50 anos em 50 discos (e algumas palavras)


Na correria dos dias e na imensidão da vida, você muitas vezes nem percebe o tempo passar. E quando se dá conta, está fazendo 50 anos. Meio século. Uma data que não importava no passado, mas que agora faz pensar no futuro. Porque ela é simbólica, como todas as datas cheias, mas não só por isso. O que faz pensar, principalmente, é justamente esse meio século, essas cinco décadas, esses cinquenta anos. Tá, e daí? Fiz o que eu queria? Cheguei onde queria chegar? Vivi o que queria viver? Pensando bem, talvez a pergunta seja outra: onde eu queria estar, onde queria chegar e com quem eu gostaria de estar com essa idade?

Não sei a resposta. E, por mais que entenda que é absolutamente normal passar por fases de questionamento, ter dúvidas de si mesmo e até uma certa dose de síndrome do impostor quanto olhamos para trás, para os sonhos que deixamos pelo caminho e os confrontamos com o que somos hoje, esses sentimentos não podem nos impedir de viver.

Sabe onde estou hoje? Onde consegui chegar. Sabe quem sou hoje? O melhor que consegui ser. Essas cinco décadas de vida me transformaram em uma pessoa cheia de qualidades e repleta de defeitos, que olha no espelho e, ao confrontar seus cabelos brancos e sua barba espessa, vê um homem que ainda tem muito o que evoluir, crescer e aprender. Até porque sempre acreditei que, no momento que não pensasse mais assim, não faria mais sentido estar aqui.

E nesse tempo todo, o principal elemento da minha vida foi a música. Do primeiro contato no início da adolescência até o convívio diário e cada vez mais profundo dos anos recentes, a música é o combustível da minha vida. É ela que despeja doses enormes de endorfina nesse corpo marcado pelo tempo, em uma sensação que consigo sentir de forma clara e que transforma tudo ao redor. A música é a forma como eu, que sempre fui tímido e fechado, encontrei para me relacionar com o mundo. Ela já foi o escudo onde me escondi, as palavras que não consegui dizer e a emoção que não consegui transmitir. Hoje, ela é o caminho que pavimenta os dias, a companhia que nunca falta e a inspiração para não parar de evoluir.

O que eu fiz nesses cinquenta anos? O maior presente que ganhei e o maior que dei ao mundo foi o meu filho Matias. O ser humano iluminado e único que mudou minha vida, meus dias e tudo que importa, e cuja presença me completa tanto que me fez esquecer de como era a minha vida antes de sua chegada. Meu maior orgulho, minha maior alegria, a luz que ilumina o que sinto e que me mostrou a forma mais pura, profunda e verdadeira de amor. O amor que importa e que não tem igual.

Não sei como serão os próximos anos, e, acima de tudo, aprendi que é desnecessário idealizá-los. Mais importante que imaginar é viver um dia de cada vez, não deixando pra depois planos e iniciativas aparentemente simples e que possuem um significado enorme.

Tem uma frase que o André Takeda escreveu em seu livro O Clube dos Corações Solitários e que sempre me identifiquei: “A maturidade é uma fase, a adolescência é para sempre”. Eu a vejo assim: a maturidade me fez entender o que realmente é importante, e o frio na barriga da adolescência me faz perceber que a vida segue valendo a pena.

E já que a música é a fio condutor dessa minha passagem por aqui, abaixo estão os cinquenta discos que marcaram e transformaram a minha vida. A trilha sonora dos dias, das emoções, dos sorrisos e de tudo mais. Afinal, nada é mais verdadeiro que a percepção do Nietzsche: sem a música, a vida seria um erro.

Cometi minha dose de erros, mas esse certamente não foi um deles.

Abaixo, os 50 discos que marcaram os meus 50 anos:

The Dave Brubeck Quartet – Time Out (1959)

Miles Davis – Kind of Blue (1959)

The Beach Boys – Pet Sounds (1966)

The Beatles – Abbey Road (1969)

Frank Zappa – Hot Rats (1969)

Derek and The Dominos – Layla and Other Assorted Love Songs (1970)

David Bowie – Hunky Dory  (1971)

The Doors – L.A. Woman (1971)

Led Zeppelin – Led Zeppelin IV (1971)

The Rolling Stones – Sticky Fingers (1971)

The Who – Who’s Next (1971)

Yes – Fragile (1971)

Black Sabbath – Sabbath Bloody Sabbath (1973)

Led Zeppelin – Houses of the Holy (1973)

Lynyrd Skynyrd – (Pronounced 'Lĕh-'nérd 'Skin-'nérd) (1973)

Pink Floyd – The Dark Side of the Moon (1973)

Deep Purple – Stormbringer (1974)

Jorge Ben – A Tábua de Esmeralda (1974)

Led Zeppelin – Physical Graffiti (1975)

Pink Floyd – Wish You Were Here (1975)

Rush – 2112 (1976)

Thin Lizzy – Jailbreak (1976)

Fleetwood Mac – Rumours (1977)

Pink Floyd – Animals (1977)

Scorpions – Taken by Force (1977)

The Clash – London Calling (1979)

Pink Floyd – The Wall (1979)

AC/DC – Back in Black (1980)

Black Sabbath – Heaven and Hell (1980)

Judas Priest – British Steel (1980)

Michael Jackson – Thriller (1982)

AC/DC - ´74 Jailbreak (1984)

Bruce Springsteen – Born in the U.S.A. (1984)

Iron Maiden – Powerslave (1984)

Iron Maiden – Somewhere in Time (1986)

Metallica – Master of Puppets (1986)

Van Halen – 5150 (1986)

The Cult – Electric (1987)

Concrete Blonde – Bloodletting (1990)

Bruce Dickinson – The Chemical Wedding (1998)

Dream Theater – Scenes From a Memory (1999)

Almost Famous (2000)

Yann Tiersen – Le Fabuleux Destin d’Amélie Poulain (2001)

Wilco – Sky Blue Sky (2007)

The Black Keys – Brothers (2010)

Machine Head – Unto the Locust (2011)

Baroness – Yellow & Green (2012)

Blackberry Smoke – The Whippoorwill (2012)

Rival Sons – Feral Roots (2019)

Iron Maiden – Senjutsu (2021)


Comentários

  1. grande lista, parabéns por ela e pelos 50

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  2. Cara, quem não compartilha do nosso amor poderia achar esse texto a maior baboseira... No entanto, a mim me parece que você me biografou sem nunca mesmo me deitar os olhos... essa é a força da música, um conduíte entre todos nós que somos tocados por ela. Obrigado pelas palavras e pelo seu amor pela música transformado nesta página, meu amigo.

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