Livro: Iron Maiden – Uma Jornada Através da História, de Lauro Meller (2018, Editora Appris)


Contando com um historiador na formação (Bruce Dickinson) e um compositor interessado por temas que vão muito além dos dragões, arco-íris e fantasias comuns com ao heavy metal (Steve Harris), o Iron Maiden gravou durante sua carreira dezenas de canções que exploraram temas líricos não tão óbvios aos associado ao metal. Músicas inspiradas na história humana (e também em filmes, livros e séries) estão espalhadas pela discografia da banda, formando uma gama de assuntos ampla e que ajuda muito a abrir os horizontes de quem tem interesse pelo que os músicos estão falando.

Esse é o tema do livro Iron Maiden: Uma Jornada Através da História (124 páginas, Editora Appris), do escritor e pesquisador Lauro Meller. Meller se ateve, como o título antecipa, às canções do Maiden que trazem temas históricos, e após uma seleção prévia analisou dezoito faixas: “Quest for Fire”, “Powerslave”, “Alexander the Great”, “Invaders”, “Montsegur”, “The Clansman”, “Hallowed Be Thy Name”, “The Alchemist”, “Sun and Steel”, “Run to the Hills”, “The Trooper”, “Paschendale”, “Empire of the Clouds”, “Aces High”, “Tailgunner”, “The Longest Day”, “Como Estais Amigos” e “Afraid to Shoot Strangers”. Todas foram analisadas e trazem contextualizações históricas, curiosidades e dados que formam uma obra muito rica e informativa, além de interpretações de trechos das letras e da relação entre letras e músicas.

O resultado é uma obra que cobre um período que vai do surgimento do homo sapiens e a busca pelo domínio do fogo (“Quest for Fire”) até conflitos recentes como a Guerra do Golfo (“Afraid to Shoot Strangers"), passando por temas interessantíssimos como o Egito Antigo (“Powerslave), o poderoso Império Macedônico (“Alexander the Great”), as invasões nórdicas às Ilhas Britânicas (“Invaders”), as atrocidades cometidas pela Inquisição Católica (“Montsegur” e “Hallowed Be Thy Name”), a luta pela independência da Escócia (“The Clansman”), os mistérios da alquimia (“The Alchemist”), o lendário samurai japonês Miyamoto Musashi (“Sun and Steel”), o massacre dos índios norte-americanos pelos colonizadores ingleses (“Run to the Hills”), a Guerra da Criméia no século XIX entre a Rússia e uma coalizão liderada pela Inglaterra (“The Trooper”), a Primeira Guerra Mundial (“Paschendale”), a história trágica do dirigível R-101 (“Empire of the Clouds”), as batalhas aéreas da Segunda Guerra Mundial (“Aces High” e “Tailgunner”), o fatídico Dia D (“The Longest Day”) e a Guerra das Malvinas (“Como Estais Amigos”).

Meller possui um texto leve e fluído e que, apesar de utilizar alguns termos acadêmicos, é totalmente acessível ao leitor. Os capítulos são ágeis e compactos, o que torna a experiência de leitura bastante agradável. O grande destaque é o capítulo em que o autor analisa “Empire of the Clouds”, a música mais longa já gravada pelo Iron Maiden, e que ganha um ensaio que esmiúça com cuidado seus movimentos e dinâmicas, deixando claro o quão impressionante é essa verdadeira obra de arte composta por Bruce Dickinson.

Dos dezesseis álbuns lançados pelo Maiden, apenas cinco não tiveram nenhuma canção presente no livro: Iron Maiden (1980), Killers (1981), Seventh Son of a Seventh Son (1988), The X Factor (1995) e Brave New World (2000). E, entre presentes, os que mais contaram com músicas na obra foram The Number of the Beast (1982, com “Invaders”, “Hallowed Be Thy Name” e “Run to the Hills”) e Piece of Mind (1983, o disco preferido do autor, com “Quest for Fire”, “Sun and Steel” e “The Trooper”).

Merece menção também a introdução, onde Lauro Meller apresenta a carreira do Iron Maiden e analisa a discografia da banda, mostrando como o grupo inglês construiu a sua sequência principal de discos durante a década de 1980 e compara com outras sequências marcantes de nomes como Yes, Rolling Stones e Queen.

A edição em português está esgotada, mas recomendo que os interessados pela obra entrem em contato com o autor através de seu Instagram pessoal (clique aqui), já que ainda estão disponíveis alguns exemplares da edição em inglês. E fiquem de olho, porque Meller já está trabalhando em um segundo volume, onde focará em canções que trazem referências literárias e cinematográficas.

Um livro excelente e que mostra o quão rico é o universo do Iron Maiden, tanto musical quanto liricamente.


Comentários

  1. Gostei da matéria, mas deixar de fora Killers que tem uma musica sobre Genghis Khan, além de the The X Factor que traz uma musica sensacional sobre a idade média que é Sign of the Cross, além de Brave New World com a faixa título, na minha opinião foi uma mancada do autor, mas ok eu consegui entender a proposta que ele traçou de focar apenas em musicas diretamente ligadas a fatos históricos.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.