugar de direito, como
uma das maiores bandas da história.
Mais recentemente, isso aconteceu novamente com a união
do Helloween com Kai Hansen e Michael Kiske na turnê Pumpkins United. Agora um
septeto, o grupo alemão vive um de seus momentos mais antológicos ao realizar o
sonho dos fãs em uma reunião que é, sem dúvida, uma das melhores notícias que o
heavy metal viveu nos últimos anos.
Chegou a vez de Florianópolis assistir ao “novo”
Helloween e ao mais do que clássico Scorpions, em show realizado no último
sábado, 28 de setembro, na Arena Petry. Localizada em São José, na região
metropolitana da capital catarinense, a Arena Petry fica a aproximadamente 30
minutos de carro do centro de Floripa e é um local incrível. Inaugurada no
final de 2018, é o maior complexo multiuso do sul do Brasil. São 61 mil metros
quadrados, 2.300 vagas de estacionamento e capacidade para 19,4 mil pessoas,
além do maior palco indoor do Brasil com 24 metros de boca, 15 metros de
profundidade e 22 metros de altura livre. Com diversos níveis para o público
assistir ao show, camarotes e pista amplos, além de uma enorme área para
circulação e lounge, possui fácil acesso aos banheiros e bares dispostos em
diversos lugares, facilitando demais a vida do público.
Florianópolis é um tanto carente em shows internacionais.
Geralmente as bandas não passam pela capital catarinense, que fica entre dois
dos principais destinos de shows: Porto Alegre e Curitiba. Por este motivo,
quando um evento acontece em Floripa, o público rock comparece em peso, e aqui
não foi diferente. Não tenho dados oficiais, mas o fato é que um ótimo público
assistiu as bandas alemãs.
O Helloween subiu ao palco às 21h e foi simplesmente
espetacular. Vivendo um clima nitidamente ótimo, a banda soube tirar proveito
da reunião com Kiske e Hansen, e tem em Andi Deris o porta voz e mestre de
cerimônias de todo esse show. Esbanjando simpatia, Deris comanda o espetáculo e
é um ótimo frontman, enquanto Kiske sempre teve uma postura de palco mais
contida. A união entre as vozes da dupla cria um clima antológico nas
composições, elevando-as a um nível de qualidade superior ao eternizado nos
discos. Abrindo com uma trinca de cair o queixo – “I´m Alive”, “Dr. Stein” e “Eagle
Fly Free” -, o Helloween conquistou a plateia de imediato, fazendo a Arena
Petry pular e vibrar de maneira intensa. O ótimo som elevou ainda mais o nível
de performance da banda, com Kiske assombrando com a voz divina que tem e
Michael Weikath como o grande maestro sobre o qual a banda sustenta a sua
sonoridade.
Na sequência tivemos o momento de brilho próprio de Deris
na ótima “Perfect Gentleman”, do álbum Master of the Rings (1994), onde o
vocalista conduziu a plateia em uma das melhores faixas da sua fase na banda.
Kai Hansen assumiu o protagonismo em “Ride the Sky”, da estreia Walls of
Jericho (1985), e Kiske brilhou de maneira incrível em “A Tale That Wasn’t
Right”, uma das músicas mais bonitas do grupo e capaz de levar às lágrimas o
mais apaixonado dos fãs.
Mostrando a força de uma folha corrida de mais de três
décadas de serviços prestados ao metal, o Helloween fechou o show com um
quarteto mágico de canções. “Power”, maior clássico da fase Deris, colocou a
Arena Petry abaixo. “How Many Tears”, uma das canções mais belas da banda,
trouxe Deris, Kiske e Hansen dividindo os vocais em uma verdadeira sinfonia
instrumental. E a dobradinha “Future World” e “I Want Out” não deixou pedra
sobre pedra, encerrando um show perfeito. Com um setlist muito bem escolhido e
uma performance precisa, o Helloween fez um show antológico e mostrou a ótima
decisão que foi reunir forças em um septeto.
O Scorpions entrou após um breve intervalo e sustentou a
sua apresentação na força de clássicos conhecidos e eternizados por gerações de
fãs. Com o som nitidamente mais alto (ao meu ver exageradamente alto, pra falar
a verdade), a banda focou em canções da década de 1980 e no álbum Crazy World,
com algumas faixas mais recentes. Pessoalmente, achei o setlist pouco
balanceado e senti falta de faixas como “Bad Boys Running Wild”, “Holiday”, “Dynamite”
e “No One Like You”.
Apesar da idade, Klaus Meine segue segurando as pontas,
assim como Rudolf Schenker, que teve o seu momento de brilho em “Coast to Coast”.
Mas a banda ampara a sua performance na guitarra de Matthias Jabs e na
excelente aquisição que foi a entrada de Mikkey Dee. O ex-baterista do
Motörhead é uma locomotiva e entregou uma muito bem-vinda dose de energia extra
aos veteranos alemães, socando seu kit com uma fúria contagiante.
Os grandes momentos aconteceram em “The Zoo” e
seu solo de guitarra com talk box, onde Jabs voou alto, na já citada “Coast to
Coast”, no medley por clássicos dos anos 1970 da carreira dos caras e na
dobradinha “Send Me an Angel” e “Wind of Change”, que apesar de serem baladas
um tanto batidas e bregas emocionam qualquer um quando tocadas ao vivo. “Blackout”,
a ótima “Big City Nights” e as inevitáveis “Still Loving You” e “Rock You Like
a Hurricane” encerraram o show de maneira extremamente positiva.
O saldo final foi um Helloween que roubou o protagonismo
com uma performance excepcional e um setlist escolhido a dedo, enquanto o
Scorpions apresentou um conjunto de faixas ao meu ver meio desbalanceado e que
poderia ser mais efetivo se trouxesse mais hits do passado.
Um agradecimento especial à Arena Petry, em especial ao
Angelo Mendes, pelo credenciamento para a cobertura do show. E já torço para
que a Arena Petry traga outros shows nessa linha para Florianópolis, porque deu
para perceber que público para isso não falta na Ilha da Magia.
Setlist do Helloween:
Initiation (introdução)
I’m Alive
Dr. Stein
Eagle Fly Free
Perfect Gentleman
Ride the Sky
A Tale That Wasn’t Right
Power
How Many Tears
Future World
I Want Out
Setlist do Scorpions:
Crazy World (introdução)
Going Out With a Band
Make It Real
The Zoo
Coast to Coast
Medley: Top of the Bill / Steamrock Fever / Speedy’s
Coming / Catch Your Train
We Built This House
Delicate Dance
Send Me an Angel
Wind of Change
Tease Me Please Me
Drum Solo
Blackout
Big City Nights
Still Loving You
Rock You Like a Hurricane
Fala Cadão. Legal saber que você curtiu os shows por aí. Fui ao RockFest e tive a mesma impressão que você. No show de SP, Helloween também roubou o protagonismo, até pq muita gente estava lá para ver a banda. Sobre o Scorpions, que curto pra caramba, já assisti outras duas vezes o show deles e, de longe, esse me pareceu o mais "desanimado". Não sei, o Klaus me pareceu cansado e desmotivado em alguns momentos, o que não tirou o brilho de uma banda desse nível, mas enfim. Senti falta d+ tbm de Bad Boys Running Wild, minha música preferida deles. No RockFest, sinceramente, quem mais me surpreendeu foi o Europe, que eu nem estava esperando muito pra ver, mas pqp...que banda! Joey Tempestt um puta show man. Abração e até mais!
ResponderExcluirEurope tá vivendo uma fase ótima nos últimos anos, bem distante daquele período dos anos 1980.
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