Matt Heavy, líder do Trivium, já havia revisitado suas raízes nipônicas – filho de mãe japonesa e pai norte-americano, ele nasceu em Iwakuni, no Japão, em 1986 – no quarto álbum da banda, Shogun (2008). Agora, retorna a um universo semelhante em Rashomon, disco de estreia do Ibaraki.
Essencialmente, o Ibaraki é um projeto de black metal progressivo que Heafy desenvolveu ao longo dos anos com a ajuda e participação de lendas do metal extremo como Ihsahn (Emperor) e Nergal (Behemoth), além do multitarefa Gerard Way (My Chemical Romance e autor da série de HQs The Umbrella Academy). Seus colegas de Trivium também batem ponto: o guitarrista Corey Beaulieu toca em diversas faixas, o baixista Paolo Gregoletto faz uma participação especial em “Kagutsuchi” e o baterista Alex Bent assume o instrumento em todo o álbum.
A música do Ibaraki alterna momentos de peso massacrante com passagens atmosféricas, com Heafy variando entre vocais guturais e limpos. Sonoramente, contrasta bastante com o Trivium atual, que conseguiu unir peso, violência e melodia de forma magistral em seus discos recentes. Todas as canções de Rashomon trazem títulos em japonês e são longas, variando entre cinco e mais de nove minutos. É uma epopeia sônica que se revela, em diversos aspectos, como a obra mais pessoal que Matt Heafy já deu ao mundo, com uma profundidade lírica, musical e artística nunca vista nos álbuns de sua banda principal.
Produzido pelas mãos habilidosas e experientes de Ihsahn, um dos músicos mais influentes e uma das maiores lendas da cena black metal norueguesa, e mixado por Jens Bogren, produtor sueco que assinou Quadra, do Sepultura, e Omni, do Angra, Rashomon é desafiador em alguns momentos, porém cativante em sua totalidade.
Lançado no Brasil pela Shinigami Records em uma edição em acrílico, o CD vem com encarte de dezesseis páginas e uma mídia picture muito bonita, que valorizam ainda mais a obra de Heafy.
Os fãs do Trivium poderão estranhar o mergulho do vocalista e guitarrista de sua banda favorita no universo do metal extremo, e Rashomon talvez não agrade uma parcela dos admiradores de discos como What the Dead Men Say (2020) e In the Court of the Dragon (2021). Mas o fato é que, explorando mais a fundo um aspecto que sempre esteve presente em sua musicalidade, Matt Heafy demonstra o quão amplo é o seu espectro artístico e deixa abertas muitas possibilidades para os anos que virão.
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