Alguém ainda lê?


Alguém ainda lê resenhas de discos? Esse era o título original deste texto, mas daí me dei conta de que as pessoas não apenas não lêem mais reviews, como grande parte da população simplesmente não lê. Nada e nunca.

Sobre as resenhas de discos, sei que sou obsoleto. Afinal, não apenas ainda leio as críticas dos títulos que me interessam, como também sigo escrevendo reviews. Foram eles que me despertaram o interesse pela crítica musical e são eles que me mantém incentivado a continuar produzindo conteúdo relacionado à música quando falamos de textos. Mas o alcance é pequeno, sei disso. Quase ninguém as lê, e isso é reflexo do tempo em que vivemos.

Para muitos, a crítica musical perdeu totalmente a sua relevância na era das redes sociais, onde a opinião de um amigo vale muito mais do que o raciocínio de quem se debruçou sobre um álbum e procurou entender o que o artista quis dizer com o seu novo – ou velho e clássico – lançamento. Vale mais uma opinião curta do que a busca pelo significado de uma obra. E tudo bem, a vida anda pra frente e é isso mesmo – ainda que, daqui a pouco, tenhamos que dar uns passos para trás e revisitar tudo isso.

O fato de as pessoas não lerem críticas de discos pode mexer com o ego de quem as escreve, como parece ser o caso aqui. Mas o mais preocupante é o fato de as pessoas simplesmente não lerem apenas críticas, mas praticamente nada. É claro que o conceito de jornal diário ficou para trás com o advento da internet, onde as notícias são publicadas na hora em que acontecem. Mas ver a minha mãe, do alto dos seus quase 78 anos, devorando todos os textos de um jornal todos os dias, confesso que é reconfortante.

É lendo que se aprende. É um clichê, mas é verdade – como todos os clichês, diga-se de passagem. É lendo que aprendemos sobre o mundo, sobre as pessoas, sobre nós mesmos. É lendo que nos tornamos pessoas mais completas e melhores, e o contato com outras formas de pensamento eternizadas nas páginas dos livros, sejam eles novos títulos ou obras com décadas de vida, é uma experiência que muitas pessoas estão se privando, ou pior: nunca sentiram.

É lendo, também, que aprendemos a nos expressar melhor através de nossos próprios textos, como estou fazendo agora mesmo, neste texto. E confesso que isso é fundamental para a forma como me relaciono com o mundo. Pouco importa se alguém vá ler isso, importante dizer.

Alguém ainda lê livros? Sei que sim. Não sou o último a manter esse hábito tão vital. Mas também não quero ser aquele que seguirá com a tocha erguida enquanto os outros deixam os livros para trás e apagam, um a um, a luz do conhecimento.


Comentários

  1. Ler é um hábito que aprendi com eu pai. E como gosto de rock leio muitas biografias, mas dentro do possível vou variando. Adoro meus livros. Atualmente leio um sobre segunda guerra. Vejo a internet como complemento, e gosto de variar as mídias.

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  2. O Collectors tem um leitor assíduo aqui, há mais de década. Já conheci muita coisa boa graças às suas páginas.

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  3. Leio muito também, deste física quântica, sobre II guerra mundial, review de disco, biografias, literatura técnica, gibis, enfim, gosto de ler.

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  4. Eu ainda leio, eu ate tenho o costume de imprimir e ler na cama, semana passada lendo outro site de musica descobri uma artista incrível lendo o review do seu álbum, o seu site e uma das minhas leituras diárias, parabéns!!!

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  5. Permita-me discordar um pouco da sua visão, sempre tão bem colocada em seus textos. Acredito que ainda há muita gente lendo reviews, logicamente menos que antes, porém, um bom número de leitores seguem sem se abalar.
    Minha observação é que muita coisa mudou, a leitura se tornou mais dinâmica e os textos agora prendem mais quando, intrinsicamente, coloca-se o leitor a interagir com ele.
    A prova disso é que nos teus últimos textos, contei dois ou três comentário, já nesse, este número aumentou. Ou seja, quando o texto instiga a participação e promove (ou provoca) o questionamento geralmente ele vai prender mais a atenção.
    Resumidamente o que quero dizer é que os reviews precisam também evoluir. Espero que entenda que não estou criticando a qualidade do teu texto, que é excelente diga-se de passagem, mas sim a forma como aborda.
    Grande abraço e seguirei por aqui, pois sou fã do seu trabalho!

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  6. Senti certa melancolia neste texto...Seelig, me parece que você não está muito contente com a quantidade de views do COLLECTORS ROOM. O momento de jogar a toalha se aproxima porque você se sente escrevendo para "ninguém"? Espero que não, do fundo do coração. Se o próprio produto disco hoje não tem o mínimo sentido para o mercado, não seriam as críticas desse produto que iriam significar alguma coisa!. As pessoas sempre leram pouco e esse papo de que "antigamente era diferente" é uma inverdade. Para todo lugar que vou sempre estou com um livro na mão e os olhares de estranhamento que recebo dizem muito sobre o "ser antiquado" que algumas pessoas devem imaginar que sou. O cerne da questão aqui é que você, sendo um crítico primordialmente do produto música, está inserido em um mercado em que este produto significa cada vez menos na vida das pessoas. Ou seja, você atua em um mercado de nicho e, se quiser continuar, terá de se contentar com os poucos gatos pingados, como eu, que teimosamente ainda leem o COLECTORS. Triste, mas verdadeiro! O que você precisa entender, até mesmo para não se culpar, e isso é muito importante aqui, afinal você não é culpado de nada, é que essa "baixa audiência" não tem relação nenhuma com a qualidade de seus textos e sim, bem ou mal, com o estado atual do mundo em que vivemos.

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  7. Eu sou o contrário. Aliás, passei a consumir menos o Collectors Room porque não tenho paciencia para os longos vídeos do youtube, prefiro sempre ler o site, é até mais rápido. Mas, talvez eu seja um velho de 29 anos.

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  8. É certo que, ao longo da história da humanidade, nunca tivemos uma época em que todos liam, ou mesmo que as pessoas liam mais - temos uma percepção, ao olharmos para trás e vermos os grandes, os clássicos, que todo mundo lia um Machado de Assis, que todos apreciavam as pinturas de Van Gogh, que multidões ouviam Mozart... E não é assim. Daí, tenho uma tese: a de que quem lê, em qualquer momento da história do mundo, são sempre as pessoas mais interessantes.

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