Review: Judas Priest – Painkiller (1990)


Painkiller
redefiniu o som do Judas Priest para a década de 1990. A banda vinha de dois discos controversos, Turbo (1986) e Ram It Down (1988), que dividiram os fãs e não foram bem aceitos pela crítica. Percebendo a necessidade de se reinventar, o quinteto inglês pisou fundo no peso e na agressividade e gravou um de seus trabalhos mais celebrados e marcantes.

Décimo-segundo álbum do grupo, Painkiller foi gravado entre janeiro e março de 1990 em dois estúdios – o Miraval, localizado na cidade francesa de Morrens, e o Wisseloord em Hilversum, na Holanda – e chegou às lojas em 3 de setembro daquele ano trazendo dez canções inéditas, todas compostas pelo trio Rob Halford, Glenn Tipton e K.K. Downing. O produtor Chris Tsangarides (Thin Lizzy, Helloween, Angra) foi responsável pela única exceção no tracklist, assinando com Halford, Tipton e Downing a autoria de “A Touch of Evil”.

Previsto para ser lançado inicialmente no primeiro semestre de 1990, Painkiller foi adiado para 3 de setembro devido ao processo que era movido contra o Judas Priest na época, com a banda sendo acusada de ser responsável pela morte de dois garotos que cometeram suicídio no estado norte-americano de Nevada em 12 de dezembro de 1985 após, supostamente, serem influenciados pelas canções do grupo. O julgamento começou em 16 de julho e o caso foi encerrado em 24 de agosto de 1990, com a banda sendo isentada da culpa.

Um ponto importante e que foi responsável direto pelo maior peso do álbum foi a entrada do baterista Scott Travis (ex-Thin Lizzy, Saints or Sinners e Racer X) no lugar de Dave Holland, que tocou em todos os clássicos do grupo nos anos 1980 e deixou a banda em 1989 por problemas de saúde e diferenças musicais. Outro músico bastante conhecido que tocou em Painkiller foi o tecladista Don Airey, atualmente no Deep Purple, e que possui no currículo passagens por nomes como Black Sabbath, Jethro Tull, Whitesnake e dezenas de bandas.

Painkiller foi celebrado pela crítica e pelos fãs, e apontado de imediato como o melhor álbum do Judas Priest em quase uma década, desde o clássico Defenders of the Faith (1984). E com justiça, uma vez que a coleção de faixas presentes no disco é realmente uma das mais fortes da carreira do Judas. A música título abre o trabalho com Travis mostrando a que veio em uma das introduções de bateria mais conhecidas do metal. Clássico instantâneo, “Painkiller”, a música, é uma das mais marcantes composições da carreira do Priest.

O nível se mantém nas alturas com “Hell Patrol” e “Metal Meltdown”. “Night Crawler” traz uma introdução densa que é seguida por linhas vocais inspiradas de Halford. Já “A Touch of Evil” se transformou no segundo maior clássico do álbum, com seu andamento cadenciado, e até mesmo um tanto marcial, levando multidões ao banging incontrolável nos shows. Uma das grandes músicas da história do Judas Priest, sem dúvida alguma.

O trabalho de Glenn Tipton e K.K. Downing merece destaque. Além dos fortes riffs, os solos são extremamente inspirados, repletos de melodia e muitas vezes se estendem por longos trechos, mostrando toda a técnica e harmonia de uma das mais celebradas, duradouras e icônicas duplas de guitarras do metal.

Um ponto discutível em Painkiller é a sua produção, exagerada e com timbres um tanto estranhos e artificiais, principalmente nas guitarras. Isso causou estranheza nos fãs e ainda é motivo de debates, e levou o álbum a ter uma sonoridade um tanto datada. Pessoalmente, sempre tive algumas ressalvas com o disco, e os motivos para isso sempre nasceram nos incômodos que a sua produção traz aos meus ouvidos. Porém, com a maturidade que o tempo traz, entendi que o álbum sobrevive praticamente ileso mesmo com os problemas que identifico na mixagem, e muito disso vem da força extraordinária de suas composições.

Apesar de celebrado, Painkiller não conseguiu evitar a ruptura interna da banda, com Rob Halford deixando o grupo em maio de 1992. Os motivos foram os crescentes conflitos com os demais integrantes e o desejo do vocalista de se aventurar em novas sonoridades, inspirado por bandas como o Pantera. Ele formou então o Fight, que explorou com maestria o thrash e o groove metal. Enquanto isso, o Judas Priest encontrou em Tim “Ripper” Owens o seu novo vocalista, vindo de uma banda tributo chamada British Steel. Owens gravou os álbuns Jugulator (1997) e Demolition (2001). Rob Halford retornou ao Judas em julho de 2003, e seu primeiro disco após a volta foi Angel of Retribution (2005).

Uma das grandes reinvenções musicais e um dos maiores discos da história do metal: esse é Painkiller.

Comentários

  1. Album fantástico! Lembro bem quando ouvi a primeira vez, não consegui parar de ouvir. Ouvi por muito tempo em minha adolescência. Com toda certeza esse é um dos maiores registros da história da música pesada. Um dos melhores da banda e da história do heavy metal. Painkiller é um album essencial para todo colecionador e fã do metal.

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  2. Na minha modesta opinião, o maior álbum de heavy metal de todos os tempos, simples assim.

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  3. Painkiller é para muitos o melhor disco de toda a história do Judas Priest, mas para mim só não supera a "trinca de ouro" formada na década de 80 por British Steel, Screaming for Vengeance e Defenders of the Faith. Ou seja: três grandes álbuns que valem mais do que um!

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