Os 30 anos de Fear of the Dark e minha relação com o álbum


A Metal Hammer celebra os trinta anos de Fear of the Dark em sua nova edição, e isso me fez pensar um pouco sobre o disco. Lançado em 11 de maio de 1992, o álbum foi o último trabalho de estúdio a contar com Bruce Dickinson até o retorno do vocalista em Brave New World (2000). Além disso, traz uma sonoridade claramente mais acessível e carregada de doses nada sutis de hard rock, refletindo a tendência da época. Fear of the Dark marcou também a despedida de Martin Birch da mesa de produção dos álbuns do Maiden, dando fim a uma relação que gerou oito discos de estúdio e dois ao vivo.

Não sei porque, mas sempre tive uma relação que não chega a ser conturbada, porém definitivamente é conflituosa, com o álbum. Olhando para trás, consigo identificar algumas possíveis razões. Conheci o Iron Maiden através do Rock in Rio de 1985 e comecei a acompanhar a banda a partir do ao vivo Live After Death (1985). Somewhere in Time (1986) foi o primeiro álbum de estúdio que vivenciei o lançamento, e lembro nitidamente das críticas negativas em relação à sonoridade mais suave e aos “teclados” (que não eram teclados, mas sim guitarras sintetizadas).

Musicalmente, reparei de imediato essa mudança na abordagem musical de Fear of the Dark, que trouxe não apenas a influência de hard em canções como “From Here to Eternity” e na balada “Wasting Love”, mas também a tentativa de soar alinhado com o som mais agressivo em voga no período em “Be Quick or Be Dead” (o mais próximo que o Iron Maiden já soou do thrash metal). A produção, ao mesmo tempo limpa e pesada, era claramente muito superior a do disco anterior – a controversa volta às origens entregue em No Prayer For the Dying (1990) -, porém inferior ao período mágico que deu ao mundo clássicos incríveis como Powerslave (1984) e Seventh Son of a Seventh Son (1988).

Um fator importante em todo esse processo é a ausência de Adrian Smith. O guitarrista deixou o Maiden em 1990 e retornou apenas em 1999, junto com Bruce. E Adrian é, na minha opinião, o melhor e mais refinado guitarrista da banda, mesmo com a classe inquestionável de Dave Murray. Soma-se sua ausência ao espírito mais hard rock e sujo de Janick Gers (que é um compositor espetacular mas possui uma pegada mais rock and roll que contrasta com a dupla Murray/Smith), e o resultado é um som mais direto e que ia ao encontro do que a banda buscava na época, ainda que não fosse exatamente o que eu queria ouvir naqueles tempos.

Mas, independente da minha reação, o fato é que Fear of the Dark foi muito bem recebido e se transformou em um dos álbuns mais populares do Iron Maiden, chegando ao primeiro lugar na Inglaterra e vendendo mais de 3,6 milhões de cópias em todo o mundo, sendo 240 mil apenas no Brasil.

Há pérolas no tracklist e elas vão muito além da poderosa faixa-título, o último grande clássico da banda e, talvez, a sua canção mais conhecida. A progressiva “Affraid to Shoot Strangers”, com vocais climáticos de Bruce e melodias arrepiantes de guitarra, é uma delas. “Childhood’s End” é uma das faixas mais criminalmente esquecidas pela banda, e seria muito legal vê-la incluída no setlist da tour Legacy of the Beast. O peso e o refinamento de “The Fugitive” merecem destaque, assim como a quase esquecida “Chains of Misery”, dona de um grudento refrão. E há ainda “Judas Be My Guide”, uma das mais fortes composições que o Maiden gravou durante a década de 1990 e que, assim como grande parte do álbum, nunca foi tocada ao vivo, apesar de ser uma das preferidas de todo fã que foi além das faixas óbvias e mergulhou fundo na discografia da banda.

Nas três décadas de vida de Fear of the Dark não só percebo as qualidades do disco como também deixo para trás todo e qualquer ranço que um dia tive com o álbum. Ainda que esteja longe de ser uma obra-prima, é inegavelmente um trabalho sólido e que traz o Iron Maiden experimentando de forma inédita com o hard rock, algo que a banda retomaria apenas de forma sutil no futuro.

Resumindo: não tenho mais medo do escuro. E caso você algum dia também teve, já passou da hora de deixar isso pra trás.

Comentários

  1. “Be Quick or Be Dead”, “The Fugitive” e “Judas Be My Guide” são os pontos altos do Maiden no Fear, pena que cometem o crime de simplesmente não tocam quase nada do álbum com exceção da musica titulo.

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