Metal, haterismo e redes sociais



Escrevo sobre heavy metal desde 2004. Isso já dá 15 anos. Um bom tempo, onde vivi muitas experiências legais, conheci diversas pessoas (pessoal e virtualmente), construí uma rede de contatos e aprendi muito. E onde também colecionei haters e tive algumas discussões mais sérias, tudo causado por uma soma de fatores: sinceridade em expor opiniões, imaturidade em diversos momentos (mais minha do que de outros) e um gênio às vezes um tanto explosivo (mais uma vez uma característica minha e não de outras pessoas).

Dito isso, vamos ao assunto deste texto: o público de heavy metal é apaixonado pelo gênero musical que ouve. E confesso que não conheço público mais dedicado e passional que o de metal. Uma música tão intensa quanto o metal só poderia gerar uma base de fãs assim, e essa é uma das qualidades do estilo. Ao mesmo tempo em que conhece a fundo as bandas que curte e adora pesquisar sobre o gênero que ama, o fã de metal também é um tanto cabeça dura em relação a outros estilos musicais, a outras formas de músicas que não sejam aquelas que fazem parte do seu universo, a discussões e sonoridades que o tirem de sua zona de conforto. Eu já fui assim, você já foi assim, e você talvez ainda seja assim.

Música intensa gera reações intensas. E, apesar de uma década e meia convivendo com o jornalismo musical sobre heavy metal, tem fases em que isso me afeta mais do que em outras. Quando tudo está bem, quando a vida está nos trilhos e tudo mais que isso traz junto, você não se importa muito com as opiniões a seu respeito e sobre seu trabalho. Quando tudo não está assim tão redondo, essas críticas batem mais forte. Ainda mais porque elas, na imensa maioria das vezes, se resumem a monossílabos e argumentos que não acrescentam nada à uma discussão. Soma-se a isso o mundo cada vez mais competitivo em que vivemos, as expectativas cada vez mais altas, a ansiedade crescendo sem parar, a saúde mental tendo que sobreviver a desafios diários, e tudo ganha outra dimensão.

As redes sociais, obviamente, amplificaram todo esse universo. A internet deu voz a todos. Mas algumas dessas vozes, com o perdão da palavra, são apenas desagradáveis. As redes (anti)sociais criaram personagens que são uma coisa atrás de um teclado e outra olho no olho. Criaram personagens que apresentam uma personalidade na frente da câmera e outra quando ela é desligada. Criaram personagens que muitas vezes não possuem coerência com a pessoa que os interpreta.

Lembro de um colaborador da tal “revista de heavy metal e classic rock do Brasil” que me encheu o saco profundamente após a publicação, aqui na Collectors Room, de uma matéria onde informávamos que a revista havia resenhado uma compilação fan made do U.D.O. como se fosse um disco oficial da banda. A saber: fan made, como o nome diz, são itens feitos pelos fãs de forma não oficial, bootlegs com músicas de estúdio. E o tal do indivíduo baixou o álbum em um site de download e deu o furo na revista, publicando em primeira mão, com exclusividade mundial, a nova coletânea da banda alemã. Recebi em apenas um dia mais de cinquenta e-mails desse rapaz – inclusive alguns em que ele esqueceu de apagar mensagens que trocava com outras figuras do jornalismo metálico detonando a publicação para a qual escrevia e externando o seu desejo de montar ele próprio uma revista sobre metal - pedindo para retirar do ar a matéria senão eu iria “sofrer as consequências”. Não retirei. Ele continuou enchendo o saco, obviamente. O que fiz? Pesquisei o seu endereço, descobri o telefone, liguei e bati um papo com o até então irritado personagem. Resultado: ele baixou a bola e se mostrou uma pessoa bem diferente daquela persona arrogante que ameaçava todo mundo escondido atrás da segurança de um teclado de computador.

O que eu quero dizer com isso? Que essa realidade nunca irá mudar, que sempre existirão fãs apaixonados tanto para o bem quanto para o mal e que esse problema é mais meu do que deles. Afinal, quem fala bobagem na internet, quem trola e provoca está pouco se importando com o alvo de suas críticas. No final das contas sou eu que tenho que me resolver com isso sozinho. E a receita não é complicada: olhar para trás, ver o que já produzi, entender o impacto e a importância da Collectors Room nas vidas de diversas pessoas e seguir fazendo o que eu acredito.

Assim como o metal nunca irá morrer, os haters sempre se renovarão. Se importar e dar palco para eles, já são outros quinhentos. Vamos ver se consigo ignorá-los, de novo e mais uma vez.

Comentários

  1. Mole pra ti! A relevância do que você faz aqui fica clara quando você fica offline, e nós, órfãos.
    Críticas são sempre boas, mas puro ódio, e ainda por cima acovardado por um tecladinho?
    Não se deixe abalar, cara, você tem hoje o blog de metal (e não só) mais interessante e abrangente do Brasil, ao contrário de muitos fanmades por aí... um forte abraço, tenho certeza que alinhados comigo estão todos os seus admiradores! Vamos pra frente!

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  2. go ahead my friend, voce tem muito mais admiradores do seu trabalho do que essa meia dúzia de haters radicais que lhe criticam sem fundamento, sem profundidade e de forma rasteira e superficial

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  3. Fala Cadão. Boa tarde. Já liga o alerta de textão, que essa talvez vá ser o maior comentário que eu vou te mandar (não que eu mande muitos).

    Cara, te acompanho há muito tempo, desde o Whiplash. Então, acho que tenho alguma propriedade para falar.

    Pessoalmente falando, sempre me senti muito próximo a você. Te acompanho no blog, no YouTube, em algumas playlists do Spotify, no Instagram. Vi você mudar ao longo do tempo, seu filho crescer, seu pai falecer, vi você ter (e depois tretar) com alguns parceiros que tentou trazer para o blog, tentar rentabilizar o blog para viver disso e nunca efetivamente conseguir. Enfim, você é realmente um dos caras que eu acompanho por mais tempo dentro do universo da música, que eu tanto amo também.

    Aliás, uns dois anos atrás, fui para Floripa de férias com a minha esposa. Troquei algumas mensagens contigo, ficamos de nos conhecer (era na mesma época de um show do Edu Falaschi na cidade). Você não me respondeu mais e o encontro acabou não aconteceu (qualquer pessoa melindrosa poderia pensar "dane-se esse cara, não vou mais ver nada dele, babaca"). Mas, honestamente, eu entendi o momento, que talvez você não tivesse afim, sei lá. Não importa. Estou falando isso justamente porque o seu texto é sobre respeito.

    Paralelo a isso, sou jornalista, trabalho com marketing e sei o quão tóxico pode ser as redes sociais. Conheço e vejo um pouco da sua personalidade também (que aliás, nem é tão diferente da minha assim).

    E dito tudo isso, cara, acho só que você tem que continuar com o excelente trabalho/hobby que você tem. Escrevendo sobre música, gravando material audiovisual sobre isso. Te garanto que a proporção de quem curte o que você faz é muito maior do que quem não curte. E é aquela coisa, prego que se destaca, sempre vai ser martelado. Babaca tem em todo lugar, ainda mais na internet que é uma terra de ninguém. Espero realmente que você continue pra sempre, para eu continuar te acompanhando e tendo "o Cadão" como referência na internet. Valeu!

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    1. Valeu, man. E a cerveja ainda tá de pé por aqui, vai rolar um dia. Abraço.

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  4. nem sei o q dizer, discordo de 50% do q v fala, mas mesmo assim da gosto de assistir e ler todo o materiial q vc posta, mesmo nas ocasioes em q totalmente me oponho a sua opiniao sempre é uma boa expriencia e sempre me sinto enrriquecido pelo que vc posta. estupidos tem por todo lado e ignorancia nn é disculpa. se atente nos comentarios positivos pois o resto nn vale a pena, longa vida ao Rock.

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  5. Eu acho que o haterismo tá diretamente ligado a carência, a melhor forma de chamar atenção é sendo grosseiro e estúpido

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