Review: Body Count – Carnivore (2020)


O norte-americano Ice-T é uma lenda viva do rap, e como se isso já não fosse o suficiente, não é de hoje que seu nome também possui uma reputação considerável no meio do metal. Com a intenção de unir o que mais lhe agradava entre esses dois mundos musicais, ele fundou no início dos anos 1990 a banda Body Count com seu antigo colega de escola, o guitarrista Ernie C. Após algum tempo fora de cena desde meados dos anos 2000 o grupo retornou em grande estilo com o álbum Manslaughter em 2014 – um registro que não apenas mostrava a banda em plena forma depois de todos esses anos como também realçava qualidades do seu próprio som, apresentando o acréscimo de peso e velocidade extras quanto a parte do metal (agora mais próximo do thrash e do hardcore do que antes) e uma ênfase mais direta pelo lado do rap, além de participações especiais da cena metálica em algumas canções. Esta fórmula se mostrou muito bem sucedida e serviu de base para o seu aclamado sucessor Bloodlust (de 2017) e agora para o álbum mais recente, Carnivore, lançado em março de 2020.

Dizem que “em time que está ganhando não se mexe”, e embora essa possa ser uma impressão superficial quanto ao que é apresentado no álbum, o Body Count mostra que mesmo dentro do que se propõe a fazer ainda consegue aperfeiçoar um pouco o seu próprio som, e mostra-se ainda mais voltado para o seu lado metal desta vez. Logo de cara, vemos uma capa assinada pelo polonês Zbigniew M. Bielak (responsável pelas artes de bandas como Ghost, Mayhem, Dimmu Borgir, Paradise Lost, entre outras) enquanto a produção ficou a cargo de Will Putney – mais conhecido pelo seu trabalho como guitarrista no grupo de deathcore norte-americano Fit for Na Autopsy.

O lado thrash da banda está mais evidente do que nunca e dá o tom em canções como os destaques “Bum-Rush” e “The Hate is Real”, além de fornecer uma certa influência de Slayer (que permeia quase todas as faixas em maior ou menor grau) e se mostra bem perceptível em “Thee Critical Breakdown”, por exemplo. Diminuindo um pouco o ritmo – mas preservando o peso – e apresentando uma abordagem mais cadenciada, temos a faixa-título e “No Remorse”, e mantendo a tradição do grupo de fazer covers de artistas que influenciaram o seu som desta vez a escolhida foi a clássica “Ace of Spades”, do Motörhead, que chama a atenção pela excelente execução e mostra-se muito bem encaixada no trabalho.

Os convidados especiais dão as caras em faixas que representam alguns momentos distintos no álbum: a violenta “Point the Finger” com a participação de Riley Gale (do Power Trip); a surpreendentemente melódica “When I’m Gone”, cortesia da inusitada presença de Amy Lee (do Evanescence); “Colors”, um dos primeiros sucessos da carreira de Ice-T (e que já havia sido regravada pelo Machine Head ainda nos anos 1990) também ganha uma roupagem 100% voltada para o metal por aqui, contando com ninguém menos que Dave Lombardo (ex-Slayer) na bateria; e “Another Level” traz Jamey Jasta (do Hatebreed), que contribui com backing vocals durante o refrão.

Em Carnivore, Ice-T, Ernie C e companhia entregam o que provavelmente é o seu álbum mais forte (e pesado) até agora, mais uma vez reforçando tanto sua qualidade como sua relevância em tempos tão caóticos como os atuais fornecendo uma trilha sonora apropriada para estes dias, que embora tenha suas raízes nos anos 1990 se mostra perfeitamente atual.

Por Rodrigo Façanha


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